2010-04-26

Filme: Aconteceu em Woodstock

Na sessão cult da semana, fui ver o último filme do diretor Ang Lee, Aconteceu em Woodstock (ou Taking Woodstock no original). Fui assistir sem muitas expectativas, até porque não sou grande fã do diretor, mas me surpreendi.

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Aconteceu em Woodstock conta a história do famoso festival sob um ponto de vista diferente. O festival, apesar de impulsionar a história, deixa o papel de protagonista para o jovem Elliot Teichberg (muito bem vivido por Demetri Martin), designer e pintor que teve uma passagem mal sucedida na cidade grande, e que volta ao interior para ajudar a cuidar do pequeno hotel de beira de estrada decadente dos pais, judeus e imigrantes russos.

Aliás, a cidade inteira se mostra decadente, já nos primeiros planos do filme. Contrastando com belas paisagens de verão e da natureza verde, vemos uma cidade envelhecida, que o diretor pontua não somente com as construções físicas, mas pela presença predominante de senhores e senhoras de idade, tanto no café/lanchonete da cidade, como na Câmara de Comércio. Câmara esta que é presidida pelo jovem Elliot, que pretendendo realizar um festival cultural local (pequeno e restrito), consegue uma permissão para realizar o seu festival.

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Ao mesmo tempo, o festival que reuniria grandes nomes da música, o festival de Woodstock (que já estava previsto pra acontecer longe da cidade de mesmo nome), é "expulso" da cidade em que seria realizado, por medo dos moradores locais da invasão hippie que seria o festival. Nisto, Elliot com a sua permissão em mãos, contata os produtores do festival, e então vemos o velho hotel ser invadido pelos organizadores.

Mas, como já disse, esse filme não é sobre o festival, mas sobre como o festival mudou a vida de Elliot. Apesar de, no fundo ter um espírito livre e artístico (o que é acentuado pela trupe de artistas de teatro que Elliot deu abrigo no seu celeiro), ele é acanhado, de certa forma preso pelo conservadorismo dos pais, especialmente a mãe de Elliot, uma velha turrona e muquirana, que acaba servindo de alívio cômico e que rouba bastante a atenção numa atuação convincente.

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Aliás, Ang Lee parece ter um dom para extrair de seus atores, atuações excelentes. O protagonista Martin está muito bem como Elliot, é visível como o personagem é ao mesmo tempo reprimido, mas se solta com alguns trejeitos de vez em quando, como se o que ele realmente é, estivesse querendo sair. E é mais ou menos essa a sua trajetória.

Destaque também para os pais de Elliot, vividos por Imelda Staunton e Henry Goodman. Já falei da mãe de Elliot, mas o pai dele também se mostra um personagem interessante: a princípio parece simplório, mas assim como Elliot ao longo da história, acabamos descobrindo que ele é mais do que aparenta (e mais do que o próprio Elliot pensa). A atuação está ótima, basta um olhar pra gente se dar conta do papel que o personagem do pai tem: a da velha geração, cansada, mas que espera e torce pela nova geração, os filhos.

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E claro, não dá pra esquecer de mencionar Liev Schreiber (com um papel pequeno, mas notável) na pele de Vilma, uma mudança bastante radical desde o Dentes-de-Sabre. :)

Dizer que Aconteceu em Woodstock é perfeito é um exagero. Ele tem alguns problemas, alguns mais, outros menos graves. Mesmo que o foco esteja no personagem e não no festival, ainda assim é retratado o "making of" de Woodstock, o que obviamente envolveu muita gente. E, com tantos personagens assim, alguns arcos ficaram rasos e/ou abandonados. A má reação dos habitantes locais a invasão hippie, por exemplo, insinua-se em vários momentos, mas tem um desfecho pífio. A reação boa dos habitantes locais, simbolizado pelas duas velhinhas simpáticas, por exemplo, se resume a apenas isso, duas velhinhas que acabam reforçando o alívio cômico.

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Essas pinceladas que o diretor dá em temas ligados a Woodstock, como o momento econômico (simbolizado pela reação dos habitantes locais, para o bem ou para o mal), ou o momento político (o amigo de Elliot, jovem veterano de guerra), poderiam deixar o filme mais profundo, mais reflexivo, mas essa claramente não é a intenção do diretor. O foco está em Elliot e no seu desenvolvimento pessoal. Mesmo quando num mar de gente, a câmera dá um jeito de manter a atenção em Elliot, sendo dividindo a tela, sendo nos mostrando o seu olhar.

Outro ponto negativo é, paradoxalmente, o próprio desenvolvimento do personagem Elliot. Ao gosto de Ang Lee, o seu desenvolvimento é bem lento, e é mais impulsionado pelo próprio Elliot do que por influências externas. Isso deixa a impressão de um desenvolvimento raso, mas prestando-se atenção, vemos que a semente já estava plantada, o que era preciso era de um pouco de água. E, assim como uma planta, o crescimento parece imperceptível, até nos darmos conta do crescimento.

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Enfim, assim como o policial com o enfeite no capacete no filme, que depois de ver o que o festival era, mudou de opinião e não quis rachar a cabeça de nenhum hippie XD, eu também mudei a minha em relação a Ang Lee. Aconteceu em Woodstock não é de explodir a cabeça (ou os tímpanos) como a voz rouca de uma Janis Joplin mas sem dúvida, eu me surpreendi.

Trailer:



Para saber mais: Omelete e Cinema em Cena

3 comentários:

  1. é, pelo q disse, acho q vale o ingresso, ainda mais se a grana não sair da minha carteira... :)

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  2. falando em woodstock, vai ter o woodstock esse ano aki no brasil... em itu... eu voooou

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