Eu estava navegando em uns sites em inglês, quando o título desta matéria me chamou a atenção: "I fell in love with a female assassin", ou em português, "Eu me apaixonei por uma assassina". Dei uma lida rápida por cima, vi as fotos que acompanhavam a matéria, e não sei porquê, mas logo me vi envolvido na história. Não consegui parar de ler a matéria até o final, e olhe que é um artigo razoavelmente longo.
Admito que me identifiquei com o repórter, não sei porque cargas d´água, já que não temos absolutamente NADA em comum. Mas lendo a sua história, não pude de deixar de sentir uma certa nostalgia, saudade, sei lá, como se já tivesse visto esta história antes, de perto... Ah, vai saber.
Procurei por referências em português, mas só o que consegui foi o post Amores Estranhos, do blog Misquilinas, variadas até demais, em que o autor faz um pequeno resumo desta história e de outra.
Então, resolvi traduzir a matéria, que já adianto, é bem longa. E se você souber inglês, aconselho a ler a matéria original (no link do primeiro parágrafo), já que eu não sou tradutor, e sempre se perde alguma coisa na tradução.
Então, aqui vai:
Me apaixonei por uma assassina
por James P. Howe
Chega um ponto em todo relacionamento quando sua namorada quer compartilhar um segredo. Geralmente tem a ver com sexo - quantos outros parceiros ela teve (alguns convenientemente esquecidos) - esse tipo de coisa. Quase sempre, o segredo muda a base do relacionamento; honestidade vem com consequências. Mas o que acontece se a sua nova namorada tem um segredo bem mais obscuro e sinistro do que ter dormido por aí demais?
(Jason e sua namorada Marylin)
Sentado nú, na beira da cama, em um quarto de hotel barato, no coração de uma região dilacerada pela guerra e produtora de droga na Colômbia, eu acendo um cigarro e escuto, enquanto a garota com quem acabei de fazer amor me conta um segredo escuro o suficiente pra abalar qualquer um naquela felicidade de pós-coito.
Eu estive na Colômbia por alguns meses para aprender como me tornar um fotojornalista. Não frequentando algum curso universitário teórico, ou tirando retratos num estúdio aconchegante, mas me entrincheirando fundo, até o fim.
Tempos de paz têm sido raros na história desse país. Por mais ou menos 40 anos, um grupo rebelde de inspiração Marxista, conhecido como FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), têm estado em guerra contra o governo, financiando seu exército crescente através de sequestros e extorsões, e taxando o comércio ilegal de cocaína. Esquadrões de direita, conhecidos como "forças de auto defesa", têm surgido como uma resposta aos sequestros pela FARC de ricos donos de terra e senhores de drogas. Sob as asas de uma organização chamada AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), essas milícias privadas, ou paramilitares (conhecidas localmente como "paras"), são secretamente financiadas por aqueles em altas posições no governo e exército, que os apoiam em sua guerra suja contra os rebeldes das FARC.
Este conflito triangular tem exigido, e continua a exigir, um pesado preço sobre o povo colombiano. Durante as quatro décadas passadas, mais de 200 mil perderam suas vidas, e mais de 3 milhões foram forçadas de seus lares pela violência e intimidação. Esta semana, devido a uma incursão de forças governamentais para matar rebeldes da FARC no Equador, o conflito foi o centro de uma crise diplomática envolvendo ambas nações, em conjunto com Hugo Chavez, da Venezuela.
Diminuir toda a brutalidade a uma simples guerra contra as drogas é uma injustiça brutal contra o povo colombiano. As raízes estão enterradas na desigualdade econômica e social que permeia o país, uma enorme classe trabalhadora vivendo na pobreza, enchendo os bolsos de uma pequena e abastada classe superior que é dona de mais de 90% da terra, indústria e negócios. Meu objetivo, portanto, era conhecer e fotografar membros de cada um dos grupos envolvidos, e tentar explicar esse conflito de 40 anos na América Latina.
Eu comecei viajando para a parte do país com uma forte presença das FARC, e após muita perseverança, persuadi os rebeldes a me deixarem viver em um de seus acampamentos. Depois de documentar suas vidas diárias, e de estar ao lado deles em um conflito armado contra as tropas do governo, decidi que era hora de partir e procurar seus inimigos jurados, os paras.
Fui em direção a Putumayo, um dos centros do narcotráfico e cenário de seguidas batalhas entre FARC e paras, no sul da Colômbia, perto da fronteira com o Equador. Foram uns dois dias viajando num ônibus local até chegar a capital, Puerto Assis.
Na viagem, eu comecei a conversar com uma colega passageira, uma bela garota colombiana chamada Marylin, que me disse estar retornando de uma viagem para comprar roupas em uma das cidades grandes. Eu expliquei o meu propósito na visita à região, e Marylin me disse que tinha amigos em ambos grupos, paramilitares e militares, e poderia ajudar. Ela me convidou para ficar com a família dela, que tinha uma loja de beira de estrada e um bar, na periferia da cidade. Eu estava atraído pela Marylin, mas não tinha idéia do quão próximos iríamos ficar, e como nosso futuro se revelaria.
Eu passei as semanas seguintes morando com a família dela, fazendo viagens para o campo para fotografar os campos de coca e conhecer paramilitares. Marylin e eu passamos longas tardes deitados juntos numa rede. Segurávamos as mãos e nos beijávamos ocasionalmente, mas nada mais. Eventualmente, meu tempo e fundos acabaram, e eu tive que retornar a Inglaterra. Enquanto me despedia, eu jurava fazer de tudo para retornar, e Marylin me dizia que eu era agora "parte da família".
(Marylin posando para Jason, na casa dela, em Puerto Assis)
Seis meses depois, eu estava de volta, determinado a explorar inteiramente este conflito, aprender tudo o que pudesse e talvez publicar um livro. Eu segui para Puerto Assis com a intenção de passar um tempo com Marylin e sua família. Mas eu tive algumas surpresas: Marylin me disse que havia se juntado a AUC e que esteve ativa em combate em um vilarejo perto de El Tigre. Uma amiga dela, que estava junto na luta, foi morta, junto com outros 25 combatentes paramilitares e ao menos 15 rebeldes. Quando o combate parou, toda a população do vilarejo fugira. O irmão de Marylin agora trabalhava em uma plantação de coca e carregava uma pistola que ele deixava embaixo do travesseiro ao dormir. Eu não achei isso particularmente chocante. Este era, apesar de tudo, um país estilhaçado por todo o tipo de violência. Apenas sorte, ou falta dela, ditava de que lado você estaria.
Meses se passaram. Eu viajei por todo o país desenvolvendo o meu projeto. Os resultados receberam atenção positiva, incluindo um prêmio em uma competição internacional, e fora sugerido que eu fosse para o Iraque documentar a guerra lá. E assim eu fui. Mas, depois de seis meses vivendo diariamente com carros bomba e ataques de mísseis em Bagdá, eu estava ansioso para retornar a Colômbia.
Um ano após nosso primeiro encontro, eu chegava de volta a casa de Marylin num velho táxi. Eu sentei e bebi uma cerveja gelada com o pai dela enquanto esperava ela retornar de uma "missão". Eu então andava de mãos dadas com ela e sua filha de quatro anos, Natalie, da velha pista de cart até o rio que ficava atrás de sua casa. Com a filha dela brincando, nós caminhamos, em direção ao fundo da água refrescante. Eu senti que havia uma mudança na atmosfera, mas não conseguia dizer claramente o que eu estava sentindo.
Eu perguntei a Marylin se as coisas seriam diferentes entre nós se eu ficasse em um hotel na cidade, ao invés da casa de sua família. Ela concordou que isso faria as coisas ficarem mais fáceis para nós podermos ficar juntos, então eu consegui um quarto. Aquela noite, ela veio para o jantar. Nós comemos na varanda, e enquanto dividíamos uma garrafa de vinho e ouvíamos o coro dos insetos, eu comecei a pensar que todo aquele ano de preparativos finalmente iria se pagar. Marylin passou a noite.
Puerto Assis, a cidade natal de Marylin, se situa um ou dois graus acima do equador. Ar condicionado era um extra caro, e eu estava duro. O pequeno quarto de hotel estava abafado, e enquanto nós estávamos deitados em concha sobre os lençóis molhads de suór, com os gritos de vendedores de rua e o barulho do tráfego matinal começando a passar pela janela da varanda, Marylin disse que tinha algo pra me dizer.
Ela então me atingiu com a confissão que iria me assustar e confundir. Ela explicou que nos meses em que estive no Iraque, o papel dela junto a AUC havia mudado; ela havia se juntado a milícia urbana e se tornou uma assassina. O trabalho dela era eliminar informantes e traidores. Até o momento, ela me disse, ela havia matado pelo menos 10 pessoas na área. Eu acendi um cigarro e inalei a fumaça profundamente; Marylin olhava pra mim por entre a fumaça enquanto eu aspirava, esperando pra ver como eu reagiria ao que ela havia acabado de me contar.
(Marylin limpa a sua arma enquanto membros da família observam.)
Estranhamente, a confissão dela não teve o impacto que alguém esperaria; eu não me recolhi com horror. Os meses que eu havia passado na Colômbia e no Iraque cercado de violência, alteraram a minha perspectiva. Eu não acho que fiquei imune a morte ou ao sofrimento, mas certamente eu havia ficado menos vulnerável ao choque. A diferença entre vítima e agressor, rebelde e refugiado, muitas vezes pareceu apenas uma questão de perspectiva.
Eu sempre apreciei a companhia dos "fazedores", os rebeldes e soldados que arriscavam as vidas por causas que, eu suponho, eles acreditavam. Apesar de depois eu me sentir muito diferente, minha reação inicial as palavras de Marylin foram de aceitação, quase chegando na fronteira da aprovação. Eu acho que como amantes de zona de guerra, eu achava ela bastane "legal".
No começo, as visitas dela ao meu quarto de hotel - geralmente armada com uma pistola - não me pertubavam muito. No começo eu acho que as implicações reais do que Marylin fazia, eram filtradas pela neblina do surreal. Eu era jovem e estava vivendo uma grande aventura. Isto era certamente o mais próximo que eu iria chegar de alguém que estava real e totalmente envolvida e imersa neste conflito. A mulher com quem eu recentemente havia começado a dormir junto, era uma assassina contratada e havia uma arma na mesa ao lado da cama.
Vendo ela tirar a pistola de seu cinto, desabotoar seu jeans e deitar na cama, eu de alguma maneira não conseguia equacionar a mulher em meus braços com os corpos que eu havia visto no necrotério local, as cabeças despedaçadas por tiros a curta distância, assassinatos que ela confessou que havia cometido. Com a combinação do clima tropical, rum local, cocaína classe A e os braços de uma jovem nua de 22 anos, fantasia e realidade se tornaram desfocadas. Eu me sentia como se vivesse num filme de Quentin Tarantino.
(Marylin com o pai dela, na casa da família.)
Uma manhã, Marylin me contou que na noite anterior ela havia convencido uma amiga a ajudá-la a decapitar e desmembrar uma mulher que ela fora contratada para matar. Ela não era uma informante, ao invés disso, uma amiga dela pagou-lhe dinheiro para matar a outra namorada do namorado. Ela descreveu tudo o que aconteceu tão graficamente, com tão pouco sentimento, que a realidade finalmente bateu. Eu percebi meus sentimentos por ela mudando. A luz romântica começou a se apagar rapidamente. Ela não mais parecia uma parte legítima de um conflito civil, mas havia evoluído para uma assassina freelancer, tirando vidas por dinheiro - literalmente.
Apesar de eu ainda achá-la sexualmente atraente e querer estar com ela, alguma coisa estava ricocheteando dentro da minha cabeça. Alguns pensamentos que deveriam ter ocorrido a qualquer outra pessoa bem mais cedo, agora, estavam enfim passando pelo filtro até mim.
Durante o ano anterior, eu havia fotografado ela nadando no rio com a filha dela, lendo histórias de ninar. Agora, as imagens que eu estava gravando se concentravam quase que inteiramente no outro lado da vida dela. Eu estava, com pensamentos de auto-preservação na mente, reduzindo ela a um "assunto".
Eu perguntei a Marylin se ela estava preparada para me deixar entrevistá-la sobre a sua vida e sobre em que ela se envolvera. Vestindo uma máscara de ski e empunhando uma pistola, ela me permitiu gravar em vídeo a nossa conversa.
Eu comecei perguntando a ela como ela começou a se envolver com os paramilitares e por que ela decidiu se juntar a eles. Como ela fora convencida a matar a primeira vítima dela, e como ela se sentiu sobre isso. Ela começou hesitante, mas ganhava confiança com o passar da história.
"Quando eu matei a primeira pessoa, eu estava com medo, estava assustada. Eu matei a primeira pessoa só pra ver se eu conseguiria. Mas existe uma obrigação em matar. Se você não o faz, eles te matam. É por isso que o primeiro foi muito difícil, porque a pessoa que eu matei estava ajoelhada implorando, chorando e dizendo 'Não me mate. Eu tenho filhos.' É por isso que foi difícil e triste. Mas se você não mata aquela pessoa, outra pessoa da AUC vai te matar. Depois de matar, você continua tremendo. Você não consegue comer ou falar com ninguém. Eu estava em casa, mas eu continuava imaginando a pessoa implorando pra não ser morta. Eu me fechei, mas com o tempo eu esqueci tudo. Os superiores sempre dizem 'Não se preocupe, essa foi apenas a primeira vez. Quando você matar uma segunda vez, vai ficar tudo OK'. Mas você continua tremendo.
A segunda vez é só um pouco mais fácil, mas como eles dizem, 'Se você consegue matar um, consegue matar muitos mais.'
Você tem que perder o medo. Agora eu continuo matando e nada acontece. Eu me sinto normal. Antes, eu tinha obrigação de matar, eu era enviada para matar. Mas uma vez que eu deixei a organização, eu não era mais obrigada. Agora eu apenas faço o trabalho por dinheiro.
Sim [eu matei um de meus amigos], porque eles iam me matar. Eles me disseram para tomar cuidado porque eles trabalhavam para o outro lado e tinham conexões com as guerrilhas. Então era a minha vida ou a deles. Eu então pedi permissão para fazer isso, o que foi me dada [pela AUC]. [A AUC] investigou e descobriu que era verdade que [meus amigos] trabalhavam para as guerrilhas, então eu os matei. Foi muito doloroso para mim. Eu fui ao enterro e ao velório. Me machucou ver a mãe dele chorando, sabendo que eu era a culpada de ter causado aquilo. Mas é a sua vida e você é ensinado na escola [da AUC]: Primeiro você, depois os outros. No total, eu matei 23 pessoas."
Uma incrível tristeza se abateu sobre mim, enquanto eu ouvia esta inteligente jovem mulher, com quem eu havia me tornado tão próximo, falando sobre a vida dela. Marylin era uma vítima extrema da circunstância. Seu tédio e busca por excitação a levou entrar em contato com os paramilitares, que fizeram lavagem cerebral nela e a deixaram sem respeito pela vida humana. Nem pela vida dela, nem mesmo a da sua família.
Mas as desculpas dela, ou a falta delas, me irritaram e eu disse a ela que ela representava tudo aquilo que estava errado com o país. Da minha privilegiada e em última instância desqualificada posição como um estrangeiro, Eu achei que era impossível me identificar com ela, apenas ficar bravo, triste e fazer julgamentos.
Reduzí-la a um "assunto" não havia funcionado, eu parecia não conseguir me distanciar e ser objetivo, ou deixar meus sentimentos de lado. Eu havia passado muito além deste ponto. Enquanto em um nível eu gostava da intensidade do que eu estava experimentando, havia um preço a se pagar por ir tão fundo, e era um preço alto. Eu me dei conta de que as coisas que havia visto e ouvido nos últimos meses eram incríveis. Através deles, minha paixão pela Colômbia cresceu e meu compreendimento do que estava acontecendo neste país tão mal entendido se alargou. Mas eu sentia que tinha perdido alguma coisa, e que tinha sido machucado por eles, também.
Eu retornei ao Iraque e então me mudei para cobrir a guerra no Afeganistão. Durante o período de um ano, Marylin e eu trocávamos emails periodicamente. Eles geralmente eram sobre ela me perguntando aonde eu estava, e pedindo para não me esquecer dela. Ela me disse que as coisas que eu havia dito a ela depois da entrevista tiveram um grande impacto sobre ela. Ninguém havia falado com ela daquele jeito, realmente questionado sobre o que ela estava fazendo com a sua vida. Ela me contou que queria construir um novo começo, mas ela sabia que a AUC não deixava os membros partirem, pelo menos não vivos.
Depois de um longo período de silêncio, eu comecei a temer que algo tivesse acontecido. Então eu decidi que iria voltar a Puerto Assis para saber a verdade.
Eu levei algum tempo até reunir coragem suficiente para dirigir até a casa dela, para ver se ela e a sua família ainda estavam por lá. Eu imaginava que talvez ela tenha se livrado de tudo e começado a viver uma nova vida, ou se, mais provavelmente, o seu passado viera acertar contas. Dado as coisas terríveis que eu já sabia que ela estava envolvida, de certa maneira eu estava preparado para más notícias. Eu não estava preparado para a confusão que foi ouvir sobre tudo aquilo.
A família dela mostrou a surpresa normal ao me verem parado na porta da frente. Todos os meus medos se confirmaram quando o pai dela, com lágrimas nos olhos, me disse que Marylin estava morta. Ela tinha 25 anos e 2 meses quando fora raptada de casa e apedrejada até a morte. Seus sequestradores esmagaram a cabeça dela com rochas e então atiraram nela.
(Mãe de Marylin, e a filha dela, Natalie, visitam a tumba de Marylin.)
A manhã seguinte, a filha dela, agora com 6 anos de idade, acordou como órfã. Os pais de Marylin haviam perdido a terceira filha e o irmão dela, abalado com o luto, não conseguia andar, falar ou mesmo se alimentar. Marylin não fora morta por algum habitante local procurando vingança pelas muitas mortes que ocorreram pelas mãos delas durante o tempo dela como assassina. Ela fora assassinada pelo próprio grupo, num apedrejamento simbólico por ser um "sapo", como são chamados os informantes na Colômbia.
O namorado mais recente dela era um soldado do governo, conveniente o suficiente quando os paramilitares e os militares estavam trabalhando lado a lado na sua guerra pelo controle dos campos de coca de Putumayo das FARC, mas o suficiente para matá-la quando o relacionamento azedara e a conversa de travesseiro continuou.
A morte de Marylin teve um significado especial pra mim, porque eu também havia compartilhado um pouco daquela conversa de travesseiro. Nós fomos amigos e então amantes. Nossas vidas nunca tiveram muito em comum, exceto que a pequena guerra suja colombiana havia pego a ambos. Eu achei difícil falar; eu na verdade não estava certo do que estava sentindo.
Estava eu sentindo pena daquela jovem mulher, que havia deliberadamente tirado a vida de outros seres humanos, tendo recebido a mesma justiça de rua que ela fora responsável por dar? Estava eu revivendo as conversas que tivéramos sobre ela mudar de vida e os emails que eu recebi dela, me agradecendo e dizendo que ela precisava conversar mais sobre como ela poderia sair da confusão que havia se metido? Estava eu desejando ter feito mais para ajudá-la? Estava eu sentindo pena dos pais e da filha dela, que um dia iria querer uma explicação do porquê sua mão fora assassinada, e talvez, descobrir os horrores que aconteceram enquanto ela era um bebê? Estava eu lembrando como era beijá-la, naqueles dias antes de eu saber que ela era uma assassina? Estava eu tentando imaginar, ou talvez não imaginar, como ela ficara depois de ter a cabeça destruída com pedras e rochas?
Na verdade, eu estava pensando, sentindo e imaginando tudo isso. Ao mesmo tempo, entretanto, eu sabia que qualquer que fosse a dor que a família dela estivesse sentindo, ela causara a mesma dor a outros muitas vezes antes.
De volta ao meu quarto de hotel, eu aspirei profundamente, acendi um cigarro e fiquei olhando o ventilador do teto. As pás rodando juntaram minhas memórias de guerras que eu estive, minha ex-namorada e minha situação atual.
Na manhã seguinte, de manhã, junto com a mãe de Marylin e Natalie, ambas vestindo seus melhores vestidos e carregando flores, eu fui ver onde o corpo de Marylin havia sido enterrado. O caixão dela estava numa caixa de concreto, residindo em cima da tumba de sua irmã, que também fora morta pelo conflito. O número de corpos demandando enterro havia há muito tempo superado o espaço disponível. Do lado, uma tumba bem menor; os restos de outra irmã, que morrera de causas naturais aos 3 meses de idade. Eu não conseguia imaginar como a mãe de Marylin se sentia segurando a mão da neta, olhando os túmulos de suas três filhas.
Meu plano para viajar mais a fundo em Putumayo para fotografar os paramilitares não parecia mais uma boa idéia. Marylin sempre me apontara na direção correta, e me avisara quando pressionar mais não era uma boa idéia. Eu queria aprender mais sobre sua vida e morte, mas não queria ser assassinado por fazer as perguntas erradas das pessoas erradas.
Aquela noite, jantando contra uma parede de motocicletas e caminhões, outra habitante local me disse mais sobre o que acontecera com Marylin. Entre colheradas de sopa, a mulher me disse que Marylin esteve envolvida com a AUC mais tempo do que havia admitido para mim, e que na cidade acreditavam que ela estava envolvida no massacre de 26 habitantes do vilarejo de El Tigre. Muitas das vítimas foram decapitadas e desmembradas antes de serem jogadas no rio. Eu reservei um assento no próximo vôo para fora do país.
Enquanto eu via Puerto Assis desaparecer embaixo de mim, o avião era envolvido por nuvens. No meu IPod, alguém cantava "this city's made us crazy and we must get out" (esta cidade nos tornou loucos e devemos fugir).
Enquanto eu estou sentando digitando isso, cerca de 9 mil milhas (cerca de 14,5 mil km) distante em um quarto de hotel escuro e congelante em Kabul, Afeganistão, cobrindo outro conflito interminável, eu me indago se isso poderia ter terminado de maneira diferente. Marylin fora realmente morta porque ela era uma informante, ou porque, como ela dizia em seus emails, queria realmente sair da UAC e começar uma nova vida?
É isso o que eu quero acreditar. Eu quero acreditar que ela tenha tido uma mudança no coração. Eu quero acreditar que ela não era a assassina fria, sem coração, e maligna que aparentava ser. Mas quem eu estou tentando enganar?
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O artigo original foi publicado originalmente na revista Arena. A versão em inglês que eu usei para traduzir pode ser encontrada no The Economist aqui. Jason P. Howe é autor de "Colômbia: Between the Lines". Para pedir uma cópia, pode contatar este endereço: books@conflictpics.com
Li o texto inteirinho e fiquei me perguntando várias coisas ao mesmo tempo. Tínhamos um matador que era íntimo de minha família (já morreu.... ih faz tempo) e ele falava mesmo, no primeiro a gente sente dó, no segundo tb, depois a gente vê que a vida continua e faz isso por dinheiro... simplesmente triste...
ResponderExcluirO "serumano" é muito doido, afinal diz uma citação que a gente só entende o que quer entender, portanto cada um que faça suas interpretações... eu acho medonho, mas se fosse para permanecer viva, faria coisas que até Deus duvida...
Beijundas :)
puxa vida. que texto longo.. vc traduziu em quanto tempo?? uf uf..
ResponderExcluircoitado ne.. é meio esquisito isso.. eu nao ia conseguir continuar a ficar com uma pessoa que pode a qualquer momento me passar a navalha na jugular... esses extremistas poderiam muito bem desconfiar de que eu podesse ser inimigo e convencer o outro a me matar..
Nossa q texto! Poxa eu não sei se teria coragem de viver com uma pessoa q em algum momento poderia tentar me matar sei la! Mas esse texto eh baseado em fatos reais ou eh historia?
ResponderExcluirNão sei nem o que dizer. Matar alguém deve ser muito difícil, mas julgar sem observar as circunstâncias é tolice. Mesmo que tudo seja absurdo demais.
ResponderExcluirBjo
Esse texto é verídico, como eu disse, o próprio cara que viveu isso escreveu um artigo numa revista.
ResponderExcluirDemorei uns dois dias traduzindo tudo (claro que não foi direto).
=O
ResponderExcluire pq vc se identificou sera?? sera que numa vida passada tinha uma namorada que te matou?