Misturando artes marciais chinesas tradicionais (e eventualmente dois ninjas japoneses) com elementos de fantasia, Guangjian Huang cria ilustrações de guerreiros e guerreiras portando armas clássicas de kung-fu e vestidos com armaduras tradicionais chinesas medievais, mas com um toque pop atual. O resultado são ilustrações que parecem uma mistura de O Tigre e o Dragão com toques do colorido de animes.
Vejam a fantasia e artes marciais chinesas nas ilustrações de Guangjian Huang:
Sabe aqueles filmes que começam em um gênero e têm uma virada que os transforma num gênero completamente diferente? Talvez o exemplo mais emblemático (ou pelo menos mais citado) seja Um Drink no Inferno, que começa com uma pegada mais dramática/suspense policial e na metade se transforma num terror gore/galhofa. Bem, o curta Burning Hearts (em tradução livre, "Corações em Chamas"), dirigido por James McFay e produzido por Toshio Hanaoka, é um desses exemplos de histórias que se transformam ao longo da narrativa, passando de um gênero a outro. (Se não quiser spoilers, dê um play agora. Vídeo sem legendas, mas fácil de entender.)
O início de Burning Hearts nos mostra o drama pessoal de Elle, uma modelo no Japão, que tem seu coração quebrado. Atordoada, ela não percebe que está andando em direção a elementos não muito recomendáveis. E é nesse momento que o herói de nossa história, um taxista, se mostra, lutando para proteger a mocinha.
O curta começa como um drama convencional (decepções amorosas fazem parte da vida, afinal), mas com um contexto que o diferencia (modelos no cenário japonês). Mas depois de uns 7 minutos, o curta torna-se um filme de ação e artes marciais.
Com uma cena de luta emblemática, filmada toda em um único longo plano, a segunda parte do curta tem aquele ar de jogos de luta dos 16-bit (como Streets of Rage ou Final Fight), onde o herói caminha por um caminho horizontal, derrotando inimigos que surgem todos vestidos do mesmo jeito. Até mesmo o logo de Burning Hearts nos remete a essa ideia (reparem como é parecido com o logo do Final Fight, usando a mesma tipologia).
Martin Klimas é um fotógrafo alemão que trabalha com fotos de alta velocidade tiradas em momentos exatamente calculados, como mostram a séries Vases (Vasos, em que o artista tira fotos de vasos com flores no exato momento em que uma bala os atravessa) ou então nesta série Porcelain Figurines (Bonecos de porcelana), cujo resultado é impressionante e tem se tornado viral pela internet.
Neste projeto, o artista joga vários bonecos de porcelana de uma altura de aproximadamente 3 metros. Uma câmera acionada pelo som das figuras se quebrando é preparada para capturar as imagens em alta velocidade. Dentre os vários bonecos que Martin usou, alguns se destacam: as figuras que remetem a monges shaolins e praticantes de kung fu. O efeito dessas figuras se despedaçando, com partes inteiras e partes em pedaços, dá a sensação de que o poder desses lutadores ultrapassa até mesmo os próprios limites.
Vejam:
Monges carecas shaolin lutando e quebrando tudo.
Não lembra um pouco o filme Tai-chi Master do Jet Li?
Batalhas ferrenhas.
Dragão despedaçando-se.
O fotógrafo não se resume a jogar figuras de porcelana baseadas em artes marciais, Klimas também usa bonecas de porcelana mais tradicionais, sejam de temas orientais, quanto de ocidentais. Nessas fotos as bonecas não parecem emanar poder, mas sim estarem sendo massacradas. Não tanto quanto essas macabras noivas de porcelana de Jessica Harrison, mas mesmo assim...
Se a suspeita do Irã esconder armas nucleares já não fosse razão suficiente para pensar dez vezes antes de invadir o país, temos agora essa. No Irã, cerca de 3500 mulheres treinam para serem... ninjas. Ou, usando o termo correto, kunoichi, que são ninjas mulheres.
Imagine um exército de mulheres treinadas escondidas por baixo de véus e burcas. Isso daria uma excelente rede de espionagem. Junte isso à arte ninja, com o treino de combate corporal e domínio de armas, e tenha medo...
A repórter Gisoo Misha Ahmadi entrou um pouco no mundo das ninjas iranianas e mostra nessa reportagem (em inglês, mas perfeitamente entendível):
É claro, hoje em dia, todas essas milenares artes de assassinato (afinal, ninjas eram os hitman feudais japoneses) "abrandaram", com o discurso do "Dô" (caminho) prevalecendo ao invés apenas dos "Jutsu" (técnica). Assim, o discurso oficial é que o treino serve como um programa de promoção de igualdade entre homens e mulheres. Com uma mulher ninja em casa, fica difícil mesmo o homem se meter a besta.
Imagine que você está andando tranquilamente pelas ruas de Toronto (Canadá), quando encontra um cartaz te desafiando para uma luta com um ninja. Ele é só um ninja mirrado, ali parado perto do cartaz. Ali perto, uma espada (de brincadeira, claro) no chão. Você encara?
Então se prepare... porque ninjas nunca vêm sozinhos...
Fantástica animação de Olivier Trudeau feita em stop motion, mostrando um duelo mortal entre dois ninjas clássicos. Excelente curta, tanto na parte técnica com a animação, música e fotografia, quanto na coreografia de luta. Se alguém ainda não viu, veja:
E se ninjas usassem além de todos os apetrechos tradicionais, algo mais moderno como armas de portais*?
Adorei esse vídeo, com ótima coreografia de artes marciais e um uso decente de efeitos especiais.
*Portal é um jogo em primeira pessoa que você tem uma arma que com um tiro abre um portal laranja e com outro tiro abre um portal azul, e você entra em um portal e sai em outro. E desse jeito, tem que ir passando pelas fases, que são grandes puzzles. Eu particularmente não joguei porque não sou fã de puzzles.
Eu esperava muito pouco da nova animação da Dreamworks, o filme Kung Fu Panda 2. Achei o primeiro filme até simpático, com boas piadas mas com uma história bem fraca (e que tinha como o maior mérito a animação em si, especialmente as coreografias de arte marciais de cada animal seguindo o seu estilo típico do kung-fu). Esperava mais do mesmo, mas ao assistir Kung Fu Panda 2, me surpreendi. E com aquele tipo de surpresa boa.
No primeiro Kung Fu Panda, Po, o panda que dá nome ao filme, aprende kung-fu e se torna uma hábil lutador (ou praticante da arte, como queiram). Neste filme, ele não buscará mais a sua força interior, mas a sua paz interior, numa evolução que o levará a arte mais próxima do tai chi chuan. Mas para descobrir a sua paz interior, Po terá que voltar seus olhos ao passado. E é no passado que o filme começa, contando com uma animação mais estilizada (lembrando um pouco aqueles teatros de bonecos), como um príncipe pavão ordenou a morte de todos os pandas por temer a profecia de que um guerreiro preto e branco o derrotasse. Já no presente, esse pavão Lord Shen ameaça o próprio kung-fu ao utilizar o conhecimento da pólvora para construir imensos canhões. Sem saber a princípio do seu passado, Po e os cinco guerreiros partem para tentar deter Lorde Shen, que já derrotara um dos mestres do kung fu, o mestre Rino(ceronte).
Vale ressaltar também que a animação convencional em 2D, usada para ilustrar o passado de Po em flashbacks, dá um toque muito esperto ao filme. Afinal se o presente é 3D, como mostrar o passado? Além é claro, da animação em 2D ser muito bem produzida, com um toque de estilo oriental.
Uma das melhores coisas de Kung Fu Panda foi a caracterização dos animais como personagens do universo de filmes de kung-fu, e isso se mantém neste segundo filme. Os pavões, por exemplo, como inventores dos fogos de artifício é uma ideia genial, uma vez que a própria natureza bela e exibicionista das caudas dos pavões combina muito com os fogos explodindo nos céus. Fora, claro, a parte do kung-fu, que coloca Lord Shen como especialista na luta com um leque (que, usado em conjunto com sua cauda, forma uma combinação de leques muito bacana). Também repare que os soldados inimigos são lobos e gorilas (animais ameaçadorers), enquanto a população oprimida é formada por coelhos e carneiros (animais tranquilos). E claro, as características de cada animal participante dos cinco guerreiros (víbora, tigresa, macaco, garça e gafanhoto) como lutadores de kung-fu continua igualmente ótima, sendo uma excelente homenagem tanto a filmes de artes marciais quanto às próprias.
Kung Fu Panda 2 tem um arco dramático muito melhor resolvido e mais profundo, na minha opinião. Tanto para Po quanto para Shen, o papel dos seus pais é algo importantíssimo, embora de maneiras totalmente distintas. O filme tem um roteiro bem desenvolvido, mesmo que deixe os personagens secundários apagados (isso, em prol do desenvolvimento do personagem principal e de seu algoz neste filme). Entretanto, o roteiro não se esquece totalmente deles, dando-lhes momentos cômicos ou mesmo em pouquíssimas cenas, desenvolvendo um outro aspecto, como é o caso das cenas da Tigresa com Po.
Isso faz com que Kung Fu Panda 2 tenha menos piadas, mas ganhe mais em história. O que eu considero muito acertado, uma vez que por quanto tempo mais aguentaríamos a quantidade de piadas envolvendo os dotes físicos do urso, coisa que foi explorada a fundo no primeiro filme? Apesar de não terem sido totalmente abandonadas, como bem mostra uma piada mo trailer, sobre a fome de justiça do punho de Po, elas estão em menor quantidade, e mais importante: estão bem equilibradas entre as cenas de ação e o desenvolvimento da história.
É interessante ver a Dreamworks (e alguns outros estúdios) se aproximando do padrão Pixar de contar histórias, focando bastante nas narrativas e não somente na técnica ou no festival de bichinhos fofos, como podemos ver em Como Treinar o seu Dragão (também da Dreamworks), ou mesmo Tá Chovendo Hambúrger (da Sony), que são excelentes animações com histórias igualmente ótimas. Recomendadíssimos, assim como este novo Kung Fu Panda 2.
Fantástico vídeo onde o ator japonês Taichi Saotome luta com sombras projetadas (na verdade, se projetam luzes, mas você me entendeu), num espetáculo de coreografia e artes marciais. A performance ocorreu num teatro em Tóquio, como comemoração do ano novo.
Pra quem gosta de espadas, katanas, artes marciais e claro, animes de luta estilo Bleach, é um deleite visual:
Boas histórias são atemporais. Talvez o meio em que elas trafeguem acabe datado, mas a história em si continua se sustentando. No cinema, esse fato é bem visível. Talvez o cabelo ou o carro do personagem entreguem logo de cara a época que o filme foi feito, mas a história em si se mantém bem atual. E em alguns raros, mas felizes casos, a própria estética não sofre muitas mudanças. E é esse o caso do Karate Kid original, de 1984, aquele com o Daniel-san (Ralph Macchio) e o Mestre Miyagi (Pat Morita). Em vista disso, por que fazer uma refilmagem? Tirando o motivo financeiro de lucrar uns trocos, não sei.
O novo Karate Kid (no original, The Karate Kid) segue fielmente o original. A estrutura é basicamente a mesma: mãe e filho se mudam para um lugar distante (desta vez, a China, em vez da costa oeste dos Estados Unidos). Neste novo lugar, o menino conhece menina, rola um clima entre eles, mas tem um valentão que também está de olho nela. E esse valentão pratica uma arte marcial com um professor impiedoso cuja filosofia é ganhar, custe o que custar, e sem piedade com o inimigo. E claro, o valentão é bem mais forte que o nosso herói, que acaba comendo o pão que o diabo amassou. Até que o zelador do prédio em que o menino mora, que parecia ser apenas um velho acabado, salva o menino de tomar uma surra e se revela um verdadeiro mestre das artes marciais. E começa a treinar o menino nesta arte, para que ele enfrente o valentão e sua gangue num campeonato oficial.
Ok, agora coloque os detalhes específicos no parágrafo acima, como kung-fu ou karate, e você pode ter tanto o filme original quanto a nova versão. De fato, vários diálogos são praticamente iguais, como o discurso do mestre do mal ("sem piedade"), ou quando Dre se desespera e briga com a mãe, querendo voltar ao seu lar, e ela fala que o lar deles é lá agora.
O novo Karate Kid tem alguns acertos e alguns erros, em relação ao original. Logo no início do filme, vemos o menino Dre (Jaden Smith, filho do Will Smith) deixando o seu apartamento e indo para o aeroporto com sua mãe Sherry (Taraji P. Henson), de onde partirão para a China. Essa pequena sequência inicial, mostrando o que Dre perdeu por se mudar, apesar de curta, é ótima para situar o personagem.
Outro aspecto que ficou excelente nesta versão, na minha opinião, é a idade do protagonista-título, mais jovem em relação ao filme original. Algo que sempre me incomodou no original era o jeito infantil e um tanto mimado, de Daniel-san, que me fazia mesmo ter vontade de espancá-lo, pra ver se aprendia a não ser um bebê chorão (por exemplo, depois de levar uma surra por causa de estar xavecando a mocinha, ele fica chorando e fica bravo com ela, afastando-a, em vez de aceitar os cuidados dela). Atitudes do personagem que combinam bem melhor com uma criança de 12 anos do que com um adolescente de 16.
Outra diferença, bem vinda, são as atitudes de Xiao Dre (o novo "Daniel-san", mas com um sentido um pouco diferente, já que 'xiao' segundo o filme, significa 'pequeno'). Mesmo tendo seus momentos de choro (em que Jaden consegue ótimas performances), o personagem tem uma atitude mais forte. Pelo menos, não me faz querer esbofeteá-lo pra ver se toma jeito.
Ainda no campo dos aspectos positivos da nova versão, temos o bom e velho (agora literalmente falando) Jackie Chan, como o senhor Han. Acertadamente, o senhor Han é muito diferente do senhor Miyagi de outrora. Exibindo uma atuação excelente em termos dramáticos, a cena em que o senhor Han conta a história de sua família é uma das melhores do filme. Jackie Chan prova, numa pequena sequência, que tem muito mais do que acrobacias maravilhosas. Infelizmente, a sequência dessa cena é de matar de vergonha alheia, quebrando todo o clima desenvolvido, como se um treino com uns bastões realmente fizesse a diferença naquele momento.
Em se tratando de Jackie Chan, não poderiam faltar lutas espetacularmente coreografadas e encenadas. E realmente, a cena em que o senhor Han defende Dre da turma de valentões, é ótima. Além da luta em si, a câmera do diretor Harald Zwart se posiciona muito bem, executando bons movimentos intercalados com alguns cortes precisos. Entretanto, parece que o diretor se esqueceu disso no final, quando temos o famigerado campeonato. Nessas cenas finais, as lutas são bem mais "duras", com cortes secos e desnecessários, e mais parecidas com as do filme original (que tinha uma razão de ser, afinal, karate é mais 'engessado' do que o kung-fu mesmo).
E esse não é o único defeito deste novo Karate Kid. Se no caso do personagem principal a diminuição da idade ajudou, no caso dos seus inimigos, ela prejudicou. Afinal, mesmo praticantes de artes marciais, eles eram crianças. E, como uma gangue de arruaceiros e "punks", não convencem muito.
Outro ponto pouco explorado no filme é a barreira da linguagem. Piadas com o problema da língua, por exemplo, só tem uma, logo no começo. Mas é compreensível, já que afinal, em Beijing na China, quase todo mundo fala inglês... E se tem uma coisa que não falta no filme, é a lembrança de que estamos na China. Além de várias cenas (gratuitas) visitando pontos turísticos, como a Grande Muralha e a Cidade Proibida, na primeira metade do filme somos invadidos por imagens da cidade, com altos arranha-céus sendo construídos, o trânsito complicado, e claro, as praças cheias de idosos praticando tai chi chuan.
E nem vou comentar o nome do filme, que deveria ter sido (em todo o mundo, não só na China), Kung Fu Kid. Mesmo que em um determinado momento a mãe de Dre diga algo como "karate, kung fu, tanto faz", Karate Kid não deixa de ser um péssimo título para este filme, se o analisarmos separadamente do primeiro.
Apesar de se perder em alguns momentos (Por exemplo, o que é a história do uniforme escolar? Depois de um fuzuê inicial, Dre sempre aparece vestido diferente quando todos os outros alunos estão de uniforme...), o novo Karate Kid é até divertido. Assim como no original, o treinamento não convencional de Dre é bem bacana (apesar de eu ter certeza de que tirar e colocar a jaqueta não ganha em carisma do pintar a cerca e lixar o chão). Infelizmente, o filme acaba se tornando um pouco cansativo no final, com suas duas horas e vinte minutos.
Com produção dos pais do astro do filme, Jada Pinkett Smith e Will Smith, o novo Karate Kid tem uma aura de nostalgia para aqueles que viram o primeiro e que gostam de filmes de artes marciais. Mas no final, ainda me parece que quem mais se divertiu no filme, foi a família Smith.
Bem, antes de começar a falar sobre o filme O Último Mestre do Ar (ou The Last Airbender no original), devo dizer que nunca assisti o desenho que deu origem a esta adaptação cinematográfica. Mas apesar dos defeitos do filme, depois de assisti-lo, fiquei com vontade de ver o desenho (um "american anime").
O Último Mestre do Ar é a adaptação cinematográfica do desenho Avatar, que por causa do filme do James Cameron, mudaram um pouco o nome. O filme conta a história de Aang, um Avatar. No universo do filme, existem seres humanos capazes de manipular elementos, mas somente uma única pessoa a cada geração, o Avatar, consegue manipular todos os quatro (ar, água, fogo, terra). Além disso, o Avatar é o responsável por manter o equilíbrio do mundo, um elo entre o mundo físico e espiritual.
Acontece que o último Avatar sumiu por centenas de anos, e o mundo entrou em desequilíbrio. Uma das nações (são quatro, uma para cada elemento), a nação do fogo, iniciou uma guerra e pretende dominar o mundo. Coisa básica de vilão. Mas o Avatar ressurge, na figura de Aang (Noah Ringer), um garoto de 12 anos que ficou muitos anos aprisionado no gelo. Acordado de seu sono secular por Katara (Nicola Peltz, uma gracinha) e seu irmão Sokka (Jackson Rathbone), Aang inicialmente não tem noção do que aconteceu, mas logo descobre duas coisas básicas: a primeira, que ele é perseguido pelos agentes da nação do Fogo, que temem o Avatar como a última barreira entre eles e a dominação mundial (insira risada maléfica aqui); e a segunda, é que ele é o último remanescente do seu mosteiro, onde treinava com seus amigos e mestres monges, a dominação do ar (o seu elemento primordial).
Como Aang, antes de ser aprisionado no gelo, fugira do mosteiro antes de aprender a dominar todos os elementos, eles partem numa jornada para aprender a dominação dos outros elementos e para acabar com a guerra. A história simplificadamente é esta.
O desenho teve três temporadas, e esse filme adapta apenas a primeira temporada (que na mitologia do desenho, é o livro um, o livro da água). Ou seja, O Último Mestre do Ar seria o primeiro de uma trilogia. E como todo meio que começa uma história, grande parte do tempo é gasto situando o espectador naquele universo em particular, por isso, explicações são abundantes durante o filme. Entretanto, o roteiro de M. Night Shyamalan, que também dirige o filme, consegue não ser maçante ao distribuir boa parte das explicações ao longo da película.
Se neste ponto o roteiro é interessante, em outros ele peca muito. Como teve que condensar uma temporada inteira (mais de 20 episódios) do desenho em torno de duas horas, é normal que se cortem coisas e que seja notado um certo senso de urgência ao contar a história, em comparação ao original (acredite, isso acontece nos filmes do Senhor dos Anéis, mesmo com 3 horas, mais ou menos, em cada filme, sendo que as versões extendidas com quase uma hora a mais, se mantém mais fiéis aos livros). Essa correria faz com que não dê tempo para desenvolver apropriadamente os personagens, como os companheiros de Aang, Katara e Sokka. De fato, no filme, a própria relação entre esses personagens se torna estranha, a dinâmica entre Aang e Katara, por exemplo: a relação é claramente forte e desenvolvida, mas não acompanhamos esse desenvolvimento, que para o espectador, parece ter brotado do nada. Por isso, o senso de urgência.
Outro ponto fraco do roteiro são pequenas "homenagens" ou referências a cenas claramente presentes no desenho, e que acabam não funcionando num filme. Podemos observar alguns diálogos fraquíssimos, como a ameaça do Príncie Zuko (Dev Patel, aqui fazendo o papel de "vilão" da história) a Aang, para ir com ele para o navio, ou ele queimaria a aldeia onde estava, no estilo "Venha para o navio senão eu queimarei toda a aldeia", e Aang obedecendo com apenas um "ok", ou ainda quando a avó de Katara explica que a função do Avatar também seria "mudar o coração das pessoas", porque "a guerra se vence pelo coração". Sim, piegas mode ON. Além disso, certas cenas, como a cena cômica onde o "bichinho" de estimação (que mais parece um mamute voador) de Aang fica em cima de Sokka, quase o esmagando, simplesmente não têm graça no filme, apesar de serem potencialmente boas num desenho.
Aliás, o elemento cômico, ou a falta dele, parece ser algo que incomodou bastante os fãs do desenho. Realmente, O Último Mestre do Ar tem poucos alívios cômicos. Boa parte do filme tem um clima sombrio e dramático, o que não considero um defeito. Ao fazer a adaptação, Shyamalan tinha a escolha entre focar o drama ou a comédia, mas dificilmente conseguiria encaixar ambos com o devido destaque, devido às limitações do tempo de filme. Assim, creio que foi acertada a escolha, afinal, a história de Aang, se formos refletir, é bem dramática (imagine você acordar uns 100 anos no futuro e todos aqueles que você conhecia e estimava estarem mortos). Entretanto, creio que, se houver uma continuação, haja mais alívios cômicos, já que a apresentação dos personagens já foi feita neste filme (e certos traumas dos personagens tenham sido resolvidos também).
Se o roteiro de O Último Mestre do Ar não é lá essas coisas, visualmente o filme é ESPETACULAR. Sim, com letras maiúsculas. Os efeitos especiais dos mestres dominadores dos elementos estão excelentes, mas é na coreografia e na dominação da câmera (não resisti à piadinha), que o filme se destaca. E muito.
A coreografia das lutas misturam a plasticidade das artes marciais chinesas de maneira linda, combinando movimentos de tai chi chuan com movimentos de kung fu "mais agressivo" - afinal, é tudo kung fu. E junte-se a isso a dominação dos elementos, somando os efeitos especiais de cada elemento de maneira tão fluida quanto os movimentos dos personagens. Agora, perceba que tudo isso é mostrado em longos planos, em que a câmera se movimenta ao redor dos personagens acompanhando-os por longos períodos, como o maravilhoso plano em que Aang enfrenta ao lado dos dominadores da terra, alguns dominadores do fogo. Além de realçar a coreografia das lutas, esses planos longos são como um contraponto ao corte rápido, que geralmente é usado como recurso para dar um senso de ação/perigo à cena.
Com atuações médias de seus protagonistas (no começo, temos a impressão que os jovens protagonistas estão pouco confortáveis, mas isso passa ao longo do filme), O Último Mestre do Ar, como um filme de ação/drama, é bem eficiente e cumpre o que se propõe. Ou quase, se considerarmos que, pelo menos aqui, ele só estreou em salas 3D. Tirando um único plano em que vemos alguns personagens andando pela geleira, de uma visão acima deles, não notei uma única cena em que houvesse uso da profundidade. Bem, pelo menos, a conversão não deturpou as imagens, como ouvi dizer que foi o caso de Fúria de Titãs.
Enfim, apesar de não ser perfeito, O Último Mestre do Ar consegue agradar a quem nunca assistiu o desenho, e espera apenas um bom filme de ação com artes marciais zen e um bocado de drama. Eu, particularmente, fiquei com vontade de ver uma continuação. Ou seja, gostei.