2010-09-22

Filme: Coincidências do Amor

Existem filmes cujo trailer mostra praticamente todo o filme. Você assiste o trailer e já sabe o começo, o meio e o fim do filme, especialmente se for um filme de gênero, como uma comédia romântica. Este é o caso de Coincidências do Amor (ou The Switch no original). E existem filmes cujos trailers, mostrando o que há de melhor no filme, sejam piadas ou cenas de ação, são mais empolgantes, e até mesmo melhores do que os próprios filmes. Felizmente, este não é o caso.

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Coincidências do Amor nos apresenta a história dos melhores amigos nova-iorquinos Wally (Jason Bateman) e Kassie (Jennifer Aniston). Amigos há muito tempo, Wally há muito deixou de ser um interesse romântico para Kassie, passando para a chamada "zona de amizade". Entretanto, isso parece não chatear muito Wally, que tem na amiga, um ouvido para suas neuroses e acessos de hipocondria (e se essa descrição parecer com outro certo personagem, digamos que Wally é muito mais light). Kassie, uma mulher madura, sentindo que o relógio (biológico) faz cada vez mais rapidamente o tic-tac, decide ter um filho, mesmo sem ter encontrado um companheiro romântico para essa empreitada (a mesma motivação de outra Jennifer, Lopez, no recente Plano B).

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Entretanto, Kassie não quer um doador anônimo, e acaba "comprando a sementinha" de Roland (Patrick Wilson). Numa festa organizada para celebrar a futura gravidez (na qual ela usaria o esperma depois da festa), Wally, visivelmente perturbado (porque apesar de não admitir nem para si mesmo, é óbvio que ele gosta de Kassie e como qualquer homem, fica enciumado de ver a mulher que ama tendo um bebê com outro, nem que seja só o sêmen do outro), Wally fica bêbado. E, depois de estragar o esperma de Roland acidentalmente (ou nem tanto), ele em sua embriaguez, decide repor o conteúdo no potinho. Com o seu próprio conteúdo. ;) Entretanto, por causa do porre, Wally acaba não se lembrando de nada no dia seguinte.

Logo após a confirmação da gravidez de Kassie, ela acaba se mudando. E, sete anos depois, volta a Nova York, trazendo o filho Sebastian (Thomas Robinson). Na reunião com o velho amigo Wally, este começa a reparar que o pequeno Sebastian tem uma certa similaridade com alguém que ele conhece. Bem, o resto da história, é bem previsível, seguindo alguns passos básicos do gênero de comédia romântica.

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Como eu já disse uma vez, uma comédia romântica pode ter mais acentuado o seu lado cômico ou o seu lado romântico. No caso de Coincidências do Amor, sem dúvida, o foco é no lado romântico. Não exatamente no romantismo meloso, mas um romantismo mais filosófico, quase que voltando-se para o drama. Por exemplo, temos a cena de abertura do filme, em que o personagem faz um discurso em narração sobre a solidão, as pessoas sem um amor e a dificuldade de se encontrar uma alma gêmea, mesmo que paradoxalmente vivamos rodeados de gente em grandes cidades, isso tudo enquanto é mostrado pessoas sozinhas, mas rodeadas de outras pessoas, no metrô. De certa forma, tão melancólico quanto este tumblr com o qual me reparei hoje: Table for One.

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Se o filme tem seus momentos tristes (e a coleção de molduras de Sebastian certamente acaba se provando um deles), o tom do filme é um tom leve. Certamente não é uma comédia pastelão de dar gargalhadas, mas rende alguns bons momentos em que não é difícil abrirmos um sorriso. E isso é em grande parte graças ao trabalho do menino Thomas Robinson, que vive Sebastian. Muito bem dirigido, o menino se mostra no filme meio apático e um neurótico júnior, bem como o seu papel requere, o que junto com o personagem de Bateman, rende alguns dos melhores momentos, como o "jantar vegetariano". Fora, claro, o fator "fofura" do moleque, afinal, a maioria dos seres humanos adora uma criancinha de olhos grandes que lembram bebês.

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E falando em atuações, Jason Bateman está muito bem em Coincidências do Amor. Mesmo não sendo um neurótico tão bom quanto um mestre como Woody Allen, ele convence no papel. Aliás, essa provavelmente é uma escolha consciente, não deixar o seu personagem cômico demais, explorando sua natureza neurótica e hipocondríaca em demasia. Seu olhar de "perdido no meio de um tiroteio" consegue nos passar muito do seu personagem, sem precisar de muitas falas. Ele é a verdadeira estrela do filme, apesar de seu nome vir depois do de Jennifer Aniston. Que entrega uma boa atuação, sem ser brilhante, mas eficaz. Jeff Goldblum, num pequeno papel de alívio-cômico-amigo-do-protagonista está ótimo, mesmo que suas passagens sejam breves. Já o seu equivalente feminino, Juliette Lewis, que faz o papel de amiga-muleta-cômica-da-protagonista, exagerada ao extremo, remete a mais vergonha alheia do que risadas.

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Escrito por Allan Loeb, baseado num conto de Jeffrey Eugenides, Coincidências do Amor tem um ótimo texto. Além das passagens mais "sérias", como a narração no começo e no fim do filme (apesar de ser um pouco piegas, mas que amor não o é?), alguns diálogos são memoráveis, como quando Wally e Kassie discutem o que ela gostaria num homem, e ela manda a clássica resposta "senso de humor". Ou então na piada meio que intraduzível: "Did you just use my name as a verb?".

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Dirigido por Josh Gordon e Will Speck, Coincidências do Amor certamente é uma comédia romântica diferente, mas ainda assim, igual. Diferente porque aborda alguns assuntos de maneira sensível, realista (a solução que leva ao happy ending - o tempo -, por exemplo, é uma das mais realistas que já vi). Mas igual porque segue toda a estrutura clássica e mantém os mesmos elementos já vistos na longa lista de comédias românticas. O que não é nenhum demérito, pois citando outro personagem neurótico e hipocondríaco, às vezes, "um clichê é a melhor maneira de se expressar".

Trailer:



Para saber mais: crítica no Omelete.

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