2008-09-19

Silêncio que diz tudo

Outro dia li o post da K. sobre o silêncio, em que ela no final coloca um poema do Pablo Neruda.

Os versos finais do poema, que foram os que eu mais gostei:
Gosto quando te calas porque estás como ausente.
Distante e triste como se tivesses morrido.
Uma palavra então e um sorriso bastam.
E estou alegre, alegre por não ter sido isso.

Depois de ler o post, fiquei pensando em como o silêncio pode dizer muito sobre duas pessoas.


Quando as duas pessoas estão se apaixonando, naquele começo de jogo da sedução, em que o flerte se nota pelo olhar cruzado, um sorriso arredio, meio escondido, quando tudo isso acontece, a gente nota que os sons são desnecessários. Aliás, nessas horas as palavras parecem mais atrapalhar a comunicação, quando a voz sai trêmula e a mente esquece as palavras que estão ali, na pontinha da língua.

E quando as duas pessoas já passaram dessa primeira fase, de encantamento, mas ainda continuam apaixonadas... Ah, o silêncio diz muito sobre essas pessoas. Quando nada mais é preciso para se comunicarem, quando o silêncio já diz quase tudo, quando a direção dos olhos indica o caminho, quando um sorriso diz "eu te amo", quando um movimento de ombros já questiona tudo sobre o outro, o silêncio é apenas ausência de som. Porque as palavras, as frases, os discursos, estão todos ali, mas não se ouvem.

Me lembro de uma cena do filme Cidade dos Anjos, em que a Meg Ryan pede ao seu atual namorado que fiquem alguns instantes em silêncio, apenas a se olharem. E vemos que não conseguem, que as palavras acabam sendo um subterfúgio, quando o silêncio é apenas vazio, e por mais clichê que isso soe, os corações não estão conectados.


Porque o silêncio também pode ser constrangedor. Quando estamos no meio de estranhos, num espaço confinado (que melhor exemplo que um elevador?), o silêncio também diz muita coisa. Que ali, estamos todos desconfortáveis, e que todos gostaríamos de sair daquela situação. Porque não nos conhecemos. Porque ali, não nos deixamos conhecer.

O silêncio também diz muito quando a paixão termina e o amor não nasceu. Imagine, tenho certeza de que já presenciou ou pelo menos viu num filme essa cena, um casal sentado a mesa, sem se falarem, sem se olharem, sem nem notarem a presença um do outro ali. Certamente não apenas num dia, mas em vários. Nesta cena, o silêncio grita, a plenos pulmões, o que cada um deles ali não quer ouvir: O que vocês estão fazendo aí? Vocês estão mortos. Separem-se, porque vocês estão vivos!

Não vou terminar este post com o que o silêncio tem de ruim a dizer. Vamos voltar ao silêncio dos apaixonados, que é muito melhor.

Porque apesar de tudo o que o silêncio diz sobre aquele casal de enamorados, existe algo que pode dizer ainda mais, como bem escreveu Neruda naqueles versos do começo do post. Depois do silêncio, 3 palavrinhas de nada, meras 7 letras: "eu te amo". E de preferência, seguidas pelo som de beijos, apaixonados, lascivos, amantes beijos.

3 comentários:

  1. ............................

    n_n

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  2. Acho que quando a gente tá apaixonada(o), o silêncio é tão necessário quanto a fala. Já me relacionei com alguém que não suportava o silêncio, e isso eu vi o quanto é ruim, sufocante, o quanto faz mal!
    Bem... belíssimo post! E... é, acabei voltando cedo pro blog!
    [Obrigada pelo comment!]

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