Olhem só como as coisas são. Depois de dividirem a cena (e a cama) em Cisne Negro, Natalie Portman e Mila Kunis estrelaram comédias românticas com temas muito parecidos (idênticos, de fato): a possibilidade de haver sexo entre amigos, sem "melar" a relação de amizade (ok, sendo comédia romântica você já sabe o que acontecerá). Se na cerimônia do Oscar deste ano quem brilhou foi Portman, nestes filmes foi o contrário. Enquanto Portman estrelou o fraco Sexo Sem Compromisso, Kunis se deu muito melhor neste Amizade Colorida (ou Friends With Benefits, no original), um filme que rende boas risadas e não agride o espectador com melado (só com um pouquinho de açúcar).
Em Amizade Colorida, Dylan (Justin Timberlake) dirige um blog (!) de sucesso e por isso, é contatado pela headhunter (recrutadora de talentos, se você for tupiniquim fanático), Jamie (Mila Kunis), para assumir um posto na badalada revista GQ. Apesar da proposta implicar uma grande mudança geográfica para ele (de Los Angeles para Nova York), ele topa e se muda para a cidade da grande maçã. Novo na cidade, Jamie se torna a melhor amiga dele, e vice-versa. Numa noite, depois de assistirem a uma comédia romântica (e travarem excelentes diálogos irônicos criticando esse gênero), Dylan propõe que eles façam sexo, como uma coisa puramente física ("como jogar tênis"). Sem cobranças de relacionamento amoroso, sem sentimento, apenas o bom e velho sexo. Jamie topa e é óbvio o que vai acontecer, por isso, me poupo de escrever mais sobre a história do filme no geral.
Assim como a popularização dos amigos com benefícios, o filme é extremamente contemporâneo. Por um lado isso pode deixar o filme datado daqui a uns cinco anos ou mais (outro fenômeno contemporâneo, a velocidade das coisas, faz com que algo fique datado em cinco anos, meu deus!). Entretanto, por outro lado, é muito divertido ver todas as referências da cultura pop e acontecimentos atuais pipocando na tela, desde o fenômenos dos flashmobs (e temos dois no filme, um logo no início, na Times Square), a referência ao piloto que pousou um avião no Rio Hudson e salvou dezenas de passageiros, passando pelo PlayStation Move de Jamie, até os apps de iPhone/iPad (app da Bíblia, app pra ver se ela "está naqueles dias"), e as interfaces de toque, que iniciam o filme (mostrando o trabalho de Dylan numa tela gigante) e fecham a projeção (ao subir dos créditos, brincando com os nomes).
Na primeira vez que vi os nomes dos atores que protagonizariam Amizade Colorida, admito que fiquei com um pé atrás, por causa de Timberlake. Apesar da sua atuação ter sido boa em A Rede Social, isso poderia ter sido atribuído à direção de David Fincher. E o seu trabalho seguinte em Professora Sem Classe fora tão caricato que achei que Amizade Colorida seria uma bomba do mesmo tamanho. Mas felizmente, eu estava enganado. Timberlake continua com alguns maneirismos (e se foi ideia do diretor Will Gluck que o personagem de Timberlake deveria cantarolar, essa foi uma muito equivocada), mas no geral, ele equilibra bem os momentos em que tem que ser caricato (momentos cômicos) com algumas cenas mais dramáticas (resolvendo seus problemas familiares). Kunis também entrega ótima performance, mesmo que seja difícil para os cuecas imaginarem alguém dando o fora numa beldade dessas.
O roteiro de Amizade Colorida, escrito por David A. Newman, Keith Merryman e Will Gluck (também diretor), não foge dos clichês do gênero comédia romântica (repare, por exemplo, que sempre os personagens principais têm coadjuvantes cômicos, no caso Woody Harrelson como o amigo gay de Dylan e Patricia Clarkson, como a mãe maluquinha de Jamie). Apesar disso, mesmo usando uma estrutura clichê, o roteiro surpreende com diálogos ótimos. A conversa sobre comédias românticas, já citada, com Dylan analisando a estrutura e os truques dos filmes, como as músicas bregas para cada situação ou a música melosa, mas animada (e que nada tem a ver com o filme) nos créditos finais, é um ótimo exemplo disso.
No geral, o bom humor impera no filme, exceto no arco final, que tem uma pegada mais romântica. Essa quase obrigatoriedade de ser mais romântico, mais dramático, acaba enfraquecendo o filme e fortalecendo os clichês. Por exemplo, as melhores cenas de sexo (nada muito explícito no filme inteiro) são as do início. Jamie ensinando uma lição oral a Dylan é ótimo. Já na cena de "amor" entre os dois, mais para a frente, com direito a música calculadinha (oh ironia) e até uma lua no céu, acaba soando falso demais. Assim como a estação de trem no filme dentro do filme (que tem ótimas pontas canastronas de Rashida Jones e Jason Segel).
Amizade Colorida tem também uma boa direção de arte. Os monitores/TVs exibem sempre imagens que têm uma ligação com o que se passa no filme, seja o site em que Dylan trabalha, seja num filme exibindo quatro pessoas na cama quando Jamie se questiona sobre sexo, ou até mesmo a carruagem passando ao fundo do Central Park quando Jamie e sua mãe discutem sobre príncipes encantados em carruagens. Aliás, apesar de no começo do filme a personagem de Mila Kunis dizer que levará o personagem de Timberlake para conhecer a Nova York além dos guias turísticos, o filme é pontuado por diversas imagens de guia turístico, tanto de NY quanto de Los Angeles. Estranhamente, alguns desses planos aparecem com uma fotografia diferente, mais granulada, como se fossem feitas com câmeras caseiras. O efeito não é muito bem explorado, entretanto.
Tenho que admitir. Gostei bastante de Amizade Colorida. O clima leve e agradável do filme (mesmo que dramatize um pouco mais no final), junto com o bom humor do roteiro e boas atuações, fazem com que este seja uma comédia romântica diferente das usuais. Não pela ausência dos clichês, mas pela qualidade com que os explora. Entre sexo sem compromisso e amizade colorida, escolha a amizade.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
Parece bem engraçadinho... despertou meu interesse.
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