2012-04-24

Filme: Adorável Pivellina

Se o documentário Bebês levou ao extremo o "gênero" filme-fofurice, este Adorável Pivellina (ou La Pivellina no original) segue por um caminho semelhante (ou seria precursor, já que é anterior), mas com óbvias limitações, tanto de personagens (4 bebês contra 1), quanto de estilo e orçamentárias. Se para você, fofura basta para que um filme seja bom, então deve gostar bastante deste.

filme adorável pivellina poster cartaz

Filmado de forma quase artesanal, com luz natural, sem trilha sonora e em locações, Adorável Pivellina nos apresenta a pequena Asia (Asia Crippa), uma adorável menininha de aproximadamente dois anos de idade, que é abandonada em um parque do subúrbio de Roma. Ela é encontrada por Patrizia (Patrizia Gerardi), enquanto esta procurava por um cachorro que fugira. Patrizia mora com o marido Walter (Walter Saabel), com quem forma um casal de trabalhadores de circo, já de certa idade e que moram num trailer. Patrizia recolhe a menina, mas não chama a polícia, por acreditar no bilhete que estava junto com Asia, dizendo que a mãe se encontrava com problemas no momento, mas que iria buscar a filha, e pedindo para que a polícia não fosse chamada. Assim, junto com o marido (que a princípio é relutante à ideia de cuidar da menina, mas depois também se deixa cativar) e com Tairo (Tairo Caroli), neto de Walter que também mora ali num trailer por perto, Patrizia começa a cuidar de Asia. E a meiguice e fofurice da menina cativam a todos que moram ali, no estacionamento de trailers.

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Adorável Pivellina praticamente não tem história. As cenas em que a pequena menina não aparece são um tanto episódicas e sem maiores desenvolvimento. Por exemplo, quando Walter ensina Tairo a lutar, ou quando este último conversa com a namoradinha. Aliás, mesmo quando se trata de Asia, não existe uma história propriamente dita. É apenas mostrado como a pequena acaba, sem esforço, cativando as pessoas ao seu redor, devido à sua fofurice. O desenvolvimento dos outros personagens (como Walter sendo cativado, ou Patrizia pensando em adotar a menina, ou ainda Tairo dispensando uma garota para cuidar da pequena) são todos centrados em Asia. Assim, individualmente, se tornam personagens um pouco unidimensionais. Isso, entretanto, não diminui o trabalho dos atores, que trabalhando praticamente sem um roteiro, conseguem criar momentos interessantes, mesmo que a continuidade do desenvolvimento de seus personagens tenha ficado prejudicada.

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Do ponto de vista técnico, a opção por usar um tom naturalista, sem trilha sonora, apenas com sons diegéticos (sons que existem no universo do filme) e sem efeitos/filtros de fotografia, assim como uso constante da câmera na mão, fazem de Adorável Pivellina um seguidor dos preceitos do Dogma 95, e não somente no aspecto técnico, mas também no aspecto temático: trama sem ações impossíveis sem truques (como assassinatos) e filme se passado na época atual, para citar os dois mais aspectos mais visíveis do filme em relação ao dogma.

Um ponto positivo e interessante do filme é mostrar uma Roma pouco conhecida do habitué de filmes passados na cidade. Em Adorável Pivellina, vemos o subúrbio, a pobreza, o que fica bem claro logo nos primeiros planos, quando Patrizia ainda percorre alguns locais procurando pelo cão, e vai passando por prédios cinzentos e cheios de pichações. Filmado no outono/inverno, a cidade parece ainda mais opressiva, com o tempo frio e o céu constantemente cinza, nublado. Interessante é notar alguns contrapontos visuais desse clima soturno, como a visão de Patrizia com seus cabelos rosa choque sendo filmada por trás de um ângulo um pouco superior, ressaltando ainda mais essas suas cores no meio da paisagem acinzentada no início, ou então Asia no início, envolta com seus pesados agasalhos rosa claro. Uma alegoria visual, talvez, a como essas personagens acabam dando vida ao ambiente duro que as cerca?

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De qualquer modo, Adorável Pivellina é um filme quase sem história e que se apóia na fofurice e meiguice da personagem que dá nome ao filme (pivellina = pequena menina), que as esboça de maneira natural. Afinal, reações ensaiadas baseadas num roteiro, para uma menina de uns 2 anos, é praticamente impossível. Assim, o que vemos na tela é um retrato da realidade, quando transborda de alegria ao andar por uma poça d'água com botas gigantes para seu tamanho, ou quando solta aqueles risinhos característicos de bebês quando foge das ondas na praia, ou ainda quando se lambuza toda ao comer um pedaço de pizza. É, enfim, um filme fofo. É adorável? Sem dúvida. Mas se isso é o suficiente, se é um bom filme, isso depende de quem responde. Pra mim, faltou.

Trailer:

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