Podendo ser definido como o maior product placement (ou merchandising) da história, ou mesmo a mais cara propaganda institucional já feita, o filme Os Estagiários (ou The Internship no original) realmente enaltece o Google, ou melhor, a sua imagem que o marketing nos passa. Mas além disso, Os Estagiários é também uma boa comédia. Ou, pelo menos, uma boa comédia geek/nerd.
Os Estagiários nos traz a dupla de atores/comediantes Vince Vaughn e Owen Wilson como Billy McMahon e Nick Campbell, respectivamente. Billy e Nick são dois vendedores, muito bons de papo, mas que passam longe da era digital (ou pós-digital como dizem alguns) em que vivemos. E o que eles vendem é um bom exemplo disso: relógios analógicos, num mundo em que (quase) todo mundo usa o celular para ver as horas. Quando a empresa em que trabalham fecha e os dois se vêem sem perspectivas de futuro, Billy, após ter a ideia de pesquisar (googlar) o próprio Google, descobre que esta é uma das melhores empresas para se trabalhar e tem a ideia: por que não tentar um cargo ali? Sendo uma das melhores empresas para se trabalhar, a disputa de vagas é acirradíssima, e a maneira que eles encontram é através do programa de estágios de verão. Neste programa, a dupla se juntará com outros estagiários em um grupo, para concorrer a uma vaga permanente de trabalho no final do programa.
A partir daí, temos um filme formulaico e cheio de clichês, do grupo de desajustados que se unem, que a princípio não vão um com a cara do outro, mas depois formam uma verdadeira equipe com amizade entre eles, que individualmente crescem e resolvem seus problemas, que têm que enfrentar um time rival com um líder escroto, e que no final triunfarão sobre todas as adversidades, conseguindo o objetivo. Spoiler? Não, clichê puro.
Entretanto, apesar desse enorme problema, Os Estagiários consegue ficar no saldo positivo. Isso porque algumas piadas funcionam realmente muito bem, mesmo que a sua essência explore um clichê. Por exemplo, quando o grupo se reúne para o primeiro desafio e Nick e Billy são enviados para encontrar um certo professor, as cenas são hilárias. Elas exploram o clichê da dupla de vendedores quarentões que não entende nada mais "descolado", mas o resultado é muito engraçado, além de fornecer referências culturais/pop bem bacanas. Referências, aliás, que permeiam todo o filme, desde algumas mais antigas (as de Flashdance chegam a cansar no final), até assuntos pop como Game of Thrones e Harry Potter (com uma partida muito tosca, mas divertida, de quadribol).
Muitas das referências e piadas, todavia, podem passar despercebidas, especialmente quando o assunto é mais nerd ou geek. A cena da entrevista de emprego via hangout é um exemplo disso. Admito que me senti solitário ao dar risada sozinho no cinema quando Billy diz que conhece C+ e só colocara o outro + no seu currículo por achar aquilo muito positivo, ou algo do gênero (C++ é uma linguagem de programação).
Os Estagiários também tem várias aparições de atores comediantes amigos da dupla de protagonistas, em pequenos papéis, como John Goodman, B.J. Novak e Will Ferrell. E falando em aparições, até mesmo Sergey Brin, um dos co-fundadores do Google, faz duas pequenas aparições no filme.
Com personagens clichê e unidimensionais (temos a garota nerd safada que na verdade nunca viveu nada e só sonha/imagina, o asiático pressionado pela mãe com sérios problemas freudianos, o garoto blasé que não tira os olhos do smartphone, o nerd tímido que gosta da mulher super gostosa, etc), Os Estagiários não oferece muita surpresa em termos dos arcos dramáticos dos personagens, sendo que a maioria dos problemas individuais se resolve numa ida agitada a uma boate (quem disse que álcool não resolve nada?). Até mesmo os personagens principais de Wilson e Vaughn não oferecem surpresa. De fato, eles parecem saídos diretamente dos outros filmes dos atores, sendo que a impressão é que estão ali se divertindo interpretando a si mesmos. Entretanto, a química entre os dois é boa o bastante para que isso seja o suficiente para algumas boas risadas.
E falando em personagens, não é possível deixar de falar de um: o próprio Google. Ou melhor, a sua imagem como empresa jovial e inovadora, que muda o mundo ajudando as pessoas. Se isso é ou não verdade (e eu não vou dizer que não, já que esse texto está justamente hospedado nos servidores do Google e eu não quero vê-lo apagado), não importa. No filme, é. E é uma de suas premissas básicas. E lembremos que mesmo se o googliness (ou googlicidade, não lembro como traduziram) não existe fora das telas, não estamos falando de um documentário, mas de uma comédia escrachada.
Destaque ainda para a linda Rose Byrne como uma executiva do Google que é interessante romântico do personagem de Owen. Apesar do pouco tempo dos dois juntos, rola uma boa química, com uma cena especialmente engraçada num jantar romântico.
Enfim, eu me diverti bastante com Os Estagiários. Mesmo que em seu esqueleto hajam os clichês e as fórmulas mais do que batidas, entre elas há boas piadas, garantia de boas risadas. E mesmo que a dupla de protagonistas esteja mais uma vez interpretando a si mesmos, o carisma deles compensa e faz rir.
Trailer:
Para saber mais: críticas negativas no Omelete e no Cinema em Cena e uma positiva no AdoroCinema.
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