2009-10-07

Um contestador em uma empresa que abomina a contestação - by Max Gehringer

Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 07/10/2009, sobre um funcionário contestador numa empresa rígida.

Áudio original disponível no site da CBN (link aqui). E se você quiser ler os comentários anteriores do Max Gehringer, publicados aqui, basta clicar neste link.

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Um contestador em uma empresa que abomina a contestação

a curiosidade matou o gato
Consulta de um ouvinte curioso. "Em minha empresa", ele conta, "existe uma cultura de concordar com tudo. Os poucos, como é o meu caso, que ousam levantar alguma dúvida ou propor uma solução que nunca foi tentada, são censurados por serem do contra. O nosso diretor até vive repetindo que a curiosidade matou o gato. Acontece que a minha empresa é muito, muito lucrativa. Isso não é um contrasenso?"

Bom, se você gosta de história, sabe que a humanidade sempre esteve repleta de grandes certezas, que acabaram sendo desmentidas por acontecimentos posteriores ou pelas descobertas da ciência.

Durante milênios, todo mundo, incluindo o Papa, tinha certeza de que o Sol girava em torno da Terra. E os que duvidavam, eram lançados numa fogueira. Não eram só os gatos que morriam pela curiosidade. Eram os próprios humanos que ousavam revelar um ponto de vista oposto à crença estabelecida.

Também durante milênios, os médicos acreditaram que drenar litros de sangue de um corpo anêmico, era uma boa maneira de curar um doente.

Sempre foi reconfortante e continua sendo, ouvir pessoas que pensam da mesma maneira que nós pensamos. Mas o aprendizado consiste em ouvir as opiniões das pessoas que pensam diferente de nós. São elas que vão fornecer argumentos para que possamos comparar, discutir e repensar as nossas certezas. Mas pessoas assim, sempre constituíram uma minoria não muito apreciada, porque desafiar a comodidade geral sempre causa reações não muito simpáticas.

Dito isso, o que acontecerá com a empresa de nosso ouvinte? Ela poderá, algum dia, próximo ou distante, ser superada por um concorrente. Ou poderá vir a se tornar obsoleta e desaparecer. Ou poderá sobreviver ainda por muitas décadas, acreditando em suas próprias verdades.

Existem empresas no Brasil, e não são poucas, que adotam procedimentos considerados antiquados e nem por isso, dão prejuízo. Mas uma coisa é inegável: uma cultura interna arraigada sempre irá prevalecer sobre a opinião individual de um funcionário.

Nosso ouvinte pretende ser contestador numa empresa que abomina a contestação. Como num casamento que não resiste a opiniões divergentes, nenhum dos dois está totalmente certo ou totalmente errado. Apenas um não nasceu para o outro.

Max Gehringer, para CBN.

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