2006-09-12

Memórias digitais

Lendo um artigo velho na bbc brasil (velho num sentido "internetês", já que não faz nem um ano - aqui), encontro tio Bill Gates falando sobre capacidade de guardar os seus (no sentido de nossos) trecos digitais online, de forma a formar uma "memória digital". Isso me fez pensar em algumas coisas...

Primeiramente, sobre memórias em geral. Além de nossas memórias guardadas (ou nem tanto assim) dentro da nossa mente, fazem parte das memórias de uma pessoa: fotografias envelhecidas, cartas escritas e recebidas, brinquedos quebrados e guardados, revistas amareladas, vidros de perfumes vazios que ainda retém a lembrança do cheiro, e outras tranqueiras pessoais, que cada um de nós vai acumulando ao longo da vida.

Do ponto de vista digital, a maior parte dessas "memórias", ou o que eu prefiro chamar de manifestações ou extensões físicas dessas memórias (já que memórias só existem dentro de uma pessoa), é formada por e-mails, posts em blogs ou fóruns, fotos e videos digitais (não pra mim, já que eu não tenho nem máquina fotográfica normal, muito menos digital).

Bem, o ponto central é a transietoriedade e efemeridade da vida, que ninguém gosta de lembrar. Todas essas tranqueiras, numa linha temporal mais longa, vão simplesmente virar pó. Literalmente. Aliás, como toda a civilização, como todo o sistema solar, inclusive.

Ok, não vamos tão longe no futuro assim. Fiquemos numa escala de tempo mais "humana". Por acaso você tem alguma coisa do seu bisavô? Ou do avô dele? Aposto que não. Se muito, alguma jóia de família, estilo filme americano. Se bem que isso, nos moldes brazucas, é meio difícil de acontecer... Bem, jóias ou coisas do gênero ainda têm valor intrínseco alto. E aquelas coisas que só têm valor sentimental? Pra onde vão? Com o passar das gerações, pro lixo. Se alguma dessas peças tiver muita sorte, pro museu. Mas o destino da maioria é mesmo o limbo.

E nossas "memórias digitais"? Será que seguirão o mesmo destino das nossas "tranqueirinhas"? Ninguém sabe, já que esse modelo é um tanto quanto diferente, apesar de possuir similaridades com as nossas "memórias físicas" (as coisas que a gente guarda).

Vejamos, nossas "memórias digitais", apesar de digitais, ainda precisam de um meio físico para existirem (o seu disco rígido, um cd, etc...). Nesse aspecto, não diferem do baú da vovó, onde descansam poeira e fotos envelhecidas. Entretanto, por serem digitais, têm uma característica que, eu particularmente, considero sensacional: a capacidade de multiplicação, clonagem mesmo. Afinal, é muito fácil passar arquivos de uma mídia para outra. Além disso, temos a Internet hoje em dia. Nossos arquivos podem se libertar da tirania local do disco rígido e trafegar (sem controle, diga-se de passagem) por muitos locais.

O que essas tecnologias afetam nas nossas memórias? No nosso legado? Porque, no fim das contas, ao guardar coisas, colecionar memórias, tentamos deixar impresso no mundo, uma parte de nós, que indubitavelmente vai pra outro lugar (dependendo do que você acredite).
Pessoas morrem, mas seus profiles permanecem em sites de relacionamento (no orkut tem mais gente morta do que o menino do sexto sentido viu em sua vida :P). Fotos, opiniões em fóruns, tudo fica por aí... Será que isso significa que uma parte da pessoa permanece "viva"? Pode ser, mas não se animem, porque não é por muito tempo.

Assim como uma "jóia de família" um dia vai pro prego, ou passa pra outra família (até porque o conceito de família é muito elástico), o seu profile um dia vai ser apagado, suas fotos, emails, etc., idem. Essas coisas só se mantêm quando alguém toma conta delas, o que no caso dos mortos, no máximo se estende até a geração dos netos, excepcionalmente bisnetos. E se ninguém toma conta delas, não vão ser os donos dos servidores que abrigam os sites que vão cuidar.

Afinal, se pra um usuário do orkut, por exemplo, é tudo de graça, não é de graça pro google. Ou do youtube, pra guardar os seus videozinhos. Aliás, a grana que esse povo do youtube gasta em banda, não é brincadeira.

Concluindo esse texto enorme, não vou concluir nada. Conclusão é bom em redação, teses, etc. Como esse texto é mais um devaneio meu, fica inconcluso mesmo.

2006-09-06

Passado

As vezes parece tão distante, outras vezes, parece ao alcance das mãos. Esse tempo distante, que é trazido de volta pelas nossa memórias, que prega peças, e faz com que anos se pareçam minutos, quando se trata de determinadas lembranças...

As vezes saudosista, outras tantas, reavaliando os passos para ver onde estamos agora, o passado já se fora na realidade, no tear do mundo, mas permanece vivo dentro de cada um, dentro de cada história. O passado de cada um não é passado dentro das lembranças; permanece vivo, mutável, vívido, paradoxalmente presente, enquanto ali estiver. E queira deus ou no que acreditarmos, que não nos esqueçamos dele.

Pois podemos assassinar o passado, simplesmente esquencendo-o. Então, perdemos até mesmo a base para onde estamos: sem passado, não há presente; sem presente, o futuro não importa.

E isso tudo começou com uma reflexão boba sobre as eleições deste ano de 2006. Mentalmente, fiz uma retrospectiva para as duas eleições passadas, o que me levou para o ano de 1998. Mesmo não querendo, a memória e as lembranças se tornam mais nebulosas, mas este ano, em particular, com todas as suas alegrias e tristezas (mesmo sendo muitas), quero que permaneça vivo em mim.

Não vivo de lembranças, não me prendo ao passado. Mas ele faz parte de mim, fez parte da minha construção. E por isso, mantenho-o vivo, mesmo que somente nas lembranças.