2010-09-12

Filme: Nosso Lar

Antes de mais nada, devo deixar claro que sou ateu, não acredito em Deus. Mas, se tivesse que escolher alguma religião pra acreditar, provavelmente escolheria o espiritismo, que me parece a mais "lógica" (mesmo assim, ainda encaro todas as religiões como ficção). Digo isso pra deixar claro que as minhas opiniões sobre o filme Nosso Lar são as de alguém que viu o filme apenas como entretenimento (ou seja, ficção), e que, sem preconceitos sobre religiões (a não ser o preconceito de que todas elas são mentira, mas aí é democrático), poderia ter gostado do filme (assim como gostei do filme Chico Xavier). Entretanto, se eu tivesse que resumir o Nosso Lar em uma única palavra, esta seria "chato".

filme nosso lar poster cartaz
O filme conta a história de André Luiz (interpretado por Renato Prieto), um médico que depois de uma vida de excessos, morre. E acorda no Umbral, uma espécie de purgatório, mostrado como um vale escuro e cheio de outros espíritos "inferiores", se arrastando, reclamando e fazendo outras bizarrices, como uns torturando outros. Basicamente, um inferno sem chamas. André passa um bom tempo ali, até que é resgatado pelos "espíritos de luz" e levado à cidade que dá título ao filme, Nosso Lar (ainda bem que ninguém realmente nascem ali, senão seria chamado de nossolariano ou nossolariense).

filme nosso lar espiritismo espírita
Em Nosso Lar, uma de várias cidades flutuantes ao redor da Terra, André, assim como o público, será ensinado sobre a vida pós-desencarnação. No começo, ainda apegado a seus valores de vida anterior, assim como à sua família, aos poucos ele vai aprendendo mais sobre a "verdadeira vida", vai crescendo e se tornando um espírito mais "elevado". E no fim, assume também a "carreira" de escritor, "ditando" livros ao médium Chico Xavier, livros estes que são a inspiração do filme.

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Como filme, Nosso Lar é cansativo. Com uma história bem simples na verdade, o que enche a tela está mais para descrição de cenários e crenças, do que desenvolvimento da história. Repare que muitos planos e cenas servem apenas para mostrar os grandiosos cenários (que, com méritos, são muito bem feitos com efeitos especiais). Tudo bem que essas visões são o principal em algumas cenas, por exemplo, quando a André é mostrada a cidade e a descrição de cada parte dela, dando um passeio por um ônibus voador futurista. Mas em muitas outras, como quando André conversa com um dos seus primeiros "guias" por ali, o espírito Lisias (Fernando Alves Pinto), o que vemos na tela e o grandioso cenário e o que escutamos é a explicação de alguma crença. Ou seja, explicações em dose dupla pro espectador.

É fato que explicações pro espectador são muitas vezes necessárias, pois cada filme representa um universo particular. Mas quando a maior parte do filme são explicações, isso deixa o filme tedioso.

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Tecnicamente, o filme Nosso Lar é bom. Apesar da cara de bobo feliz e sorridente da maioria dos espíritos brancos e de luz (o pessoal do mundo da moda deve sofrer bastante no além-túmulo, com essa tendência monocromática OMO sponsored), as atuações estão boas. Os efeitos especiais também estão ótimos, especialmente na fabricação da cidade e do cenário de fundo do Umbral. E, apesar da narrativa ser arrastada demais com tantas explicações, ela tem alguns momentos bons, como quando conta parte da vida de André, por meio de flashbacks. A elipse de tempo que mostra um jovem André e depois um mais adulto, no bar, é excelente.

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A evolução do personagem André é deixada de lado em prol do mar de explicações e doutrinações espíritas no filme, e esse é o grande erro do filme. Com um tom, por várias vezes, moralista e simplista demais (como todo o arco de Eloisa, sobrinha de Lisias, interpretada por Rosane Mulholland), Nosso Lar talvez agrade bastante os já "doutrinados", por mostrar na tela, o que eles só imaginaram (porque a leitura de livros, por mais descritivos e detalhados, não bate o poder da imagem em movimento, quando se trata de descrição).

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Enfim, não entrando no mérito de certas crenças estranhas do espiritismo (cidades flutuantes em cima da Terra, por exemplo, me incomodam um pouco - e quando o Sol se expandir e engolir a Terra, essas cidades vão pra onde?), Nosso Lar é um filme tecnicamente bem feito, mas com uma narrativa pobre. Deve ser usado como ferramenta na explicação da religião (assim como tem um monte de desenhos e filmes católicos - também chatos até a alma - por aí), mas como cinema, como entretenimento, é tedioso demais (mesmo com os zumbis do Umbral).



Para saber mais: crítica no Omelete e site oficial do filme Nosso Lar.

3 comentários:

Ju ♥ disse...

ainda não vi o filme, mas sei q ele é bem fiel ao livro.

o livro é para estudo, talvez por isso o filme tenha ficado chato, com tantos ensinamentos e explicações.

acho q vou ver amanhã.

Lília disse...

Tb não vi o filme, mas li o livro e gostei apesar de não pertencer a nenhuma religião. Mas posso te dizer que chato eu achei o filme do Chico Xavier e olha que eu tinha amado ler a biografia dele.

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Andarilho,

não vi o filme ainda, mas, com relação a narrativa ela é composta do livro ditado por esse espírito da história. Se eu não me engane é uma das obras mais conhecidas de Chico Xavier.