2010-06-21

Filme: Direito de Amar

Sábado assisti na "sessão cult" do Cinemark Floripa o filme Direito de Amar (ou originalmente A Single Man), mais um da série "filmes cujos nomes em português enganam". Independente do nome, o filme do diretor estreante Tom Ford tem uma bela fotografia, alguns acertos visuais, mas arranca bocejos.

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Ford, que também assina o roteiro (baseado em um romance de Christopher Isherwood), não é exatamente um cineasta (ou não era). Ele era o estilista responsável pela marca Gucci, e o cuidado com que tinha com imagens é sentida no filme. Entretanto, talvez por ser sua primeira experiência como diretor, ele tenha se encantado com alguns recursos e abusado deles, tornando o ritmo do filme um tanto moroso.

Um exemplo claro é o uso de câmera lenta. Pegue, por exemplo, o uso da câmera lenta ao retratar os vizinhos do personagem principal, George (interpretado por Colin Firth), em duas cenas em que usa muito a câmera lenta. Na primeira, o diretor introduz a família da vizinha interpretada por Jennifer Goodwin (em praticamente uma ponta), mostrando uma típica cena matinal, com as crianças brincando no jardim, e o marido saindo para o trabalho, não sem antes cochichar algo no ouvido da mulher. A câmera lenta aqui diz pouco: não ajuda em nada em estabelecer algo sobre os vizinhos, e se a intenção era mostrar algo interior sobre o personagem principal, sob o seu ponto de vista, sinceramente o intuito não se concretizou.

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Na segunda cena em que mostra os vizinhos em câmera lenta, George sai para o trabalho e de carro, passa por estes mesmos vizinhos. A única justificativa para a câmera lenta nessa cena seria o sinal de atirar que ele faz para o filho pentelho do vizinho, mas o problema é que a câmera lenta se prolonga bem mais do que necessário. E isso se repete por boa parte do filme, imprimindo um ritmo muitas vezes tedioso nas cenas.

Direito de Amar nos conta a história do professor George Falconer (Firth), que amargura um luto pela perda do grande amor de sua vida, Jim (Matthew Goode), com quem conviveu por mais de dez anos. Sim, o professor era um homossexual nos anos 60, época em que se passa a história. E nesta época, apesar de não haver uma caça às bruxas (gays, no caso), ser assumido não era algo tão "normal" quanto é hoje. Mas esta não é o drama central do filme. O que move o filme é a profunda depressão que George se encontra, não conseguindo superar o luto.

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O filme se passa todo em um dia na vida de George, o dia em que ele decidiu dar um fim a tudo. E antes que me acusem de spoiler, vejam que logo no início temos os sinais clássicos de um suicida (pelo menos, no clichê cinematográfico): despedidas com as pessoas desconfiando que tem algo errado (no caso, a primeira é a empregada), arrumação das coisas, etc... Entretanto, antes do grand finale, o dia de George ainda terá uma visita a sua amiga de longa data, Charlie (Julianne Moore), e um encontro com um aluno seu, Kenny (Nicholas Hoult), que poderão, ou não, fazer diferença na decisão de George. Se o filme se passa todo em um dia, ficamos sabendo da história de George por meio de flashbacks, sobretudo aqueles relacionados a Jim, seu companheiro.

Um dos panos de fundo de Direito de Amar é, indiscutivelmente, o movimento homossexual. Entretanto, o filme percorre esse caminho por meio da história do indivíduo, de maneira sutil, e não como um movimento de grande massa. Ou seja, foca-se no professor George. Dois momentos que exemplificam isso: logo no começo do filme, quando num pensamento, George discorre sobre "o papel que deve desempenhar". E na cena da chegada dele à faculdade, quando ele percorre o caminho contrário à corrente do resto das pessoas, uma ótima metáfora visual para a orientação do personagem.

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O rótulo de "filme gay" ou "filme homossexual" não se restringe somente a trama. Visualmente, apesar de não conter cenas sexualmente explícitas (como o ruim filme brasileiro Do Começo ao Fim), Direito de Amar abusa dos corpos sarados e seminus dos personagens masculinos. Eu particularmente não gosto, mas como se fosse o contrário e mostrasse mulheres nas mesmas poses e com as mesmas vestimentas, eu não reclamaria, não dá pra ser hipócrita e dizer que este é um ponto negativo. Mas, dá sim pra dizer que a maioria dessas cenas são gratuitas, e apesar de esteticamente elegantes, são sim, do ponto de vista do roteiro, fanservices (uma terminologia que vem dos animes, que quer dizer que são imagens apenas pra deixar a galera que curte o visual mais feliz).

A atuação de Colin Firth, como já era de se esperar, é perfeita. Julianne Moore, o outro grande nome do cartaz, está bem, mas assim como o resto do elenco, suas aparições são tão breves e sem grandes atrações, que é inevitável que seja ofuscada por Firth. É dele o show.

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Infelizmente, o show não é tão bom assim. Como já disse, o ritmo do filme é um problema. Preocupado em estabelecer a angústia do personagem principal, o diretor Ford sobrecarrega o filme com câmeras lentas e flashbacks, muitas vezes desnecessários para a história, mas que certamente tinham o intuito de pontuar o amor outrora existente e a angústia que a sua perda provocou. Entretanto, a própria atuação de Firth já deixa isso muito claro, e alguns flashbacks neste sentido, apenas arrastam a narrativa.

Outro ponto que eu não gostei foi a trilha sonora instrumental. Em vários momentos, ela mais incomodou do que fez com que eu entrasse na história. Por exemplo, em uma determina cena, a trilha sonora era característica de filmes de suspense. Entretanto, o que se via na tela não tinha nada de suspense, e sim, um drama. Aliás, essa parte da trilha, em particular, me lembrou muito os acordes de suspense do filme Sinais, do Shyamalan. Pois é, realmente nada a ver.

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Outro ponto pra discussão, desta vez culpa do roteiro, é a impressão de que os homossexuais possuam um "gaydar". Só assim pra explicar como o personagem George é abordado tão frequentemente, por outros gays, sendo que ele não demonstra nenhum estereótipo. Talvez seja coincidência o encontro dele na loja de bebidas, mas a impressão que fica é que, magicamente, existe um "gaydar" nos não-heterossexuais.

Direito de Amar tem seus melhores momentos no final. E não só porque o filme se arrasta demais, mas sim porque o final tem umas cenas muito boas. Sobretudo, as metáforas visuais e a referência ao começo do filme, que fecha um arco e que, desta maneira, deixa o filme elegante (também) do ponto de vista de roteiro.

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Enfim, Direito de Amar tem sim muitas qualidades, além da tão aclamada fotografia (que todo mundo cita, por causa do background do diretor). Entretanto, o seu ritmo lento e arrastado faz com que a obra perca muito do que poderia ter sido. E inevitavelmente, ouvem-se alguns bocejos durante a sua exibição.

Trailer:



Para saber mais: crítica no Omelete.

3 comentários:

  1. ah, quero ver, mesmo q dê sono... rs

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  2. Huuuuum...Estava em dúvida quanto a esse filme, mas acho que vou ver. Adoro esses atores.

    Beijão,

    Bela - A Divorciada

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