2012-06-22

Livro: Ilha do Medo

Nas férias passadas, finalmente diminui (um pouco) a minha fila de livros a serem lidos. Um deles foi Ilha do Medo, de Dennis Lehane. Publicado por aqui originalmente como Paciente 67, este livro inspirou o filme de mesmo nome de 2010, dirigido por Martin Scorsese e estrelado por Leonardo DiCaprio.

livro ilha do medo capa

A sinopse oficial do livro segue abaixo:

No verão de 1954, o xerife Teddy Daniels chega a Shutter Island com seu novo parceiro Chuck Aule. A dupla deverá investigar a fuga de uma interna do Hospital Psiquiátrico Ashecliffe, reservado a pacientes criminosos. Sem deixar vestígios, a assassina Rachel Solando escapou descalça de um quarto vigiado e trancado à chave. Os médicos, funcionários e enfermeiras da instituição não parecem dispostos a colaborar com a investigação. E as mentiras vêm diretamente do enigmático médico-chefe do hospital. O desaparecimento de Rachel traz à tona uma série de suspeitas sobre o hospital: com suas cercas eletrificadas e guardas armados, talvez ele não seja apenas mais um sanatório para criminosos. Surgem rumores de que uma abordagem radical e violenta da psiquiatria seria lá praticada - as suspeitas incluem desde terríveis experiências com drogas e cirurgias experimentais, até o desenvolvimento de instrumentos a serem usados na Guerra Fria. Enquanto isso, um furacão se aproxima da ilha, precipitando uma revolta entre os presos. Quanto mais perto da verdade Teddy e Chuck chegam, mais enganosa ela se torna.

livro ilha do medo

Depois de ler o livro, é perceptível que o filme é bem fiel ao livro. Apesar de ser quase regra que filmes baseados em livros são sempre inferiores ao material original, este não é o caso. Ambas as mídias, livro e filme, têm o mesmo clima soturno de thriller misturado a toques de noir. Apesar de ser basicamente um suspense policial, a história também tem uma boa dose de drama e até mesmo, pitadas filosóficas espalhadas pelo texto. A leitura é dinâmica e não é cansativa, apesar dos temas abordados pelo livro, serem pesados.

Numa avaliação resumida, Ilha do Medo vale muito a pena ser lido. Se, no entanto, você não for fã de leitura, pode se contentar somente com o filme, que faz jus ao material original.

livro ilha do medo

Abaixo, algumas citações que separei da leitura (grifos meus):

Sempre há:

"Mas abrimos mão de nosso passado para garantir o futuro?", disse Chuck atirando, com um piparote, o cigarro na espuma. "Eis a questão. O que você perde quando varre o chão, Teddy? Migalhas que de outro modo atrairiam formigas. Mas o que dizer do brinco que ela perdeu? Também foi parar no lixo?"

Teddy disse: "Quem é ela? De onde você a tirou, Chuck?".
"Há sempre uma ela, não é?"

Acordar:

Dolores morrera havia dois anos, mas revivia à noite, nos sonhos dele. E às vezes, no alvorecer. Teddy passava minutos a fio pensando que ela estava na cozinha ou tomando café na sacada do apartamento em Buttonwood. Era uma cruel ilusão armada por sua mente, claro, mas havia muito tempo que Teddy se conformara com a lógica desse acontecimento - afinal de contas, acordar era como nascer. A gente emerge sem história. Depois, entre um piscar de olhos e um bocejo, reorganiza o passado, dispondo os fragmentos em ordem cronológica, reunindo forças para enfrentar o presente.

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Sobre a violência:

Tinham chegado ao portão principal. O diretor, que continuava segurando o braço de Teddy, fê-lo girar de modo a ter à frente a casa de Cawley e, mais adiante, o mar.

"Você apreciou essa dádiva recente de Deus?"

Teddy olhou longamente o homem. Por trás daqueles olhos tão perfeitos havia um espírito doente, ele pensou. "Como? Não entendi."

"Uma dádiva de Deus", disse o diretor. Num gesto largo, o braço dele abarcava a terra devastada pelo furacão. "Sua violência. Quando desci as escadas em minha casa e vi a árvore na sala de estar, senti que aquilo era obra da mão divina. Não literalmente, é claro. Mas no sentido figurado. Deus ama a violência. Você entende isso, não é?"

"Não", disse Teddy. "Não entendo."

O diretor avançou alguns passos e se voltou para encarar Teddy. "Que outro motivo existe para tanta violência? Ela está em nós. Vem de nós. Faz parte de nossa natureza, mais do que respirar. Nós desencadeamos a guerra. Fazemos sacrifícios. Pilhamos, dilaceramos a carne de nossos irmãos. Semeamos nossos fétidos cadáveres em grandes campos. E por quê? Para mostrar a Ele que aprendemos com o Seu exemplo."

Teddy o viu acariciar a capa de um livrinho que apertava contra o ventre.

O diretor sorriu, e seus dentes eram amarelos.

"Deus nos dá terremotos, furacões, tornados. Ele nos dá montanhas que cospem fogo sobre nossas cabeças. Oceanos que engolem navios. Ele nos dá a natureza, e a natureza é um assassino sorridente. E nos dá as doenças para que, em nossa morte, acreditemos que Ele nos deu orifícios só para que sentíssemos nossa vida se escoar através deles. Deu-nos a lascívia, a raiva, a cupidez e nossos corações sujos para que pudéssemos espalhar a violência em Sua homenagem. Não existe ordem moral mais pura que essa tempestade que vimos há pouco tempo. Aliás, não existe nenhuma ordem moral. Tudo se resume apenas a isto: minha violência pode dominar a sua?"

Teddy disse: "Não estou bem certo, eu...".

"Será que pode?", disse o diretor, agora tão perto de Teddy que este lhe sentiu o hálito podre.

"Pode o quê?", disse Teddy.

"Minha violência pode dominar a sua?"

"Não sou violento", disse Teddy.


O diretor cuspiu no chão, perto dos seus pés. "Você é um homem de uma rara violência. Eu sei, porque também sou. Não se dê ao trabalho de negar sua sede de sangue, rapaz. Poupe-me disso. Se não existissem mais os mecanismos de controle social, e se eu representasse o único alimento possível, você não hesitaria em rachar o meu crânio para se banquetear com meu cérebro." Ele se inclinou para frente. "Se eu metesse os dentes no seu olho agora mesmo, você conseguiria me deter antes que eu o arrancasse?"

Teddy viu um brilho de alegria nos olhos de bebê do diretor. Imaginou o coração daquele homem, negro e palpitante, por trás da parede do peito.

"Por que não tenta?", ele disse.

"Pegou o espírito da coisa", sussurrou o diretor.

Esse diálogo, que é mantido quase que totalmente fiel no filme, é um dos meus preferidos.

12 comentários:

  1. nossa, vc digitou tudo isso? XD

    aaheu vi o filme, duas vezes...o duro é que é menos legal quando vc vai ler o livro ja sabendo o final ne?

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  2. ow colega é muito ruim, ter que ficar digitando codigo pra poder postar comentario

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  3. É pra evitar spams. Vou deixar tirado, mas se começar a receber mto spam, vou colocar de novo.

    E vc reclama do que, quase nunca comenta mesmo...

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  4. Anônimo12:17 AM

    It's a superior summary that you have written :)

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  5. deu vontade de ler...

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