Eu sou um fã de Tom Hanks e geralmente basta o nome dele estar no cartaz pra eu ir conferir o filme. Isso, no entanto, não indica que eu sempre ache os filmes que ele faz bons. Este é o caso deste Larry Crowne - O Amor Está de Volta (apenas Larry Crowne, no original), filme fraco em que Hanks fez jornada tripla (escreveu, dirigiu e atuou) e que entra na lista de filmes com subtítulos brasileiros desnecessários e/ou idiotas.
Tom Hanks é o Larry Crowne do título, a personalização do bom moço (como a imagem do ator). Larry é bom humorado, trabalha com um sorriso sincero no rosto (mesmo sendo empregado de uma loja de departamentos) e naturalmente gente boa (o que Hanks evidencia ao fazer o personagem, uma vez logo no início e outra no fim do filme, pegar algumas tralhas jogadas no chão e jogar no lixo, separando para reciclagem, por elementos, e sem que ninguém esteja vendo o ato - se isso não for sinal de bom mocismo ou de pessoa caxias, não sei mais o que é). Infelizmente, por não ter curso superior, Larry acaba despedido do emprego (dicas do Max Gehringer feelings).
Endividado com o banco e sem conseguir outro emprego, Larry acaba indo para uma faculdade comunitária, onde literalmente muda a sua vida, especialmente por causa das aulas de oratória, onde ele conhece a professorinha Mercedes Tainot (Julia Roberts), e pelas aulas de economia do Dr. Matsutani (George Takei), além da amizade travada com Talia (a apaixonante Gugu Mbatha-Raw), que é a sua porta de entrada para uma gangue de motoqueiros... de scooters (também conhecidas como vespas). Surreal? Fantasioso? Sim, sem dúvida.
Larry Crowne - O Amor Está de Volta é um filme fantasioso mesmo. Uma fábula para adultos que já passaram dos trinta e alguns mais, eu diria. É a essência do filme feel good, aqueles em que todos terminam bem e felizes (exceto, talvez, um ou outro babaca no filme, como o cara da pizza - que no momento em que Larry é despedido se importa mais com o último pedaço de pizza e tem um final irônico no filme). Feito para que a audiência se entorpeça um pouco e deixe o escapismo fluir, nesse aspecto é quase um musical dos anos pós-guerra, sem as malditas músicas. Reparem, por exemplo, se a abertura do filme não segue esse estilo, com os funcionários da loja de departamentos alegremente preparando a loja para mais um dia e abrindo a loja para atender os consumidores. (Só em filme mesmo pros funcionários de uma loja de departamentos serem daquele jeito...)
É quase impossível desassociar, de certa maneira, a imagem de Tom Hanks da de Forrest Gump. E de certa forma, Larry Crowne - O Amor Está de Volta reforça essa associação. Larry, além de ser bom moço, é meio ingênuo, inocente, assim como Gump, sem o carisma deste, entretanto. Aliás, os personagens do filme são todos bem superficiais e mal construídos. Por exemplo, o colega meio chapado da aula de oratória (Rami Malek), que é teoricamente um alívio cômico, mas com suas piadas clichês de aluno com a cabeça nas nuvens, faz pouco rir. Ou então da colega tanto da aula de oratória quanto da aula de economia, que na cena na aula de economia aparenta uma timidez exagerada, e depois sua linha de história simplesmente desaparece (provavelmente esqueceram da pobre na montagem).
Larry Crowne - O Amor Está de Volta tem todo um clima meio saudosista, meio vintage (se eu posso chamar os anos 70, 80 de vintage - céus, estou chamando os anos em que eu já estava vivo de vintage, estou ficando velho). Desde o clima de musical escapista do roteiro até ao visual dos créditos, que mostra Hanks e Roberts numa scooter (quer coisa mais vintage?) correndo por aqueles cenários falsos de filmes antigos, em que os atores ficavam parados e se projetavam cenários atrás. E se o roteiro, que parece demais com um conto de fadas moderninho (mas não tão bem feito), lhe causar uma certa sensação de familiaridade, talvez seja porque você andou vendo muitos filmes da Nia Vardalos (de Casamento Grego, Eu Odeio o Dia dos Namorados e outros tantos que seguem uma linha muuuuito parecida), já que ela co-escreveu o roteiro com Hanks (e faz uma ponta no filme, na voz do aparelho de GPS da professora de Julia Roberts).
Larry Crowne - O Amor Está de Volta não é um filme ruim. Mas também não é bom. Ele tem seus bons momentos (como quando Crowne se muda, na cena em que ele dirige olhando pelo retrovisor), mas no geral é um filme fraco, raso e o que é pior: um tanto quanto insosso. Escapista? Sim. Entre para a faculdade e estude, sempre com um sorriso no rosto e tudo ficará bem. E de quebra, quem sabe, você arranja uma Julia Roberts? Ok, menos, porque estamos do outro lado da telona. No final das contas, o filme consegue ainda ser um pouco simpático, graças ao carisma de Tom Hanks. Mesmo sendo fã, é pouco. Desta vez é sorry, e não THanks.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
Já estava assistindo Larry Crowne, quando fui fazer uma pesquisa na internet (queria saber que bebida era aquela que a "Mercedez" havia preparado..parecia ótima rsss) e me deparei com sua crítica do filme... Sensacional. Adorei todo o sentimento que colocou no texto, foi uma leitura muito agradável, de excelente bom senso e humor. Me deixou ainda mais motivada a assistir.
ResponderExcluirPor ser Tom Hanks e Júlia Roberts nossa expectativa é bem alta para o filme, que acaba não atendendo. O filme mescla a realidade bem atual,com a necessidade do ensino superior para se manter no mercado de trabalho e vida pessoal, com o casamento falido, romanceado em contexto bem descrito aqui como "vintage", onde há o resgate do cavalheirismo e da amizade, e passa a ideia de como podemos ser e lidar melhor com eventos desagradáveis do cotidiano.
Foi gostoso de assistir, nos faz dar uma viajada em algumas questões e no tempo.