Confesso que não estava levando muita fé nos rumos atuais do cinema em 3D. Parece que depois de Avatar, nenhum filme conseguiu realmente fazer do 3D um diferencial, mesmo as animações, que teoricamente, seriam mais propensas (tecnicamente) ao novo formato. Mas depois de ver Resident Evil 4: Recomeço (ou Resident Evil: Afterlife, no original), minha opinião é de que o que faltava era vontade de um diretor de fornecer um espetáculo visual na terceira dimensão. Pois é isso que o novo Resident Evil oferece: um espetáculo visual incrível. E só.
A história e o roteiro nunca foram o forte da franquia Resident Evil no cinema, e este quarto filme, mais uma vez escrito por Paul W.S. Anderson, que também dirige o filme, mantém a tradição de história capenga e um roteiro tão cheio de furos quanto os zumbis do filme.
Mais uma vez, Mila Jovovich é Alice, uma ex-funcionária e guarda de segurança da grande e evil Corporação Umbrella, corporação esta que desenvolveu o T-vírus, capaz de transformar qualquer ser vivo num zumbi. Neste quarto filme, com a Terra devastada, Alice continua seu caminho a fim de encontrar outros sobreviventes e enfrentar a maligna corporação, enquanto tenta sobreviver ao apocalipse zumbi.
Resident Evil 4: Recomeço é uma sequência direta do terceiro filme. Spoiler do terceiro filme, se não quiser ler, pule este parágrafo: No final do último filme, Alice, a única ser humana que conseguiu incorporar o T-vírus ao seu próprio DNA, aprende a controlar melhor seus poderes psíquicos/psiônicos/whatever. Isto é, ela é tipo uma Jean Grey misturada com o Wolverine, com poderes telecinéticos (mover com a mente), além de força e agilidades sobre-humanas. Além disso, ela descobre que a Umbrella vinha tentando replicar este vínculo humano/T-vírus, através da fabricação de clones da própria Alice. Montes de clone, que ela no final, acaba libertando e fazendo o seu próprio exército de Alices. Trocando em miúdos, ela termina o filme muito poderosa. E isso causa um pequeno problema para a continuação, afinal, um herói, ou no caso heroína, sempre deve enfrentar um inimigo mais forte, para haver uma tensão e um suspense (mesmo que seja óbvio que no final, o herói supere), senão, a história fica monótona. Portanto, um herói extremamente poderoso, para continuar tendo uma história decente, tem duas opções: ou acha um vilão ainda mais poderoso (o que neste caso significaria achar algum super sayajin pra enfrentar), ou então você, de alguma forma, faz com que o personagem perca seus poderes ou parte deles (tipo o que fizeram com o Goku no começo de DBGT). A opção de Resident Evil 4: Recomeço foi pela segunda, logo após a primeira grande sequência de ação do filme.
Acho que foi Richard Donner uma vez que disse que um filme de ação deveria começar sempre com uma cena de muita ação e impactante, mesmo que ela não fizesse parte da linha principal da história (mandamento este seguido a risca nos filmes da quadrilogia Máquina Mortífera, por exemplo, que ele dirigiu). Pois bem, o diretor Paul W.S. Anderson parece que seguiu a dica ao pé da letra, e entrega neste Resident Evil 4: Recomeço, uma abertura excelente.
As duas primeiras sequências são visualmente deslumbrantes, tanto pelo acertado uso do 3D, quanto por outros aspectos. A primeira sequência é a dos créditos iniciais, onde é mostrado uma Tóquio a beira da infecção zumbi, numa noite de chuva. No meio da multidão, é exibido uma jovem mulher parada, toda molhada, não parecendo se importar muito com o resto das pessoas, todas carregando guarda-chuvas. E visto de cima, a cena exibe uma metáfora não tão criativa, mas ainda assim bela, da imagem com o que está por vir (culpa da Corporação Umbrella, que é guarda-chuva em inglês). A montagem da cena, assim como a música, vão criando um tom de expectativa e tensão, pois sabemos que tem algo de errado com a mulher ali. E claro, ao final, temos o tão esperado ataque zumbi, que se espalha por todo o mundo.
A segunda sequência começa depois de uma elipse temporal de alguns anos, quando Tóquio é uma cidade devastada pela praga zumbi. Entretanto, escondidos numa base subterrânea, se encontram soldados da Umbrella, bem como um dos manda-chuva da corporação, o vilão Albert Wesker (Shawn Roberts, bastante caricato na sua representação). Esta sequência, totalmente de ação, mostra Alice(s) invadindo a base. Cenas de ação excelentes, que foram especialmente pensadas para serem vistas em 3D. Repare nos detalhes da execução: muitos planos abertos, mostrando uma grande parte do cenário, o que é fundamental numa experiência em 3D. Além disso, os cortes com a combinação do uso da câmera lenta em determinados momentos, faz com que possamos apreciar os estilhaços voando pela tela, além é claro, das tradicionais balas e armas brancas voando em nossa direção. Repare o extenso uso desses pequenos elementos, essas partículas no ar. Na minha opinião, esses elementos são os responsáveis pela maior imersão num filme em 3D.
Bem, se o diretor Mr. Anderson copiou a velha dica de Richard Donner de abrir o filme com uma grandiosa sequência de ação, pode-se dizer também que ele bebeu na fonte dos irmãos Wachowski para coreografar essas cenas. Na invasão da corporação Umbrella, repare como em determinado momento Alice fica atrás de uma coluna, segurando duas armas e se preparando para atirar. Esse plano em específico, é idêntico ao do primeiro Matrix, quando Neo invade um prédio buscando Morpheus. Mas claro, não é apenas esse plano, toda a sequência lembra muito a sequência em Matrix. Até mesmo uma hora em que Alice salta do alto da base, indo em direção ao primeiro andar e quebrando um vidro, é uma sequência com planos, coreografia e cenário, quase idênticos a cena em que Trinity salta de um prédio sendo perseguida por um agente, em Matrix Reloaded. Isso pra não falar em um bullet time no final dessa primeira grande sequência do filme. Eu, como fã de Matrix, achei uma homenagem digna.
Uma coisa interessante de Resident Evil 4: Recomeço, comparado com os dois últimos filmes anteriores da franquia, é o retorno aos ambientes fechados. No segundo e no terceiro, os embates com os zumbis se davam quase sempre em ambientes abertos (cidade no segundo, e o deserto no terceiro). Neste, a ação se passa em ambientes predominantemente fechados, mesmo que as cenas, por exigirem planos abertos (para enfatizar o 3D), mostrem ambientes grandes. Além do caso da base subterrânea, o presídio em que se passa a segunda parte do filme, traz novamente à franquia os elementos claustrofóbicos de se ver encurralado com um monte de zumbis atrás de você. Sem dúvida, um dos aspectos que gostei do filme.
Em termos de roteiro, já disse que o filme é bastante furado. Além de inconsistências (como Alice voltando a ser humana, mas ainda assim, fazendo coisas que deixariam qualquer X-Man de cabelo em pé), o roteiro traz também coisas absurdas que não fazem parte daqueles absurdos que a gente até releva num filme desses. Por exemplo, se você estivesse num mundo pós-apocalíptico zumbi, iria achar importante estar super arrumada e maquiada? Bem, tanto Alice quanto Claire Redfield (Ali Larter), esta última mesmo estando amarrada, acham que um batom é fundamental. Repare nos closes em que elas estão voando no avião. Ok, temos que mostrar umas gatas pro filme vender, mas podiam ter maneirado na maquiagem (ou talvez ela seja realçada pela tela grande e pelo efeito 3D).
E falando em Ali Larter, é notável que no filme, todos os coadjuvantes sejam praticamente dispensáveis (e, como é de praxe, a maioria realmente o é, sendo morta no decorrer da película). Quero dizer, em termos de relevância, Claire Redfield até tem uma boa cena de ação com um grande machado, mas é só. Pior é a inclusão de seu irmão Chris Redfield (Wentworth Miller) na história. Uma inclusão só pra agradar aos fãs do personagem, que já é conhecido nos games? Bem, quem é realmente fã dos videogames, dificilmente acha os filmes digeríveis.
Enfim, Resident Evil 4: Recomeço é um filme de ação desenfreada (mas acerebrada), e um verdadeiro espetáculo visual, devido ao seu uso da tecnologia 3D. Tudo nele foi pensado e tendo como foco esse aspecto. Repare, por exemplo, que na prisão tenha água em abundância (mesmo depois de anos de apocalipse zumbi). Isso é realmente necessário pro roteiro/história? Não, mas é necessário pra justificar o belíssimo efeito que a água faz, como se fosse chuva, durante uma luta. ;) Em suma, se for assistir, vá numa sala 3D, porque em 2D, ele perde muito do seu charme.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Cinema em Cena e no Omelete.
4 comentários:
Assisti em ingles sem legenda e mesmo assim foi suficiente. Foi o primeiro filme que eu apaguei despois que assisti.
nosssa.. que reliease gigante ficou esse aqui.. heheh.. aah eu queria ver, mas não assisti o terceiro.. >_<
Nem se preocupe, porque o 3 é o pior de todos.
meu amigo.. a Ali Larter em 3d foi o momento mais emocionante da minha vida... caiu uma lagrima.
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