Filme: Do Começo ao Fim

Ontem fui ao cinema assistir o filme Do Começo ao Fim, filme meio cult e pretensamente polêmico. E já adianto que achei o filme fraco demais.


Eu digo que o filme é pretensamente polêmico pois ele aborda dois assuntos ainda tabus na sociedade. O primeiro é o relacionamento homossexual, que por si só nem tabu é, mas que ainda talvez choque quando mostrado graficamente, fora dos limites da pornografia. E o segundo tabu é o incesto, no caso do filme, entre os dois meio-irmãos. Apesar do tema potencialmente polêmico e pesado, o filme meio que ignora toda a carga que esses dois assuntos carregam, e entrega uma historinha de amor diferente, claro, mas totalmente sem sal.

Do Começo ao Fim conta a história de Francisco e Thomás, filhos de mesma mãe, mas pais diferentes. Crescendo juntos, eles acabam se envolvendo, num relacionamento incestuoso/homossexual.


O filme é claramente dividido em duas partes: a primeira mostra os dois irmãos ainda crianças, onde é mostrado um forte apego entre os dois, a cumplicidade exacerbada, o sentimento de carinho e proteção de Francisco (o mais velho, uns 5 ou 6 anos) para com o irmão menor Thomás. Esta primeira parte do filme é também a mais interessante, onde temos maior participação dos atores já conhecidos, como Julia Lemmertz como a mãe, e Fábio Assunção como o pai de Thomás. E onde é pincelada um começo de discussão acerca dos temas incesto/homossexualismo, quando ainda crianças, o forte laço entre os irmãos é notada como algo mais.

Infelizmente, mal começa esse ponto de discussão, ela já se encerra, quando pulamos para a segunda parte do filme, o presente, quando os dois irmãos já são adultos e vivem a sua relação homossexual incestuosa sem nenhuma dificuldade, sem nenhum conflito (a não ser um ciuminho bobo passageiro), enfim, como se tudo isso fosse a coisa mais "normal" do mundo. Sorry, mas não é.


Abro um parêntese aqui, para falar que, queira ou não, normal significa estar dentro da média, estar junto com a maioria. Sem juízo de valores, ou seja, ser anormal não significa (necessariamente) que você é menos (em qualquer escala que você adote) que um normal. A sociedade vai te dizer o contrário, mas como toda boiada, ela é burra. Fim do parêntese.

Nesta segunda parte, tudo o que vemos de conflito é a separação dos dois irmãos devido a carreira: Thomás, o mais novo, vai para Rússia (!) treinar natação para as Olimpíadas. E começa um drama insosso sobre a separação, com um pequeno flerte, pela parte do mais velho, numa escapada hétero, mas claro, sem sucesso.


Interessante notar que essa segunda parte do filme é majoritariamente gráfica: os diálogos são escassos. Em compensação, frequentemente o diretor mostra os dois irmãos nús, e mais frequentemente ainda, os mostra aos agarros, em várias cenas apenas com música ao fundo. E cenas que não agregam nada à história, apenas para chocar algum "puritano radical" (mas será que algum puritano paga a entrada?) ou deleitar gays e fãs de yaoi que ainda não descobriram as maravilhas da pornografia online. ;) Se bem que não precisa nem ir tão hardcore assim pra ter imagens melhores, basta ver um filme como Shortbus.


Tecnicamente, o filme ainda se salva: a fotografia de modo geral está legal, e as atuações estão boas, e mesmo a atuação das crianças, que em filmes brasileiros geralmente são muito ruins, está aceitável. Fábio Assunção continua meio canastrão, mas pelo menos, mais contido.

Em suma, esperava muito mais do filme, pelo trailer (que vi primeiro no A Vida Secreta há vários meses). Do Começo ao Fim poderia render uma boa polêmica/discussão pela sua história, mas acaba sendo polêmico apenas em sua sinopse.

Trailer:



Para saber mais: Site oficial do filme e crítica no Omelete.