Se fôssemos analisar os relacionamentos românticos sob uma ótica da geometria (como neste excelente gráfico da geometria da infidelidade), o filme Triângulo Amoroso (ou apenas 3 ou Drei, no original) seria um triângulo equilátero. Se você fugiu das aulas de matemática, um triângulo equilátero é aquele que tem os três lados iguais. E, de certa maneira, essa metáfora se encaixa bem ao analisarmos os três personagens principais deste filme.
A história de Triângulo Amoroso começa com o casal formado por Hanna (Sophie Rois) e Simon (Sebastian Schipper), um casal de meia idade que vive junto, mas que ainda não é oficialmente casado. Vivendo juntos há bastante tempo (eles comemoram o aniversário de 20 anos juntos, em certo ponto do filme), numa Alemanha contemporânea, mesmo que eles ainda se gostem, é notável o tédio que se instala entre eles. E essa morosidade inclusive se reflete no sexo, como bem mostra a cena em que Simon simula que havia gozado (sim, com camisinha, homem também consegue mentir nessa hora, jogando saliva na camisinha).
É quando surge Adam (Devid Striesow), que se envolve com Hanna. Sendo claramente bissexual (ponto que é reforçado pela presença, no filme, da ex-mulher e de um caso com um aluno de seu instituto), Adam por coincidência acaba se envolvendo também com Simon, sem saber que os dois são casados. E claro, o casal também esconde a infidelidade mútua. A partir dessa premissa, o filme se desenvolve, focando mais nas interações de seus personagens do que numa intrincada história em si.
De fato, em termos de história, duas cenas iniciais de Triângulo Amoroso já resumem toda ela. Na primeira, que também é a que consta no trailer, ouvimos um personagem (que descobrimos ser Simon no filme) recitando fases de um relacionamento enquanto acompanhamos correndo duas linhas ou cabos de energia/comunicação ao céu, com estas linhas se cruzando, se aproximando ou se separando, ou ainda acompanhadas de mais uma outra linha enquanto o personagem descreve situações que podem aproximar ou separar o casal. É um plano super criativo e até mesmo poético. De fato, é o meu preferido do filme. De certa forma, essa cena é a metáfora do relacionamento de Hanna e Simon até o momento em que o filme começa, que chegara num ponto em que ambos os personagens se encontram vazios, meio mortos (e a vida volta a eles depois que cada um começa o caso com Adam, fato que é exposto quando os dois se encontram na porta de casa, ambos depois de terem passado algum tempo com o amante no dia, e se vêem como outros, mais radiantes, viçosos, cheios de vida, e acabam transando cheios de vitalidade e tesão).
A segunda cena inicial, e que praticamente resume todo o filme, é um espetáculo de dança. De fato, a cena não se encaixa na história (não é uma peça que os personagens estejam assistindo, por exemplo), apenas serve como um recurso simbólico. A comparação da dança com relacionamentos (que já é óbvia do ponto de vista sexual, uma vez que o que é a dança, senão um ritual de pré-acasalamento "mais evoluído"?) basicamente conta a história do filme: há um casal dançando, quando chega um outro bailarino. Este dança com um, depois com outro e depois com os dois ao mesmo tempo.
Apostando num ritmo suave, o diretor Tom Tykwer foca no desenvolvimento dos seus personagens, um de cada vez. Primeiro conhecemos mais Hanna (e seus delírios sexuais durante uma palestra chata), depois Simon (e o drama de sua mãe e a sua própria doença), e enfim, Adam (que tem um filho e leva uma vida promíscua). Não é no drama anterior de cada personagem em si que leva o foco, mas nas relações que se constroem entre eles. De fato, achei o ponto mais fraco do filme o desenvolvimento do drama de Simon (a história da mãe dele destoa muito do resto do filme e do tom que este adota).
Classificado como uma mistura de drama, comédia e romance, Triângulo Amoroso só tem mesmo graça numa única cena (e isso, lá no último terço do filme). O resto são pequenos alívios cômicos, de um humor bem sutil, que não o classificariam exatamente como comédia. Talvez uma dramédia. O foco é realmente nos relacionamentos entre os personagens, tanto afetiva quanto sexualmente. Sem "papas na língua", Tykwer mostra de maneira sensível, mas visceral, todo o sentimento e tesão envolvidos (mesmo que alguns momentos sejam viscerais em demasia e sem necessidade, como na operação de Simon). As split-screens, ou seja, quando a tela se divide em vários segmentos, acaba sendo um exercício estético interessante, ilustrando eventos paralelos (que não são vitais, mas são interessantes), bem como a passagem de tempo e o fortalecimento de relações. E claro, mostrando de maneira "despudorada", cenas de sexo entre os personagens, tanto hétero quanto homos.
Triângulo Amoroso é uma ode ao livre amor (e também ao poliamor), que além de trazer cenas mais sensuais, ainda traz uma boa gama de símbolos e metáforas, apoiando a sua "causa", por assim dizer. Não vou ficar destrinchando cada um desses simbolismos (como a questão das células-tronco e a vida em si, como inclusive termina o último plano, ou o simbolismo do número 3, que é o título original e que é bem martelado na hora em que a mãe de Simon morre e os números 3 e 9 - que é 3x3 - aparecem frequentemente), até porque o texto já está bem longo. Mas termino dizendo que neste caso, o título em português não fez feio. Afinal, triângulos equiláteros, em que cada ponta (ou vértice, pra dizer bonito) se conectam aos outros dois de maneira igual (pois cada lado - ou aresta - é de tamanho igual) exprimem bem a ideia do filme. Se cada vértice fosse um personagem e cada aresta um relacionamento, o triângulo mostra 3 amores não iguais (porque nenhum é igual, afinal, seus vértices são diferentes), mas semelhantes e igualmente importantes.
Trailers (o primeiro sem legendas, que é o que eu cito no texto; o segundo é um trailer legendado):
Para saber mais: crítica no Omelete.
P.S. Destaque positivo para a trilha sonora com Space Oddity, de David Bowie. Sempre me lembro dessa animação ao escutá-la...
eu gosto de triângulos...
ResponderExcluirmuito boa a resenha sobre o filme!
ResponderExcluiré realmente lindo! <3