Ontem, na sessão em que assisti o novo filme do Arnaldo Jabor, A Suprema Felicidade, presenciei algo que há muito tempo não via ocorrer: gente saindo da sala, antes do filme acabar. Mas antes mesmo, depois de pouco mais de metade do filme. E não foi apenas uma pessoa, mas quatro (pelo menos, foram as que eu vi, não duvido se saíram mais). Dito isso, talvez você entenda melhor quando eu digo que o filme poderia se chamar 'A Suprema Porcaria'.
Sem filmar há mais de uma década, o diretor e também roteirista do filme, Arnaldo Jabor, parece que quis colocar todas as suas ideias brilhantes num único filme, não importando se elas não se emendassem direito. Mas o equívoco não para aí. Além disso, cada sequência é filmada de forma tão ruim, tão amadora (culpa da 'ferrugem' do diretor?), que mesmo algumas boas ideias acabam se tornando enfadonhas, e só uma análise posterior, com calma (porque o que está filmado é de doer a alma) e não levando em conta exatamente o que vimos em tela, revela que a ideia era interessante. Claro, pode ser que Jabor tenha feito tudo isso de forma consciente e deliberada, com o intuito de simplesmente agredir o espectador, mas não acho que seja o caso. Esse tipo de coisa não parece ser do estilo dele.
A Suprema Felicidade acompanha o desenvolvimento de Paulo, desde uma rápida cena de como seus pais se conhecem, até o momento em que o jovem tem seu primeiro amor consumado, passando pelas discussões e distanciamento de seus pais, as histórias com seu avô, algumas mazelas da adolescência, o descobrimento e encantamento pelas putas, e por aí vai.
O filme é contado de forma não linear, indo e vindo no tempo, intercalando momentos e pequenas histórias. Como uma memória fragmentada que se prende a alguns momentos marcantes da vida, o filme é muito caricato, como logo nota-se nas primeiras cenas: a comemoração do final da guerra (a segunda mundial), com as pessoas dançando na rua, ou mesmo a cena com o valentão da escola que vem logo em seguida. Ou ainda quando a mãe (interpretada pela Mariana Lima) vai a uma vidente cuja família é toda cega. Todas essas caricaturas até poderiam render uma estética interessante, não fosse a pretensão do filme em filosofar (de maneira pretensamente séria, mas sem sucesso), sobre temas como amor, felicidade, guerra e claro, sexo.
Além de toda essa caricatura, o filme ainda se perde em alguns momentos de extrema bizarrice e sem sentido pra história como um todo. Por exemplo, na sequência da vidente, além da bizarrice de toda a família cega, a vidente ainda diz pra mãe, que fora lá para uma consulta sobre sua vida amorosa (a.k.a. como manter meu marido), que ela deve tomar cuidado com uma bailarina. Acabou a fala, corta para um teatro (supostamente) infantil, onde os atores, anãos, encenam uma peça onde há uma bailarina anã. E esta acaba sendo morta por um marido anão ciumento, com direito a arrancar o coração (não estilizado) da bailarina. E claro, criancinhas chorando e com medo depois disso.
Outro exemplo de trecho destoante e que nada acrescenta a trama é a participação da atriz Maria Flor dando um piti espírita. Sua personagem é justificada, sendo a causa do primeiro porre de amor de Paulo (nesta idade, uns 19, representado por Jayme Matarazzo), mas toda a sequência de loucura da personagem de Flor é tão descartável quanto insignificante. Ok, a única coisa que se salva nela são os peitinhos a mostra da atriz, que a propósito, é linda. :) Mas como peitinho nunca salvou um filme (senão, todos os Porky's seriam clássicos), até mesmo os belos da atriz Tammy Di Calafiori, que vive a primeira paixão consumada de Paulo, não salvam a película. Aliás, que mulher linda essa Tammy.
Mas voltemos ao filme.
O roteiro de A Suprema Felicidade é bem fraco, os diálogos às vezes até doem no cérebro, e em muitas partes sugerem uma estética mais teatral do que cinematográfica. Isso é bastante evidente no cenário da casa de Paulo, em especial, em duas ocasiões. A primeira é logo no início do filme, onde os avós de Paulo surgem. A entrada deles é essencialmente teatral, surgindo no cenário de surpresa. A segunda, ainda mais visível, é quando a mãe de Paulo narra como ela conhece a chegada do marido (Dan Stulbach) pelos barulhos que ele faz, do motor do carro, do barulho do portão e dos passos, até a entrada do personagem. Tudo isso apenas narrado pela mãe, com a câmera estática. Mais teatral, impossível.
Não que filmes com roteiros mais teatrais sejam ruins (Bastardos Inglórios está aí pra provar que não são), mas no caso do filme do Jabor, é mais um ponto negativo. De maneira geral, o filme é muito chato. O drama familiar é mal construído, os pais são personagens unidimensionais e no decorrer do filme, o pai ainda se mostra contraditório dentro da sua construção. Ele, que no começo é um homem que ama a mulher (de um jeito muito peculiar, amando a dependência dela em relação a ele, e não ela, o que acarreta que ele em última instância ama ela sendo infeliz), se encanta por uma mulher mais jovem num cabaré. Jovem esta que será o amor de Paulo, a bela "Marylin Monroe" interpretada pela Tammy Di Calafiori.
Agora, a pior sequência do filme, e uma das piores que já vi, é a sequência no puteiro. Tudo começa com a visão de um puteiro decadente num prédio antigo. O protagonista Paulo anda pelas imediações, que é uma verdadeira zona. Entre chamegos das profissionais (que tenho quase certeza que eram mesmo, e não atrizes), tentando chamar Paulo como cliente, este se foca numa das putas um pouco mais distante. Ela some. Ele entra no prédio, parece procurá-la. De repente, foca-se no olhar dele, como se estivesse assustado. Corta para uma cena em que uma navalha corta a carne. Volta para Paulo, que ouve um grito e sai para a janela ver o que é. E a mesma puta que ele havia encarado aparece cortada, sangrando, enquanto um marinheiro com uma navalha, corre e foge. E é isso. Na boa, a sequência até tem uma ideia legal, de mostrar um pouco do que é esse baixo escalão da prostituição, e daria uma ótima conversa de bar ou um conto curto. Mas no filme... A sequência é toda mal construída. A começar pela música, uma música clássica que nada combina em nenhum momento. A montagem é mal executada, e claro, a "interpretação" de todos ali.
Falando em interpretações, a única coisa que se salva é a interpretação de Marco Nanini, como avô de Paulo. Dan Stulbach e Mariana Lima também se esforçam, mas seus personagens são muito ruins, e nem o nosso Tom Hanks brasileiro dá um jeito. Jayme Matarazzo é fraco, mas não chega a ser ruim. Tirando esses destaques, a imensa maioria faz participações tão curtas que é como avaliar uma ponta num filme: simplesmente não dá, a não ser que seja extremamente ruim. O que não é o caso de nenhum dos atores de (mais ou menos) renome no elenco.
Com um roteiro tedioso e cheio de tramas paralelas (relacionamento dos pais, o trauma mal colocado e depois a demência do avô, o amigo gay que some do filme, etc), que pouco ou nada acrescentam a jornada do personagem principal Paulo, A Suprema Felicidade é um filme equivocado. Como uma colcha de retalhos que não combina, o diretor Arnaldo Jabor construiu um filme com sequências jogadas (tem até uma sequência que o filme se torna um musical - de samba, mas um musical), que podem ter lhe parecido boas ideias. O problema é que juntas elas não funcionam, e separadas, a grande maioria é mal feita.
Se alguém leu até aqui, deve ter notado que não poupei spoilers. Eu faço isso nos filmes que são tão ruins que a minha recomendação máxima é: não assista. Mesmo. E se você acha que eu falei muito mal do filme, saiba que estou poupando algumas outras anotações minhas, porque acho que o texto já está grande demais. E, respondendo à pergunta que é feita no trailer: "O que é a felicidade?", posso dizer que não sei o que é felicidade. Mas com certeza, infelicidade é assistir a esse filme.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Cinema em Cena e no Omelete.
Não é porque você escreve mal, nada disso. Você escreveu tão bem ao falar mal desse filme que eu nem aguentei ler tudo.
ResponderExcluirDesculpa.
Quando eu vi o trilher eu notei que o filme tinha cara de chato, rsrsrs
ResponderExcluirAcertei!
eu já não tinha interesse em ver o filme, agora então...
ResponderExcluirPuxa vida, tava pensando em ir ver...acho que vou esperar o DVD. O dinheirinho do cinema anda sagrado! rs
ResponderExcluirbaccios,
deb
extremamente feliz ao ler este texto que traduz o que senti. Minha vontade era sair imediatamente do cinema, mas preferi ficar pra saber se haveria algo surpreendente no decorrer do filme. O filme é deprimente, mal feito, desconexo, sonolento. Ao sair, fiquei na dúvida se havia algo extraordinario no filme ou se eu era um debio mental que nao havia conseguido compreender tal grandiosidade, mas é com suprema felicidade percebi que o filme é que é pessimo.
ResponderExcluirterminei de ver o filme agora, estou "bestificada". Como alguém tem a coragem de fazer um filme tão chato e "nada a ver" como esse. Então procurei no google criticas sobre o filme e achei esse blog onde o autor e o comentario do Ricardo S. expressaram tudo que eu estava sentido, inclusive o sentimento de ter perdido meu tempo como algo que nada acrescentou ao meu dia. Sinceramente: "NINGUÉM MERECE"!
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