Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 17/03/2010, com uma análise entre o mercado de trabalho e o serviço público.
Áudio original disponível no site da CBN (link aqui). E se você quiser ler os comentários anteriores do Max Gehringer, publicados aqui, basta clicar neste link.
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Salário é fator de curtíssimo prazo na hora de decidir pelo emprego
"Passei num concurso do Banco do Brasil",escreve uma ouvinte. "E fui convocada para assumir a vaga dentro de um mês. Só que o salário inicial é metade do que eu ganho atualmente. Trabalho numa boa empresa privada faz três anos, e estou numa dúvida atroz."
Vamos então tentar desatar essa atrocidade. O salário é o fator de curtíssimo prazo. Se você tem despesas que não lhe permitem sobreviver temporariamente com a metade do que ganha atualmente, não há o que pensar: o dinheiro já é a resposta. Porém, se você tem quem a ajude financeiramente por algum tempo, aí a coisa muda de figura.
O número de candidatos para boas vagas em empresas privadas continuará crescendo nos próximos anos. Haverá novas vagas, mas haverá também muito mais gente disputando cada uma delas. Isso porque as empresas privadas vêm, sistematicamente, reduzindo suas folhas de pagamento em relação ao faturamento. Essa redução proporcional decorre de ganhos de produtividade, de fusões com outras empresas, de substituição de gente por tecnologia, ou da terceirização de funções.
Esse é um processo que começou há duas décadas, e nada indica que ele irá recrudescer. Dificilmente um jovem que está entrando agora na vida corporativa, conseguirá passar os próximos 30 anos sem ser demitido pelo menos uma vez, ou sem ficar alguns meses angustiado, a procura de um novo emprego.
O outro lado da moeda é o serviço público. Ele oferece algo muito atrativo: a estabilidade. Apenas o fato de você pensar que passará os próximos 30 anos sem se preocupar com uma possível demissão, já é suficiente para que você nunca mais tenha insônia na vida. Cada vez mais, o mercado de trabalho em empresas privadas se parecerá com a bolsa de valores. Será um jogo de risco, ideal para quem aprecia a emoção de ganhar muito ou perder muito.
Eu me arriscaria a dizer que se a nossa ouvinte assumir a vaga que conquistou no concurso público, haverá algumas ocasiões em que ela irá se lamentar. Mas acredito que ela irá se lamentar muito mais se abrir mão da vaga. Até porque será mais fácil ela pular de volta para uma empresa privada, do que passar num novo concurso. Porque os concursos também estão ficando cada vez mais concorridos.
E finalmente, quem pergunta o que é mais interessante: a estabilidade ou a gangorra corporativa, no íntimo já sabe que prefere a estabilidade.
Max Gehringer, para CBN.
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