Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 16/03/2010, sobre o trote nas faculdades.
Áudio original disponível no site da CBN (link aqui). E se você quiser ler os comentários anteriores do Max Gehringer, publicados aqui, basta clicar neste link.
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Uma brincadeira de mau gosto
Esta não é bem uma consulta sobre o mercado de trabalho, mas acredito que valha a pena responder.
Uma ouvinte, mãe de um jovem de 18 anos que ingressou numa faculdade, escreve: "Meu filho sofreu um trote violento. Teve várias escoriações e corte no corpo. Será que ninguém está vendo o perigo que essas brincadeiras representam para a integridade física dos calouros? Será que vamos ter que esperar por uma tragédia, para que as autoridades tomem providências?"
Sim, senhora. Todo mundo está vendo. E faz bastante tempo.
O trote tem mais de um século, e as suas origens são européias. Os calouros de entanho, aceitavam de bom grado as brincadeiras dos veteranos. Porque ingressar em uma universidade era um passo que apenas os jovens muito privilegiados e abonados, podiam dar.
Com esse mesmo espírito, o trote chegou ao Brasil. E aqui também, os calouros não se incomodavam com as pequenas humilhações que sofriam, porque sabiam que o diploma universitário seria um passaporte carimbado para o sucesso.
Só que isso mudou. No meio da década de 1960, o Brasil tinha 400 faculdades. E apenas 1 de cada 500 jovens brasileiros, conseguia concluir um curso superior. 15 anos depois, em 1980, o número de faculdades chegou a 1000, e a partir da década de 1990, deslanchou de vez. Atualmente, há mais faculdades do que supermercados no Brasil.
Como a oferta de cursos aumentou, o preço da anuidade caiu. Permitindo que qualquer jovem com um mínimo de recursos possa ter acesso a um curso superior. Por isso, o trote se tornou uma brincadeira anacrônica. Perdeu a sua importância histórica e infelizmente, em muitos casos, ganhou requintes de sadismo e de perversidade.
Contrariando até a lógica, mesmo em cursos superiores que só conseguem preencher metade das vagas oferecidas, o trote ainda persiste.
Há muitas maneiras civilizadas de dar boas vindas aos calouros, como campanhas para fins sociais, que são praticadas nas faculdades que já viraram a folhinha do século 20.
E quanto à sua pergunta, a resposta infelizmente é: sim. No Brasil, muitas tragédias anunciadas costumam ser ignoradas pelas autoridades, que depois se desculpam como se tivessem sido apanhadas de surpresa.
Max Gehringer, para CBN.
2 comentários:
putz, acho o trote uma coisa sem graça e completamente sem noção, mas tem gente q pede por isso né?
Nem comento mais nada sobre o trote depois do meu post sobre isso... acho q existem trotes e trotes e um trote onde alguém se machuque deve ser banido, porém, não é todo mundo que é assim...
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