Excepcionalmente este fim de semana, tive que ir trabalhar. Trabalhei sábado o dia todo, e domingo de manhã. À tarde, pensando em relaxar, decidi ir ao cinema, esperando assistir um bom filme. Vi o novo Robin Hood do diretor Ridley Scott, e infelizmente minhas esperanças logo caíram morro abaixo.
Este novo filme do Robin Hood tem a intenção de narrar a história de Robin antes dele se tornar Robin Hood, ou seja, antes dele se tornar o famoso ladrão que roubava dos ricos pra dar para os pobres. Além disso, assim como vários outros filmes contemporâneos, Robin Hood tem a pretensão de dar um ar "mais real" à história. Graficamente falando, em termos de cenários e figurino, até que chega perto, apesar da falta de sangue nas batalhas ser um grande problema, isso devido a necessidade de se manter uma classificação etária mais baixa e não barrar o grande público adolescente. Mas, se visualmente a ambientação é digna, basta os personagens abrirem a boca pra história cair num ar caricatural de dar dó.
No filme, Robin Longstride (Russel Crowe, basicamente reprisando seu papel de Maximus em Gladiador, a sua primeira parceria com o diretor Ridley Scott), é um arqueiro plebeu no exército do rei Ricardo Coração de Leão (Danny Huston). Voltando de uma campanha de 10 anos de cruzada, o rei está falido e volta saqueando todos os castelos que encontra (sobretudo, os franceses). As primeiras cenas do filme começam com uma boa dose de ação, mostrando o cerco de um desses castelos, pelo exército de Ricardo. Essas cenas de ação são bem feitas, mas não empolgam. São as mesmas cenas de invasão de um castelo de dezenas de outros filmes do gênero. Visualmente interessante, mas sem absolutamente nada de novo.
E nesse cerco, já notamos as primeiras incoerências que o filme todo ainda vai trazer. O rei Ricardo é mostrado sendo idolatrado e muito respeitado pelo seu exército (e mais adiante, veremos que essa idolatria/respeito se estende ao povo em geral, pelo rei). Entretanto, ao mesmo tempo, vemos que o rei é um canalha. Sabe aqueles monarcas retratados como maus, totalmente clichês? Então, é isso. Ricardo Coração de Leão de nobre só tem o título, e num incidente no acampamento, o personagem de Robin fala isso honestamente. E, como recompensa, ele e seus companheiros mais próximos ficam presos.
Mas não por muito tempo, porque o rei (e quem escreveu esse roteiro) são insanos, e o rei vai que nem um louco à frente de batalha. Claro que ele morre, de uma maneira tão idiota quanto ele próprio (e é um milagre o rei ter vivido tanto, agindo dessa maneira "impetuosa", já que voltava de uma cruzada de 10 anos!). Essa é a deixa para Robin e seus clássicos companheiros (incluindo Will Scarlet e João Pequeno) fugirem. Aliás, já falando sobre os companheiros de Robin, eles exercem um papel minúsculo na trama, parecem mais estar ali apenas como referências.
Na fuga, eles se encontram com cavaleiros do rei que levavam a coroa do rei morto, e que sofreram uma emboscada. Como bons ladrões que virão a ser, Robin e sua trupe roubam as identidades, se fazendo passar por cavaleiros. Robin assume a identidade de Robert Loxley, prometendo levar a espada deste de volta para a cidade natal do cavaleiro, Nottingham, e entregar a espada para o pai dele.
Em paralelo a história de Robin, é mostrada a história da realeza, a rainha mãe de Ricardo, o irmão João, conselheiros e até o rei da França, com muitas intrigas políticas, que convergirão mais para a frente, com a trajetória de Robin.
Em Nottingham, Robin acaba assumindo de vez a identidade de sir Loxley, a pedido do próprio pai deste, Walter Loxley (o veterano "exorcista" Max von Sydow, uma das poucas atuações dignas de nota no filme). E Robin tem que fingir o casamento com lady Marion Loxley (Cate Blanchet). Nesta hora, o filme parece uma daquelas comédias românticas cheias de clichês: mocinho precisa fingir que é casado com a mocinha, mas eles não se entendem e vivem se bicando, mas no fundo, é óbvio que eles nasceram um pro outro e vão se apaixonar e ficar juntos e etc... Em uma comédia romântica bem feita, até que a gente se diverte, mas no meio de um filme histórico cheio de intrigas políticas e batalhas medievais... Sorry, mas ficou ridículo.
O filme como um todo passa a impressão de querer ser um grande épico, mas não consegue. Ele só entrega a pretensão do diretor. Um exemplo é o uso do som: querendo deixar o clima grandioso, ele solta a música alta, grandiosa, mas ela não combina com o resto da narrativa. Outro exemplo é o uso da fotografia. Predominantemente azulada, com diversos momentos em que o uso do filtro se mostra claro, a fotografia tenta passar aquele clima londrino inglês, muita chuva e meio escuro. Entretanto, esse azulado é quase onipresente, e não sei se vocês sabem, mas azul é uma cor que acalma, relaxa. O que contrasta e atrapalha o clima que o diretor quer criar, especialmente quando mostra os bastidores das intrigas e artimanhas políticas/bélicas entre Inglaterra e França. A tentativa de criar a tensão, nos diálogos, é diluída pelas imagens.
Mais um exemplo? A edição: as cenas de alívio da tensão do drama são mal colocadas, se perdendo totalmente na sequência. O drama nem esquenta, a tensão mal começa, corta pra uma cena leve e despropositada. Um exemplo disso: são mostradas intrigas nos bastidores, uma tensão crescendo entre a realeza. E, antes da tensão realmente chegar, corta pra uma festinha na propriedade dos Loxley, uma cena pretensamente romântica e cômica (não, não achei graça do Xerife de Nottingham, totalmente perdido na trama, que cortejara Marion, servindo de palhaço, enquanto Robin e Marion dançam, em uma cena totalmente chupada de uma comédia romântica ruim).
Mas o que realmente é ruim neste filme é o roteiro. O drama da história de Robin, de seu pai, é totalmente descartável. A evolução do personagem Robin também é inverossímil. Depois de descobrir quem fora seu pai, Robin recebe uma iluminação e vira um grande líder/orador/filósofo? Eis um exemplo de mau desenvolvimento de um personagem.
Acho que a única parte que realmente consegue empolgar no filme é quando Robin e seus companheiros, ajudados ainda pelo Frei Tuck, realizam o primeiro "roubo justo". É uma cena de ação boa, despretensiosa mas muito legal, com um toque de humor. É uma pena que ela dure pouco, e que demore mais ou menos metade do filme para acontecer.
Aliás, o final do filme é uma tortura só. Não basta o filme ter quase duas horas e meia de extensão, o terço final dele é incoerente e corrido. Bem, corrido já é de se esperar em produções contemporâneas, que, motivados pelo ritmo alucinado atual, não mostram a passagem do tempo/espaço normalmente. Por exemplo, o pessoal a galope de cavalo atravessa a Inglaterra num piscar de olhos, sem ter nenhum indicativo de passagem de tempo, como um acampamento de vez em quando. Tudo bem que a Inglaterra é uma ilha, mas eu não acredito que em umas poucas horas a cavalo você atravesse o país inteiro.
Mas o pior mesmo é a batalha final. Sem explicações, Robin perde o disfarce de nobre e todo mundo está muito bem com isso. Mais ainda: todo mundo conhece o Robin, mesmo ele sendo novo por aquelas bandas. E o momento mais WTF do filme: Marion surgindo no meio da batalha, liderando o bando de órfãos de Sherwood (esqueci de dizer, mas Sherwood era como um orfanato a céu aberto, cheio de órfãos que roubavam para se alimentar, mas de bom coração, claro). Tudo bem que a Marion do filme é uma mulher forte, mas é bom dizer ao roteirista que uma personagem forte não significa que ela segure uma espada pesada, vista uma armadura mais pesada ainda e saia distribuindo espadadas e decepando cabeças. Dar poder à mulher definitivamente não é vesti-la como cavaleiro medieval e colocá-la pra lutar (e nem vou comentar sobre a liderança dela em cima das crianças!).
Nem as cenas de ação da batalha final empolgam. Pra uma batalha que supostamente envolveria os exércitos de duas das nações mais poderosas, a quantidade de gente guerreando é pífia. E, mesmo considerando movimentos de câmera e closes, as cenas de ação são apenas mais do mesmo, algumas totalmente clichês. A morte do vilão (Mark Strong), no final, por exemplo: o cara vai fugindo da batalha, está a uma distância razoável, mas o herói Robin pega o seu arco e flecha (se não me engano, é somente a terceira vez que ele pega o arco no filme) e acerta um tiro certeiro no vilão. Que cai rindo. Certamente, da plateia.
E, mesmo depois de coroado grande herói da batalha, Robin acaba o filme como fora da lei. E, segundo a narração do filme, é aí que a lenda começa. Se depender de mim, essa lenda termina ali mesmo.
Ainda preciso dizer que não recomendo o filme pra ninguém? (Bem, pros inimigos eu recomendo sim. Vão e dêem lucro aos cinemas.) E note que eu soltei vários spoilers nesse texto. É pra você não ter vontade mesmo de ir ver esse Robin Hood.
Trailer:
Para saber mais: críticas no Cinema em Cena e no Omelete.
quando eu vi o cartaz na frente do cinema até me deu vontade de ir assistir, mas sabia q tinha algo de errado por não ter visto tanta propaganda... economizei 10 pila.
ResponderExcluirDiscordo de vcs...rs
ResponderExcluirAchei mto boa essa nova parceria R.Scott/R.Crowe!