A história do livro é bem romance novelesco, com a diferença que usa uma linguagem bem mais rebuscada (afinal, o livro foi escrito ainda no século 18) e conta com costumes que hoje nos parecem tão arcaicos e desprovidos de sentido. Entretanto, pra quem gosta de história, e mais ainda, a verdadeira história, aquela que mostra o cotidiano de pessoas comuns, e não apenas datas e grandes eventos registrados nos livros de história do primário, Orgulho e Preconceito é um prato cheio.
Ele retrata o conturbado romance de Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy. Elizabeth, segunda filha (de um total de cinco mulheres) de uma família relativamente pobre (não pobre miserável, mas mais uma classe média baixa da época), conhece Darcy, e num primeiro momento, cria uma grande antipatia por este, devido sobretudo, ao orgulho de ambos.
Ao contrário de Darcy, que de imediato, cria um certo encantamento pela moça. Mas é claro que como sendo um romance, ainda mais de estrutura tão clássica, ela acabará se apaixonando por ele, se bem que demora um bocado!. (E não considero isso um spoiler, já que se você já viu ou leu qualquer romance na vida, sabe o que acontece!)
Destaque ainda para a irmã mais velha de Elizabeth, Jane, e do amigo de Darcy, o Mr. Bingley. Estes dois também vivem uma história de amor conturbada, que tem uma grande influência na vida de Elizabeth e Darcy.
No geral, o livro é bom. Tem um bom começo, depois passa por alguns capítulos mornos, mas que servem de base para o meio do livro em diante, quando a história engrena muito bem, e não dá vontade de parar de ler.
Orgulho e Preconceito, apesar da sua idade, é bem pop: já foi adaptado para o cinema e televisão algumas vezes, sendo que a última delas, e talvez mais conhecida, foi a versão com a bela (e dizem as más línguas, anoréxica) "pirata do caribe" Keira Knightley:
Além disso, o filme é frequentemente citado em filmes e outras obras. Por exemplo, no filme Mensagem Para Você, Tom Hanks lê o livro, mesmo meio a contragosto, por causa de Meg Ryan. (Ei, eu sou fã dela!)
Algumas citações do livro, que eu separei durante a leitura. Os grifos em negrito são meus, e as imagens, são do filme.
O começo de tudo:
É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna deve estar necessitando de uma esposa.
Por muito pouco que sejam conhecidos os sentimentos ou o modo de pensar de tal homem ao entrar pela primeira vez em uma localidade, essa verdade encontra-se de tal modo enraizada no espírito das famílias vizinhas que ele é considerado como propriedade legítima de uma de suas filhas.
Conversa entre as duas irmãs mais velhas sobre Mr. Bingley, após um baile:
Quando Jane e Elizabeth se viram a sós, a primeira, que até então guardara uma certa reserva em sua apreciação de Mr. Bingley, abriu-se com a irmã e confessou-lhe quanto o admirava.
– Ele é exatamente como um moço deve ser – disse ela –, sensato, bem disposto e animado. E que modos os seus! Tão simples e revelando uma ótima educação.
– E bonito – replicou Elizabeth –, o que também é importante a um moço. Assim, sua personalidade fica completa.
– Senti-me muito lisonjeada quando, pela segunda vez, me veio pedir para dançar. Não esperava tal galanteio.
– Não esperavas? Pois eu o esperava por ti. Essa é uma das diferenças entre nós. Os elogios pegam-te sempre de surpresa, ao passo que a mim, nunca. Que querias de mais natural, senão exatamente o que ele fez? Ele não podia deixar de ver que tu eras cinco vezes mais bonita que qualquer outra no salão. Não é às suas boas maneiras que o deves. Ele é, de fato, simpático, e dou-te licença para gostares dele. Não seria a primeira pessoa estúpida de quem gostaste.
– Querida Lizzy!
– Oh, sabes? O que tens é uma grande capacidade de gostar das pessoas em geral. Nunca vês mal em ninguém. Todo mundo é bom e agradável aos teus olhos. Nunca em minha vida ouvi-te criticar um ser humano.
– É que procuro sempre não me precipitar no juízo que faço das outras pessoas; mas digo sempre o que penso.
– Isso eu sei, e é isso que me espanta.
E comentando sobre o orgulhoso Mr. Darcy:
– Seu orgulho – disse Miss Lucas – não me indigna tanto como qualquer outro o faria, pois ele é, de certo modo, desculpável. Não admira que homem tão belo, de excelente família, rico e com tudo a seu favor tenha um elevado conceito de si próprio. Se é que me posso exprimir assim, ele tem o direito de se sentir orgulhoso.
– Tens toda a razão no que dizes – replicou Elizabeth –, e eu seria a primeira a fechar os olhos a seu orgulho, se ele não tivesse ferido o meu.
– O orgulho – observou Mary, que se vangloriava da solidez de suas reflexões – é um defeito muito comum, creio eu. Depois de tudo o que li, estou deveras convencida de que é comum, que a natureza humana manifesta uma tendência bastante acentuada para o orgulho, e que são raros aqueles entre nós que não nutrem um sentimento de condescendência própria baseado em uma ou outra qualidade, real ou imaginária. Vaidade e orgulho são coisas diferentes, embora as palavras sejam frequentemente usadas como sinônimos. Pode-se sentir orgulho sem ser vaidoso. O orgulho diz respeito mais à opinião que temos de nós próprios, enquanto, a vaidade, ao que pretendemos que os outros pensem de nós.
Mrs. Bennet se gabando da beleza da filha e Elizabeth discutindo poesia e amor:
– Não gosto de gabar minha filhas, mas, quanto a Jane... não é todos os dias que se vêem moças como ela. É o que, pelo menos, todos dizem. Não confio, porém, totalmente em minha parcialidade. Quando ela tinha apenas 15 anos de idade e a levamos à casa de meu irmão Gardiner, na capital, um cavalheiro apaixonou-se de tal modo por ela que minha cunhada chegou a se convencer de que ele pediria a mão dela antes de regressarmos. Contudo, ele não o fez. Talvez a tenha achado demasiadamente jovem. Ainda assim, escreveu-lhe uns versos muito bonitos.
– E assim terminou seu amor – disse Elizabeth, impaciente. – Creio que mais de um forma abafados assim. Gostaria de saber quem descobriu a eficácia da poesia para espantar o amor!
– Sempre me disseram que a poesia é o alimento do amor – disse Darcy.
– De um amor puro, vigoroso e saudável, é possível. Tudo serve de alimento ao que já vingou. Mas, se se trata de uma inclinação ligeira e efêmera, estou convencida de que um bom soneto a faz morrer de uma vez.
Ai, meus pobres sonetos e afins...
Como as aparências são importantes e ao mesmo tempo, enganam:
Mr. Wickham era o felizardo para o qual quase todos os olhares femininos se voltaram e Elizabeth a felizarda junto de quem ele finalmente se veio sentar; e a facilidade e o modo agradável como ele iniciou a conversa, embora limitada à noite chuvosa e às probabilidades de uma estação com muita chuva fê-la refletir quão interessante o tópico mais vulgar e insípido podia se tornar, graças à habilidade do interlocutor.
Até os desafetos reconhecem o orgulho de Mr. Darcy:
– É admirável – replicou Wickham –, pois do orgulho parecem provir a maioria de suas ações; e o orgulho tem sido, muitas vezes, seu melhor amigo. Tem-no aproximado mais da virtude que qualquer outro sentimento. Mas nós somos incompatíveis, e em seu comportamento para comigo houve impulsos mais fortes que o próprio orgulho.
Com uma visão bem arcaica (ou talvez nem tanto, para alguns) sobre o casamento e as mulheres de idade (lembrem-se que naquela época, as mulheres se tornavam "senhoras" bem mais cedo):
Sir William e Lady Lucas foram prontamente convocados a dar seu consentimento, o qual foi concedido, com um entusiasmo esfuziante. A atual condição de Mr. Collins tornava a união bastante vantajosa para sua filha, a quem não tinham grande fortuna para deixar. Além disso, as perspectivas dele quanto ao futuro eram extremamente promissoras. (...) Em resumo, toda a família se regozijou particularmente pela ocasião. As mais jovens afagaram a esperança de aparecer em sociedade um ano ou dois mais cedo do que de outro modo teria acontecido; e os rapazes libertaram-se de sua apreensão de ver Charlotte chegar ao fim de sua vida como uma velha solteirona. A própria Charlotte se mostrava radiante. Uma vez atingido seu fim, tinha todo o tempo disponível para refletir sobre ele. O resultado de suas reflexões era, em geral, satisfatório. Mr. Collins, com efeito, não era um homem sensato, nem agradável, tampouco; em convívio tornava-se terrivelmente enfadonho e seu afeto por ela era, sem dúvida, simples fruto da imaginação. Contudo, seria ele seu marido. Sem que nunca tivesse devotado uma atenção especial aos homens ou ao matrimônio, considerara sempre o casamento como seu objetivo último; era, a seus olhos, a única precaução respeitável suscetível de ser tomada pelas jovens educadas e de pequena fortuna, e, embora nem sempre garantisse a felicidade, não deixaria de ser o refúgio mais agradável perante a iminência de uma vida necessitada. Esse refúgio, ela acabara de o atingir; e, com 27 anos de idade, sem que nunca tivesse sido bonita, ela sentia-se plenamente satisfeita com isso.
Depois de ler a carta decisiva:
Se Elizabeth, quando recebeu a carta das mãos de Mr. Darcy, não esperava que ela contivesse a repetição das propostas dele, também não tinha qualquer idéia sobre o que ela pudesse versar. É fácil, portanto, imaginar com quanta avidez ela a percorreu e quantas emoções contraditórias seus conteúdo produziu em seu espírito. Os seus sentimentos durante a leitura não se podiam definir. Começou por constatar, com assombro, que ele acreditava poder desculpar-se, pois estava persuadida de que um justo pudor o impediria de dar qualquer explicação. Fortemente prevenida contra tudo o que ele pudesse dizer, começou a ler seu relato do que tinha acontecido em Netherfield. Leu com uma ansiedade que quase a impedia de compreender; a impaciência de saber o que a próxima frase traria incapacitava-a de aprofundar o sentido daquela que tinha diante dos olhos.
Alguns pensamentos de Elizabeth, ao concordar em sair de férias com seus tios, uma viagem que mudaria sua história:
"Mas ainda bem que tenho alguma coisa a desejar", pensava ela, "pois, se tudo em meu plano fosse perfeito, a decepção seria mais que certa. Sendo assim, levando comigo uma fonte de contínua tristeza, a saudade de minha irmã, poderei de certo modo esperar que todas as minhas expectativas de prazer se realizem. Um plano perfeito nunca pode ser realizado".
Depois de um jantar, na segunda estadia dos senhores perto da casa das nossas heroínas:
E, quando Mrs. Bennet se encontrava de bom humor, as suas expectativas matrimoniais eram tão ilimitadas que, no dia seguinte, ficaria desapontada se não visse o jovem aparecer para fazer seu pedido.
– Foi um dia excelente – disse Jane para Elizabeth. – Os convidados foram muito bem escolhidos e pareciam dar-se todos admiravelmente uns com os outros. Espero que nos tornemos a reunir com freqüência.
Elizabeth sorriu.
– Lizzy, não sejas assim. Não deves duvidar de mim. Mortifica-me. Asseguro-te de que aprendi a apreciar a conversa dele como a de um jovem simpático e inteligente, sem nada esperar além disso. Sinto-me perfeitamente satisfeita com a presente atitude dele para comigo e vejo agora que nunca desejou cativar minha afeição. O que se passa, apenas, é que é dotado de uma simpatia extrema e de um desejo de agradar muito mais forte do que qualquer outro homem.
– És muito cruel – disse-lhe a irmã. – Não me deixas sorrir e provoca-me o riso a cada palavra que dizes.
– Como é difícil em certos casos uma pessoa fazer-se acreditar!
– E como é impossível em outros!
E como toda novela, você sabe como ela termina. Diálogo entre os protagonistas:
– Porque também você se mantinha grave e silenciosa e não me deu nenhum encorajamento.
– Mas eu estava embaraçada.
– E eu também.
– Podia ter procurado conversar mais comigo, quando veio jantar.
– Um homem menos apaixonado que eu talvez o tivesse feito.
– É pena que encontre para tudo uma resposta razoável e que eu tenha o bom senso de aceitá-la!
só vi o filme e amei, simplesmente amei.
ResponderExcluirEu ainda tenho que ver o filme...
ResponderExcluiré muito bom.
ResponderExcluirnão sei se como adaptação é fiel ao livro, talvez sim talvez não, mas é interessante.
Eu devo ver o filme no fim de semana.
ResponderExcluirdepois posta suas impressões então...
ResponderExcluiraahn eu vi o anuncio desse filme aki na universal, nao sei se ta passando no cinema ou se vai passar no canal, essa keira ai me lembra a winona ryder
ResponderExcluircomo vc faz pra colocar o texto nesses blocos cinzas??
ResponderExcluirEsses blocos cinzas são 'blocos de texto'.
ResponderExcluirAqui aparecem cinza pq o meu template configurou desse jeito.
Eu estava procurando um bom livro para ler, e esse me pareceu uma boa idéia.
ResponderExcluirConfesso que nunca gostei muito dessa hitória. Acho que a história da vida real de Jane Austen é muito mais interessante.
Mas seria sensato que eu tentasse ler o livro antes de tirar minhas conclusões finais. Porque do filme eu não gostei nada.
Mudando de assunto, eu não sei se você já leu "Os Homens Que Não Amavam As Mulheres" de Stieg Larsson. É muito bom. Se tiver a oportunidade, leia-o.
Beijos.
;]
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom esse livro. Realmente há um certo momento em que a história engrena tão bem que você não consegue parar de ler. Lembro de ter lido o livro todo em dois dias. Lógico que nesses dois dias não fiz mais nada da minha vida e levantei completamente tonta do sofá quando terminei a última página... Bons os tempos em que eu podia fazer isso...
ResponderExcluirE parabéns pela resenha, gostei. Só destacaria um ponto que você deixou de fora: o Mr. Benett! Como pode você não falar dele? Eu o achei tão engraçado e humano - uma raridade naquela sociedade tão falsa. Ele é responsável por alguns dos melhores momentos do livro.
Taí, fiquei feliz de ver um homem lendo Jane Austen. Emprestei esse livro para o meu namorado ler e acho que ele não gostou tanto...
É porque tentei falar só dos personagens principais, que pra mim, além dos dois protagonistas, são Jane e Bingley.
ResponderExcluirSe eu fosse falar sobre cada personagem, affe... Iria ficar do tamanho do artigo da Wikipedia (em inglês)
Orgulho e preconceito e zumbis http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2010/03/20/jane-austen-reencarnada-orgulho-preconceito-zumbis-276083.asp
ResponderExcluirfoi escrito na virada do século XVIII para o XIX e não no XVII. errou quase 200 anos aí.
ResponderExcluirErrei a contagem de século só. Segundo a wiki, foi terminado no ano de 1797, então, século 18 (que eu havia erroneamente colocado como 17). Viu? Só 100 anos.
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