2010-09-01

Filme: Karate Kid

Boas histórias são atemporais. Talvez o meio em que elas trafeguem acabe datado, mas a história em si continua se sustentando. No cinema, esse fato é bem visível. Talvez o cabelo ou o carro do personagem entreguem logo de cara a época que o filme foi feito, mas a história em si se mantém bem atual. E em alguns raros, mas felizes casos, a própria estética não sofre muitas mudanças. E é esse o caso do Karate Kid original, de 1984, aquele com o Daniel-san (Ralph Macchio) e o Mestre Miyagi (Pat Morita). Em vista disso, por que fazer uma refilmagem? Tirando o motivo financeiro de lucrar uns trocos, não sei.

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O novo Karate Kid (no original, The Karate Kid) segue fielmente o original. A estrutura é basicamente a mesma: mãe e filho se mudam para um lugar distante (desta vez, a China, em vez da costa oeste dos Estados Unidos). Neste novo lugar, o menino conhece menina, rola um clima entre eles, mas tem um valentão que também está de olho nela. E esse valentão pratica uma arte marcial com um professor impiedoso cuja filosofia é ganhar, custe o que custar, e sem piedade com o inimigo. E claro, o valentão é bem mais forte que o nosso herói, que acaba comendo o pão que o diabo amassou. Até que o zelador do prédio em que o menino mora, que parecia ser apenas um velho acabado, salva o menino de tomar uma surra e se revela um verdadeiro mestre das artes marciais. E começa a treinar o menino nesta arte, para que ele enfrente o valentão e sua gangue num campeonato oficial.

Ok, agora coloque os detalhes específicos no parágrafo acima, como kung-fu ou karate, e você pode ter tanto o filme original quanto a nova versão. De fato, vários diálogos são praticamente iguais, como o discurso do mestre do mal ("sem piedade"), ou quando Dre se desespera e briga com a mãe, querendo voltar ao seu lar, e ela fala que o lar deles é lá agora.

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O novo Karate Kid tem alguns acertos e alguns erros, em relação ao original. Logo no início do filme, vemos o menino Dre (Jaden Smith, filho do Will Smith) deixando o seu apartamento e indo para o aeroporto com sua mãe Sherry (Taraji P. Henson), de onde partirão para a China. Essa pequena sequência inicial, mostrando o que Dre perdeu por se mudar, apesar de curta, é ótima para situar o personagem.

Outro aspecto que ficou excelente nesta versão, na minha opinião, é a idade do protagonista-título, mais jovem em relação ao filme original. Algo que sempre me incomodou no original era o jeito infantil e um tanto mimado, de Daniel-san, que me fazia mesmo ter vontade de espancá-lo, pra ver se aprendia a não ser um bebê chorão (por exemplo, depois de levar uma surra por causa de estar xavecando a mocinha, ele fica chorando e fica bravo com ela, afastando-a, em vez de aceitar os cuidados dela). Atitudes do personagem que combinam bem melhor com uma criança de 12 anos do que com um adolescente de 16.

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Outra diferença, bem vinda, são as atitudes de Xiao Dre (o novo "Daniel-san", mas com um sentido um pouco diferente, já que 'xiao' segundo o filme, significa 'pequeno'). Mesmo tendo seus momentos de choro (em que Jaden consegue ótimas performances), o personagem tem uma atitude mais forte. Pelo menos, não me faz querer esbofeteá-lo pra ver se toma jeito.

Ainda no campo dos aspectos positivos da nova versão, temos o bom e velho (agora literalmente falando) Jackie Chan, como o senhor Han. Acertadamente, o senhor Han é muito diferente do senhor Miyagi de outrora. Exibindo uma atuação excelente em termos dramáticos, a cena em que o senhor Han conta a história de sua família é uma das melhores do filme. Jackie Chan prova, numa pequena sequência, que tem muito mais do que acrobacias maravilhosas. Infelizmente, a sequência dessa cena é de matar de vergonha alheia, quebrando todo o clima desenvolvido, como se um treino com uns bastões realmente fizesse a diferença naquele momento.

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Em se tratando de Jackie Chan, não poderiam faltar lutas espetacularmente coreografadas e encenadas. E realmente, a cena em que o senhor Han defende Dre da turma de valentões, é ótima. Além da luta em si, a câmera do diretor Harald Zwart se posiciona muito bem, executando bons movimentos intercalados com alguns cortes precisos. Entretanto, parece que o diretor se esqueceu disso no final, quando temos o famigerado campeonato. Nessas cenas finais, as lutas são bem mais "duras", com cortes secos e desnecessários, e mais parecidas com as do filme original (que tinha uma razão de ser, afinal, karate é mais 'engessado' do que o kung-fu mesmo).

E esse não é o único defeito deste novo Karate Kid. Se no caso do personagem principal a diminuição da idade ajudou, no caso dos seus inimigos, ela prejudicou. Afinal, mesmo praticantes de artes marciais, eles eram crianças. E, como uma gangue de arruaceiros e "punks", não convencem muito.

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Outro ponto pouco explorado no filme é a barreira da linguagem. Piadas com o problema da língua, por exemplo, só tem uma, logo no começo. Mas é compreensível, já que afinal, em Beijing na China, quase todo mundo fala inglês... E se tem uma coisa que não falta no filme, é a lembrança de que estamos na China. Além de várias cenas (gratuitas) visitando pontos turísticos, como a Grande Muralha e a Cidade Proibida, na primeira metade do filme somos invadidos por imagens da cidade, com altos arranha-céus sendo construídos, o trânsito complicado, e claro, as praças cheias de idosos praticando tai chi chuan.

E nem vou comentar o nome do filme, que deveria ter sido (em todo o mundo, não só na China), Kung Fu Kid. Mesmo que em um determinado momento a mãe de Dre diga algo como "karate, kung fu, tanto faz", Karate Kid não deixa de ser um péssimo título para este filme, se o analisarmos separadamente do primeiro.

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Apesar de se perder em alguns momentos (Por exemplo, o que é a história do uniforme escolar? Depois de um fuzuê inicial, Dre sempre aparece vestido diferente quando todos os outros alunos estão de uniforme...), o novo Karate Kid é até divertido. Assim como no original, o treinamento não convencional de Dre é bem bacana (apesar de eu ter certeza de que tirar e colocar a jaqueta não ganha em carisma do pintar a cerca e lixar o chão). Infelizmente, o filme acaba se tornando um pouco cansativo no final, com suas duas horas e vinte minutos.

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Com produção dos pais do astro do filme, Jada Pinkett Smith e Will Smith, o novo Karate Kid tem uma aura de nostalgia para aqueles que viram o primeiro e que gostam de filmes de artes marciais. Mas no final, ainda me parece que quem mais se divertiu no filme, foi a família Smith.

Trailer:



Para saber mais: crítica no Cinema em Cena e no Omelete.

Um comentário:

Sardinha Mestre disse...

eu tinha perdido a vontade de assistir esse filme justamente pelo nome do filme e pela atuação do filho do will smith (filme comprado), mas tu fez uma critica boa, vou fazer o download pra ver.