2009-12-17

Linguagem corporativa: quem fala 'diferente' parece que sabe mais - by Max Gehringer

Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 17/12/2009, sobre a linguagem corporativa.

Áudio original disponível no site da CBN (link aqui). E se você quiser ler os comentários anteriores do Max Gehringer, publicados aqui, basta clicar neste link.

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Linguagem corporativa: quem fala 'diferente' parece que sabe mais

linguarudo
"Sou gerente de vendas", escreve um ouvinte, "e estou há 28 anos no mercado de trabalho. Bem empregado, graças a deus e ao meu esforço. Mas uma coisa que sempre me espantou e continua me espantando, é essa mania que alguns profissionais têm, de adotar palavras estranhas, que no fundo não querem dizer nada. Este mês, tive a mais recente demonstração dessa insanidade.

Um amigo me indicou para participar de um processo seletivo, para uma gerência numa multinacional. Como você mesmo já disse, participar de entrevistas é sempre bom, mesmo que a gente não queira a vaga. Entrevistas são úteis, porque elas impedem que um profissional enferruje. Eu fui. Uma jovem de vinte anos me recebeu e me perguntou: 'O que você tem feito para alavancar a sua empregabilidade?' Não resisti. Comecei a rir. Depois fiquei pensando: como é que alguém, que estivesse precisando muito do emprego, responderia seriamente a uma pergunta dessas?"


Bom, existem profissões que têm um linguajar próprio. Advogados, por exemplo, redigem suas petições num estilo, que ficou conhecido como linguagem jurídica, expressão que significa "não é para leigo entender".

A linguagem corporativa usa a mesma estratégia. Quem fala diferente, parece que sabe mais. O interessante é que alguns desses termos acabam grudando, como é o caso da palavra absenteísmo, que foi amplamente adotado pelas empresas. Dizer "falta ao trabalho" seria mais fácil. Mas não seria tão sonoro, nem pareceria tão culto.

A palavra empregabilidade veio da mesma forma que cozinhou o termo sustentabilidade, tão usado hoje em dia. Era uma vez, um substantivo: emprego. Do qual derivou um adjetivo: empregável. Que por sua vez gerou um novo substantivo: empregabilidade. Que poderia gerar outro adjetivo: empregabilizável.

Minha sugestão, para quem precisa muito do emprego e não pode gargalhar quando ouve a pergunta, é ler bastante, para ficar em sintonia com os termos em moda. Mas é preciso tomar cuidado com o uso deles, para não correr o risco de cair no ridículo.

Da mesma forma que o nosso ouvinte riu, um candidato que ouve uma pergunta em linguagem cotidiana, e lasca na resposta uma expressão que leu e achou bonita, como "sistematização interpessoal", poderá até divertir o entrevistador, mas não ficará com a vaga. Ou, em outras palavras, não irá alavancar a sua empregabilidade.

Max Gehringer, para CBN.

3 comentários:

  1. tem um errinho ali no penultimo paragrafo: "para ficar em sintonia para ficar com os termos em moda"

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  2. hahaha.. eu vivo inventando termos novos...

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