Ok. Primeiro, esqueça o poster horroroso, digno do Photoshop Disasters, que o filme O Golpista do Ano (ou no original, I Love You, Phillip Morris), recebeu aqui no Brasil. Segundo, preste atenção ao título. Porque as chances de você ser enganado por este filme, são grandes.
Sim, porque O Golpista do Ano é um filme enganador. E não estou nem falando do "golpe" que o filme aplica aos espectadores, lá pelo final. Falo do entendimento do filme como um todo, que, deixando abertas inúmeras possibilidades de interpretação, não abraça nenhuma e por isso, não se compromete com nenhuma "causa". Mas deixemos esse assunto para depois.
O Golpista do Ano conta a história real (real "de verdade", como enfatiza a abertura do filme), de Steven Russell (vivido por Jim Carrey). Abandonado pela mãe biológica quando criança, Russell é adotado por uma família aparentemente normal (pelo filme, não temos muita informações sobre ela), e cresce e se torna, aparentemente, o cidadão modelo: trabalha como policial, é um bom pai e tem uma esposa (vivida por Leslie Mann) gente boa, apesar de muito carola. Só que logo descobrimos que esse é um dos primeiros "golpes" de Steven, pois a sua real identidade é bem diferente. Não só pelo fato de ser homossexual (e a cena que isso é deixado explícito, é genial), mas também por outros indícios de personalidade (você pode notar isso quando ele confronta a sua mãe biológica).
Ao sofrer um acidente, Russell decide que é hora de se assumir e joga tudo pro alto. Se muda pra Miami e arranja um namorado estiloso, Jimmy (interpretado por Rodrigo Santoro, que poderia arranjar uma ponta entre os lobisomens de Crepúsculo, visto que só anda sem camisa e/ou de peito aberto). Entretanto, Steven leva um padrão de vida mais alto do que o seu salário de empregado pode pagar. Para arranjar dinheiro, acaba virando um fraudador, um pequeno golpista (que, "eticamente", só toma dinheiro das grandes corporações, como seguradoras e operadoras de crédito).
Claro que uma hora a casa cai, e então Steven vai preso. E na prisão, ele conhece o grande amor de sua vida, Phillip Morris (vivido por Ewan McGregor). Os dois se apaixonam e vivem felizes para sempre e... Claro que não.
Mesmo depois de sairem da prisão e começarem uma vida juntos, Steven não consegue parar de mentir. Ao se passar por advogado, ele descobre que leva jeito mesmo pra enganar as pessoas. Mentindo descaradamente em seu currículo, ele entra em uma grande empresa. Mas a sua carreira de fraudador fala mais alto que a carreira corporativa, e você sabe onde isso vai parar: na prisão. E é nesta hora, que o filme toma ares de incredulidade (misturado com muito humor), ao mostrar os planos malucos e golpes que Steven usa para tentar (e conseguir) fugir da prisão.
O Golpista do Ano já foi chamado de uma espécie de Prenda-me Se For Capaz gay. Os filmes têm bastantes similaridades (são baseados em histórias reais, de dois fraudadores/golpistas geniais, que de certa maneira têm problemas com a própria identidade por causa disso, etc.). Entretanto, é muito reducionista dizer que um filme é a versão do outro, só que com gays.
Até porque o filme, na verdade, não é sobre a homossexualidade do personagem. O fato de ele ser gay, que é vendido no trailer e nos cartazes, é na verdade, outro golpe que o filme aplica em você, fazendo você pensar que a orientação sexual do personagem de Carrey seja relevante para a história principal. Não é. Ela é relevante sim, para alguns detalhes, como em vários momentos cômicos. Substitua Russell por outro personagem hetero qualquer, e você verá uma história com o mesmo núcleo. Este é um fato interessante, e a "pegadinha" dos diretores e roteiristas Glenn Ficarra e John Requa, é muito bem sacada quando a ex-mulher de Russell vai ao hospital e (absurdamente) pergunta se o fato do marido ser um golpista crônico não tem a ver com a sua homossexualidade.
As atuações em O Golpista do Ano estão excelentes. Jim Carrey prova mais uma vez que consegue misturar em uma atuação, comédia e drama, com maestria. Ewan McGregor faz um Phillip Morris um pouco afetado, mas de uma sensibilidade enorme. E a "química" entre esses dois atores é notável. Os coadjuvantes: Rodrigo Santoro, que tem destaque no cartaz brasileiro, tem um papel bem pequeno, mas notável, assim como Leslie Mann.
O Golpista do Ano é uma boa comédia. A história por trás do filme tem potencial tanto para o drama quanto para a comédia. Neste embate, os diretores escolheram focar a comédia, deixando temas potencialmente espinhosos sob a lente do humor, o que ameniza um pouco as reações. Por exemplo, veja que apesar do relacionamento entre Russell e Morris ser mostrado de forma bastante autêntica, os seus encontros sexuais sempre levam uma boa dose de humor, como na primeira vez entre os dois.
Entretanto, essa opção pela leveza e humor, se mostra falha em pelo menos duas situações. A primeira é onde o filme mais tem carga dramática, e não vou detalhar aqui, porque seria spoiler. A segunda situação é o final, onde é tentado amenizar o destino do personagem, por meio de imagens leves e cômicas. Isso enquanto os tradicionais letreiros narram o destino real do personagem, que não é exatamente nem leve nem cômico. Uma tentativa de dar um final feliz ao filme. Até condiz com todo o clima construído até então, mas definitivamente deixa uma sensação estranha.
Apesar de ser uma comédia leve, O Golpista do Ano flerta com outras possibilidades, sugerindo alguns temas que não se desenvolvem. A própria identidade de Russell e a sua relação com a mãe biológica, e o relacionamento de Russell com Jimmy (personagem do Santoro), sobretudo com a doença (AIDS) deste último, são exemplos de temas/aspectos que são apenas citados e deixados a cargo do espectador chegar a sua própria conclusão. E qualquer que seja esta conclusão, provavelmente será coerente com o apresentado, devido à pouca informação/desenvolvimento disponível. E essa é uma das razões pelo qual, no começo do texto, eu disse que o filme iria te enganar. Porque quando todas as vertentes são corretas, nenhuma é. Não de verdade.
Enfim, O Golpista do Ano é uma comédia bacana. Leve e engraçada. Mas só. Não tem bandeiras, nem subtextos elaborados, só diversão. Até mesmo quando você for enganado pelo filme, vai gostar. Mesmo que isso deixe um gosto estranho no final da sessão.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete e no Cinema em Cena.
Adorei!
ResponderExcluiresse eu quero ver.
ResponderExcluira primeira coisa que pensei quando bati o olho foi "que tosco... esse poster parece dakeles filmes dos anos 80".. hahhaa..
ResponderExcluir"que poderia arranjar uma ponta entre os lobisomens de Crepúsculo, visto que só anda sem camisa e/ou de peito aberto"
ResponderExcluirtive o mesmo pensamento que você quando vi ele no filme... baixei o filme pelo titulo e assisti, acabei gostando, apesar de ter a parada gay e eu ser meio quadrado ainda quanto a isso... mas o estilo do filme é bom... basicamente um prendame se for capaz.