Sábado assisti na "sessão cult" do Cinemark Floripa o filme Direito de Amar (ou originalmente A Single Man), mais um da série "filmes cujos nomes em português enganam". Independente do nome, o filme do diretor estreante Tom Ford tem uma bela fotografia, alguns acertos visuais, mas arranca bocejos.
Ford, que também assina o roteiro (baseado em um romance de Christopher Isherwood), não é exatamente um cineasta (ou não era). Ele era o estilista responsável pela marca Gucci, e o cuidado com que tinha com imagens é sentida no filme. Entretanto, talvez por ser sua primeira experiência como diretor, ele tenha se encantado com alguns recursos e abusado deles, tornando o ritmo do filme um tanto moroso.
Um exemplo claro é o uso de câmera lenta. Pegue, por exemplo, o uso da câmera lenta ao retratar os vizinhos do personagem principal, George (interpretado por Colin Firth), em duas cenas em que usa muito a câmera lenta. Na primeira, o diretor introduz a família da vizinha interpretada por Jennifer Goodwin (em praticamente uma ponta), mostrando uma típica cena matinal, com as crianças brincando no jardim, e o marido saindo para o trabalho, não sem antes cochichar algo no ouvido da mulher. A câmera lenta aqui diz pouco: não ajuda em nada em estabelecer algo sobre os vizinhos, e se a intenção era mostrar algo interior sobre o personagem principal, sob o seu ponto de vista, sinceramente o intuito não se concretizou.
Na segunda cena em que mostra os vizinhos em câmera lenta, George sai para o trabalho e de carro, passa por estes mesmos vizinhos. A única justificativa para a câmera lenta nessa cena seria o sinal de atirar que ele faz para o filho pentelho do vizinho, mas o problema é que a câmera lenta se prolonga bem mais do que necessário. E isso se repete por boa parte do filme, imprimindo um ritmo muitas vezes tedioso nas cenas.
Direito de Amar nos conta a história do professor George Falconer (Firth), que amargura um luto pela perda do grande amor de sua vida, Jim (Matthew Goode), com quem conviveu por mais de dez anos. Sim, o professor era um homossexual nos anos 60, época em que se passa a história. E nesta época, apesar de não haver uma caça às bruxas (gays, no caso), ser assumido não era algo tão "normal" quanto é hoje. Mas esta não é o drama central do filme. O que move o filme é a profunda depressão que George se encontra, não conseguindo superar o luto.
O filme se passa todo em um dia na vida de George, o dia em que ele decidiu dar um fim a tudo. E antes que me acusem de spoiler, vejam que logo no início temos os sinais clássicos de um suicida (pelo menos, no clichê cinematográfico): despedidas com as pessoas desconfiando que tem algo errado (no caso, a primeira é a empregada), arrumação das coisas, etc... Entretanto, antes do grand finale, o dia de George ainda terá uma visita a sua amiga de longa data, Charlie (Julianne Moore), e um encontro com um aluno seu, Kenny (Nicholas Hoult), que poderão, ou não, fazer diferença na decisão de George. Se o filme se passa todo em um dia, ficamos sabendo da história de George por meio de flashbacks, sobretudo aqueles relacionados a Jim, seu companheiro.
Um dos panos de fundo de Direito de Amar é, indiscutivelmente, o movimento homossexual. Entretanto, o filme percorre esse caminho por meio da história do indivíduo, de maneira sutil, e não como um movimento de grande massa. Ou seja, foca-se no professor George. Dois momentos que exemplificam isso: logo no começo do filme, quando num pensamento, George discorre sobre "o papel que deve desempenhar". E na cena da chegada dele à faculdade, quando ele percorre o caminho contrário à corrente do resto das pessoas, uma ótima metáfora visual para a orientação do personagem.
O rótulo de "filme gay" ou "filme homossexual" não se restringe somente a trama. Visualmente, apesar de não conter cenas sexualmente explícitas (como o ruim filme brasileiro Do Começo ao Fim), Direito de Amar abusa dos corpos sarados e seminus dos personagens masculinos. Eu particularmente não gosto, mas como se fosse o contrário e mostrasse mulheres nas mesmas poses e com as mesmas vestimentas, eu não reclamaria, não dá pra ser hipócrita e dizer que este é um ponto negativo. Mas, dá sim pra dizer que a maioria dessas cenas são gratuitas, e apesar de esteticamente elegantes, são sim, do ponto de vista do roteiro, fanservices (uma terminologia que vem dos animes, que quer dizer que são imagens apenas pra deixar a galera que curte o visual mais feliz).
A atuação de Colin Firth, como já era de se esperar, é perfeita. Julianne Moore, o outro grande nome do cartaz, está bem, mas assim como o resto do elenco, suas aparições são tão breves e sem grandes atrações, que é inevitável que seja ofuscada por Firth. É dele o show.
Infelizmente, o show não é tão bom assim. Como já disse, o ritmo do filme é um problema. Preocupado em estabelecer a angústia do personagem principal, o diretor Ford sobrecarrega o filme com câmeras lentas e flashbacks, muitas vezes desnecessários para a história, mas que certamente tinham o intuito de pontuar o amor outrora existente e a angústia que a sua perda provocou. Entretanto, a própria atuação de Firth já deixa isso muito claro, e alguns flashbacks neste sentido, apenas arrastam a narrativa.
Outro ponto que eu não gostei foi a trilha sonora instrumental. Em vários momentos, ela mais incomodou do que fez com que eu entrasse na história. Por exemplo, em uma determina cena, a trilha sonora era característica de filmes de suspense. Entretanto, o que se via na tela não tinha nada de suspense, e sim, um drama. Aliás, essa parte da trilha, em particular, me lembrou muito os acordes de suspense do filme Sinais, do Shyamalan. Pois é, realmente nada a ver.
Outro ponto pra discussão, desta vez culpa do roteiro, é a impressão de que os homossexuais possuam um "gaydar". Só assim pra explicar como o personagem George é abordado tão frequentemente, por outros gays, sendo que ele não demonstra nenhum estereótipo. Talvez seja coincidência o encontro dele na loja de bebidas, mas a impressão que fica é que, magicamente, existe um "gaydar" nos não-heterossexuais.
Direito de Amar tem seus melhores momentos no final. E não só porque o filme se arrasta demais, mas sim porque o final tem umas cenas muito boas. Sobretudo, as metáforas visuais e a referência ao começo do filme, que fecha um arco e que, desta maneira, deixa o filme elegante (também) do ponto de vista de roteiro.
Enfim, Direito de Amar tem sim muitas qualidades, além da tão aclamada fotografia (que todo mundo cita, por causa do background do diretor). Entretanto, o seu ritmo lento e arrastado faz com que a obra perca muito do que poderia ter sido. E inevitavelmente, ouvem-se alguns bocejos durante a sua exibição.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
ah, quero ver, mesmo q dê sono... rs
ResponderExcluirquero ver!!!!!
ResponderExcluirHuuuuum...Estava em dúvida quanto a esse filme, mas acho que vou ver. Adoro esses atores.
ResponderExcluirBeijão,
Bela - A Divorciada