Filme: De Pernas pro Ar

É incrível o quanto um trailer pode fazer por um filme. Na maioria das vezes, um trailer bem feito nos oferece maior satisfação do que o próprio filme, e acabamos decepcionados com a película. Entretanto, o caso do brasileiro De Pernas pro Ar é o oposto. O trailer antevê um filme ridículo, enquanto que o filme em si é bem simpático e engraçado, calcado especialmente na atriz principal e comediante Ingrid Guimarães. Ou seja, o filme acaba se revelando uma boa surpresa.

Mesmo que a expectativa negativa ajude a tornar o filme mais simpático, não dá pra dizer que De Pernas pro Ar seja excelente. Na verdade, ele tem muitos defeitos, que começam a se mostrar logo no início da exibição. Tome por exemplo a obsessão do diretor Roberto Santucci em fazer planos fechados no rosto dos personagens, como logo no início do filme, quando a protagonista Alice (Ingrid Guimarães) conversa sobre uma promoção com seu chefe. A sequência de planos fechados neste caso não se justifica, pois ela visualmente acaba criando um clima claustrofóbico e dramático quando a história não se desenvolve (nem um pouco) neste sentido. E essas tomadas fechadas perduram boa parte do filme, quando dois personagens se encontram para dialogar (mesmo que a cena não exija tensão).


Outro ponto fraco de De Pernas pro Ar é o roteiro recheado de clichês, estereótipos e piadas requentadas. Desde referências óbvias a "clássicos femininos" como Sex and the City e seu vibrador de coelho, a até algumas falas que nos fazem rir de nervoso (ou de vergonha alheia) como "você não escolhe o vibrador, o vibrador escolhe você", o roteiro é bem previsível (o que, lembramos, estraga um pouco da comédia, uma vez que a surpresa é um elemento importantíssimo para fazer rir). Até mesmo em momentos mais "sérios", o clichê não escapa, como quando num momento de reencontro, Alice fala "ele até parece outro homem", ao que sua amiga retruca "não, você que é outra mulher".

O roteirista Paulo Cursino nem mesmo procura disfarçar "as influências", como na cena da calcinha com vibrador, que nada mais é do que uma extensão de cena similar do A Verdade Nua e Crua (que também nem era tão original assim).


Apesar de toda obviedade do roteiro e dos clichês, surpreendentemente De Pernas pro Ar consegue fazer rir. E os maiores méritos vão pra comediante Ingrid Guimarães, que tem um timing excelente, além de uma química ótima com sua companheira de tela, Maria Paula. Bruno Garcia, o outro personagem-chave do filme tem uma participação pequena, uma vez que são as mulheres que dominam o filme.


A história é a seguinte: Alice é uma workaholic que, de uma hora para outra, acaba sem emprego e sem o marido (Garcia), que pediu um tempo na relação. O principal motivo é a falta de atenção dela para com ele, em todos os níveis (especialmente o sexual). E quando Alice está na pior, acaba fazendo amizade com Marcela (Maria Paula), que é vizinha de prédio e dona de uma sex shop. Ao conhecer o mundo maravilhoso do orgasmo como uma montanha russa (mulheres, vocês gostaram dessa metáfora?), Alice se descobre, se completa como mulher moderna (afinal, trabalho e família ela já dava conta), e passa a ser co-proprietária da sex shop da amiga, com um modelo de negócios que poderá levá-la a perder tudo o que conquistou. Ou não. Claro que não, afinal, se o filme todo é um grande clichê, não poderia faltar o final feliz.


De Pernas pro Ar é recheado de clichês? Sim. Mas ainda assim, faz rir? Surpreendentemente, e contra todas as apostas, sim. Enfim, é isso o que vale. E se você conseguir jogar o bom senso por ar e mergulhar por mais ou menos uma hora e meia num universo à parte, a recompensa será uma comédia boa. Nada espetacular, mas infinitamente melhor do que seu trailer.

Trailer:



Para saber mais: crítica no Omelete.