Especialmente pro último dia do ano, em que as esperanças se renovam e etc, um calendário que serve para todo o ano:
Hoje é o dia oficial de jogar tudo para o próximo ano.
Mais uma genial ilustração, adaptada de Cinismo Ilustrado - Calendário de Propósitos.
2011-12-31
2011-12-30
Filme: Imortais
Em certa altura do filme Imortais (Immortals, no original), o protagonista e o vilão discutem acerca da imortalidade de seus nomes, de como eles serão lembrados pela História, da lembrança dos seus feitos. O que é bem irônico, uma vez que o filme é daqueles que, se não é de todo o ruim, é bem esquecível.
Imortais conta a história de Teseu (Henry Cavill), que é escolhido por Zeus (Luke Evans, que coincidentemente também foi um deus grego no outro filme de "mitologia", Fúria de Titãs), para derrotar o rei Hipérion (Mickey Rourke), que por não ter atendidas as suas preces para salvar a família de uma doença, resolve declarar guerra aos deuses e libertar os Titãs (da Grécia, não a banda). E ajudando Teseu em sua jornada, ainda temos a bela oráculo virgem (Freida Pinto) e o ladrão Stavros (Stephen Dorff).
Imortais é mais um desses filmes que vem na onda de rever (e, chorem puristas, deturpar e estraçalhar) a mitologia grega (pior ainda que Fúria de Titãs). Por isso, se você é fã de mitologia ou mesmo fã da série de livros do Percy Jackson (estes sim, recomendados para quem curte mitologia grega), finja que estamos num universo paralelo, porque toda a "releitura" da mitologia de Imortais é horrível. Tirando esse fato e ficando somente com os personagens como se eles fossem originais, bem, a história do filme continua bem fraca. Mas tem algumas boas cenas de ação.
Além de ter personagens rasos e unidimensionais, Imortais tem um sério problema no ritmo. Ok, algumas cenas de ação são até bem bacanas (como as batalhas no clímax, no túnel dentro do portão ou dos deuses), mas o espaço entre elas é um tanto quanto... entediante. O fato dos personagens serem unidimensionais prejudica bastante o desenvolvimento do filme, e até demora um bom tempo até que consigamos torcer pelo herói. Além disso, prepare-se para ver combates com o novo estilo predominante de Hollywood, que tem grande influência da estética de filmes chineses de kung-fu (sério, quando os deuses resolvem brigar, Zeus usa até mesmo técnicas chineses de kung-fu com corrente, algo que o Jet Li fazia muitíssimo bem). Junte-se a isso o uso constante de câmeras lentas (menos que em Sucker Punch, mas também muito menos estilosas), e temos cenas de ação boas, mas que destoam muito de qualquer coisa grega. Bem, um lado positivo das cenas é que elas não poupam violência: gargantas cortadas e bolas esmagadas estão lá.
Imortais, cujo cartaz engrandece o fato de ser produzido pelos mesmos produtores de 300, às vezes esquece o fato de que 300 (baseado numa HQ de Frank Miller) era mais do que cenas de ação filmadas à frente de fundo verde e homens malhados semi-nus em fantasias homoeróticas. Isso porque esses elementos estéticos estão novamente presentes. E só temos uma cena em que Freida Pinto aparece pelada pra contrabalancear. Nem pra mostrar Atena (Isabel Lucas) em trajes seminus também, ou mesmo, quem sabe, uma Afrodite... De qualquer maneira, o figurino, assim como toda a direção de arte, é um espetáculo (para o bem ou para o mal) à parte. Ou, no caso figurinos dos deuses, uma certa falta de figurino (tendo como única peça de roupa para identificar cada um deles, um elmo/capacete digno de escola de samba, além de tanguinhas genéricas).
Com atuações medianas (destaque mesmo somente para Rourke bem a vontade como vilão novamente, e para John Hurt como o "velho" em quase uma ponta), Imortais também parece sofrer de outro mal hollywoodiano recente: a de querer, a qualquer custo, fazer novas franquias (que outro motivo para aquele final, hein, diretor Tarsem Singh?)
No final das contas, Imortais até que pode ser divertido. Basta não compará-lo à mitologia "de verdade" e se deixar levar por alguns absurdos. É o preço que se paga para ver as cenas de ação. Não espere, entretanto, lembrar de muita coisa depois de alguns dias, pois este filme não é, nem de muito longe, um daqueles que entram para a história.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
Imortais conta a história de Teseu (Henry Cavill), que é escolhido por Zeus (Luke Evans, que coincidentemente também foi um deus grego no outro filme de "mitologia", Fúria de Titãs), para derrotar o rei Hipérion (Mickey Rourke), que por não ter atendidas as suas preces para salvar a família de uma doença, resolve declarar guerra aos deuses e libertar os Titãs (da Grécia, não a banda). E ajudando Teseu em sua jornada, ainda temos a bela oráculo virgem (Freida Pinto) e o ladrão Stavros (Stephen Dorff).
Imortais é mais um desses filmes que vem na onda de rever (e, chorem puristas, deturpar e estraçalhar) a mitologia grega (pior ainda que Fúria de Titãs). Por isso, se você é fã de mitologia ou mesmo fã da série de livros do Percy Jackson (estes sim, recomendados para quem curte mitologia grega), finja que estamos num universo paralelo, porque toda a "releitura" da mitologia de Imortais é horrível. Tirando esse fato e ficando somente com os personagens como se eles fossem originais, bem, a história do filme continua bem fraca. Mas tem algumas boas cenas de ação.
Além de ter personagens rasos e unidimensionais, Imortais tem um sério problema no ritmo. Ok, algumas cenas de ação são até bem bacanas (como as batalhas no clímax, no túnel dentro do portão ou dos deuses), mas o espaço entre elas é um tanto quanto... entediante. O fato dos personagens serem unidimensionais prejudica bastante o desenvolvimento do filme, e até demora um bom tempo até que consigamos torcer pelo herói. Além disso, prepare-se para ver combates com o novo estilo predominante de Hollywood, que tem grande influência da estética de filmes chineses de kung-fu (sério, quando os deuses resolvem brigar, Zeus usa até mesmo técnicas chineses de kung-fu com corrente, algo que o Jet Li fazia muitíssimo bem). Junte-se a isso o uso constante de câmeras lentas (menos que em Sucker Punch, mas também muito menos estilosas), e temos cenas de ação boas, mas que destoam muito de qualquer coisa grega. Bem, um lado positivo das cenas é que elas não poupam violência: gargantas cortadas e bolas esmagadas estão lá.
Imortais, cujo cartaz engrandece o fato de ser produzido pelos mesmos produtores de 300, às vezes esquece o fato de que 300 (baseado numa HQ de Frank Miller) era mais do que cenas de ação filmadas à frente de fundo verde e homens malhados semi-nus em fantasias homoeróticas. Isso porque esses elementos estéticos estão novamente presentes. E só temos uma cena em que Freida Pinto aparece pelada pra contrabalancear. Nem pra mostrar Atena (Isabel Lucas) em trajes seminus também, ou mesmo, quem sabe, uma Afrodite... De qualquer maneira, o figurino, assim como toda a direção de arte, é um espetáculo (para o bem ou para o mal) à parte. Ou, no caso figurinos dos deuses, uma certa falta de figurino (tendo como única peça de roupa para identificar cada um deles, um elmo/capacete digno de escola de samba, além de tanguinhas genéricas).
Com atuações medianas (destaque mesmo somente para Rourke bem a vontade como vilão novamente, e para John Hurt como o "velho" em quase uma ponta), Imortais também parece sofrer de outro mal hollywoodiano recente: a de querer, a qualquer custo, fazer novas franquias (que outro motivo para aquele final, hein, diretor Tarsem Singh?)
No final das contas, Imortais até que pode ser divertido. Basta não compará-lo à mitologia "de verdade" e se deixar levar por alguns absurdos. É o preço que se paga para ver as cenas de ação. Não espere, entretanto, lembrar de muita coisa depois de alguns dias, pois este filme não é, nem de muito longe, um daqueles que entram para a história.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
As foto-manipulações digitais surreais de mulheres sensuais de Kassandra Elka Vizerskaya
Kassandra Elka Vizerskaya é uma artista que fotografa e manipula digitalmente as fotos, criando mundos surreais. Suas retratadas são principalmente mulheres, que naturalmente sensuais, criam um clima de surrealismo e sensualidade nas fotografias.
Neste post, separei alguns dos trabalhos da fotógrafa. Entretanto, muitos outros, realmente bons, ficaram de fora por serem "sensuais demais" para este espaço. Algumas dessas fotografias para maiores de idade estão no meu outro blog, no Andarilho's NSFW.
Abaixo, vejam uma parte do trabalho de Kassandra:
Vestido de céu e mar.
Vestido de jornal pegando fogo.
No barco de papel.
O tempo voa.
Lavando cachorrinhos.
Freira de chocolate.
Beijo no encontro de fogo e água.
Rainha pescando na banheira.
Café.
Bicicletas recursivas.
Borboletas de café e leite.
Agora são borboletas vermelhas do batom.
Torcendo o mundo (a la fotografias de prédios de Nicholas Kennedy Sitton).
No jardim.
Beijo.
Gaivotas.
Dois mundos e a natureza.
Zebra.
Vestido de grama.
Um beijo em movimento.
Lembrando que neste post do Andarilho's NSFW - As manipulações digitais de mulheres sensuais e surreais de Kassandra Elka Vizerskaya, separei algumas imagens mais explícitas e igualmente interessantes do trabalho da artista.
Imagens via perfil de Kassandra Elka Vizerskaya no Photodom. Dica via The Design Inspiration.
Neste post, separei alguns dos trabalhos da fotógrafa. Entretanto, muitos outros, realmente bons, ficaram de fora por serem "sensuais demais" para este espaço. Algumas dessas fotografias para maiores de idade estão no meu outro blog, no Andarilho's NSFW.
Abaixo, vejam uma parte do trabalho de Kassandra:
Vestido de céu e mar.
Vestido de jornal pegando fogo.
No barco de papel.
O tempo voa.
Lavando cachorrinhos.
Freira de chocolate.
Beijo no encontro de fogo e água.
Rainha pescando na banheira.
Café.
Bicicletas recursivas.
Borboletas de café e leite.
Agora são borboletas vermelhas do batom.
Torcendo o mundo (a la fotografias de prédios de Nicholas Kennedy Sitton).
No jardim.
Beijo.
Gaivotas.
Dois mundos e a natureza.
Zebra.
Vestido de grama.
Um beijo em movimento.
Lembrando que neste post do Andarilho's NSFW - As manipulações digitais de mulheres sensuais e surreais de Kassandra Elka Vizerskaya, separei algumas imagens mais explícitas e igualmente interessantes do trabalho da artista.
Imagens via perfil de Kassandra Elka Vizerskaya no Photodom. Dica via The Design Inspiration.
Profissões do futuro são as mesmas do passado - by Max Gehringer
Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 30/12/2011, sobre como as profissões do futuro acabam sendo as mesmas do passado.
Áudio original disponível no site da CBN (link aqui). E se você quiser ler os comentários anteriores do Max Gehringer, publicados aqui, basta clicar neste link.
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Profissões do futuro são as mesmas do passado
Desde a década de 1980, sempre que eu vejo uma revista com uma matéria sobre "as profissões do futuro", eu compro e guardo. Nesses 30 anos acumulei perto de cinquenta publicações. Em cada uma delas, dependendo do momento em que o texto foi escrito, aparecem, com destaque, expressões que estavam em voga naquele momento, como reengenharia e downsizing há 20 anos, e que depois se perderam nos alfarrábios do modismo corporativo.
Da mesma forma, as matérias sempre listavam algumas profissões das quais quase ninguém tinha ouvido falar ainda. E eram exatamente elas as que chamavam mais a atenção de quem estava para decidir o que estudar, como por exemplo, turismólogo na década de 80.
Porém, praticamente todas as matérias continham uma frase à qual os leitores, em busca de novidades, davam pouca importância. A frase é: as profissões mais tradicionais continuarão a gerar o maior número de empregos no futuro.
O tempo mostrou que essa frase continua tão válida hoje como era há 30 anos. Ou em outras palavras, quem escolhe um curso que a maioria faz, tem mais chances de conseguir o primeiro emprego da carreira do que alguém quem opta por um curso pouco conhecido, mas rotulado como profissão do futuro.
A pegadinha está na relação entre o número de formandos e o número de vagas oferecidas pelas empresas. Percentualmente, uma determinada profissão pode mostrar um crescimento anual de 30%, o que parece uma maravilha, mas o número anual de vagas oferecidas é de uma para cada cem formandos.
Em resumo, a minha coleção de artigos vem mostrando, ano após ano, que as profissões do futuro continuam sendo as mesmas do passado. Nesses 30 anos, a única área que realmente desabrochou e gerou empregos em quantidade suficiente foi a da informática.
Max Gehringer, para CBN.
Áudio original disponível no site da CBN (link aqui). E se você quiser ler os comentários anteriores do Max Gehringer, publicados aqui, basta clicar neste link.
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Profissões do futuro são as mesmas do passado
Desde a década de 1980, sempre que eu vejo uma revista com uma matéria sobre "as profissões do futuro", eu compro e guardo. Nesses 30 anos acumulei perto de cinquenta publicações. Em cada uma delas, dependendo do momento em que o texto foi escrito, aparecem, com destaque, expressões que estavam em voga naquele momento, como reengenharia e downsizing há 20 anos, e que depois se perderam nos alfarrábios do modismo corporativo.
Da mesma forma, as matérias sempre listavam algumas profissões das quais quase ninguém tinha ouvido falar ainda. E eram exatamente elas as que chamavam mais a atenção de quem estava para decidir o que estudar, como por exemplo, turismólogo na década de 80.
Porém, praticamente todas as matérias continham uma frase à qual os leitores, em busca de novidades, davam pouca importância. A frase é: as profissões mais tradicionais continuarão a gerar o maior número de empregos no futuro.
O tempo mostrou que essa frase continua tão válida hoje como era há 30 anos. Ou em outras palavras, quem escolhe um curso que a maioria faz, tem mais chances de conseguir o primeiro emprego da carreira do que alguém quem opta por um curso pouco conhecido, mas rotulado como profissão do futuro.
A pegadinha está na relação entre o número de formandos e o número de vagas oferecidas pelas empresas. Percentualmente, uma determinada profissão pode mostrar um crescimento anual de 30%, o que parece uma maravilha, mas o número anual de vagas oferecidas é de uma para cada cem formandos.
Em resumo, a minha coleção de artigos vem mostrando, ano após ano, que as profissões do futuro continuam sendo as mesmas do passado. Nesses 30 anos, a única área que realmente desabrochou e gerou empregos em quantidade suficiente foi a da informática.
Max Gehringer, para CBN.
2011-12-29
Os tristes e melancólicos retratos de mendigos de Lee Jeffries
Lee Jeffries é um fotógrafo amador que vem ganhando atenção com as suas fotos retratando mendigos e outras pessoas que vivem nas ruas, tendo inclusive ganho um prêmio de fotografia digital de 2011.
O trabalho de Jeffries é visceral, ao mesmo tempo em que não deixa de ser um pouco depressivo e/ou triste. Os retratos que ele tira são fechados em torno do rosto dos seus retratados, conseguindo mostrar assim, boa parte da emoção que os submete no momento, que varia entre o cansaço, a tristeza, a resignação, a raiva e até mesmo a alegria.
Vejam:
Foto vencedora do concurso.
Imagens via flickR de Lee Jeffries. Dica via Colossal - Haunting Portraits of the Homeless by Lee Jeffries.
O trabalho de Jeffries é visceral, ao mesmo tempo em que não deixa de ser um pouco depressivo e/ou triste. Os retratos que ele tira são fechados em torno do rosto dos seus retratados, conseguindo mostrar assim, boa parte da emoção que os submete no momento, que varia entre o cansaço, a tristeza, a resignação, a raiva e até mesmo a alegria.
Vejam:
Foto vencedora do concurso.
Imagens via flickR de Lee Jeffries. Dica via Colossal - Haunting Portraits of the Homeless by Lee Jeffries.
'Sou perfeccionista e meu chefe não valoriza meus esforços' - by Max Gehringer
Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 29/12/2011, sobre um ouvinte perfeccionista que tem um chefe que não é perfeccionista também.
Áudio original disponível no site da CBN (link aqui). E se você quiser ler os comentários anteriores do Max Gehringer, publicados aqui, basta clicar neste link.
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'Sou perfeccionista e meu chefe não valoriza meus esforços'
"Sou perfeccionista", escreve um ouvinte. "Quero que meu trabalho saia perfeito e confesso que não consigo ignorar os colegas que fazem tudo mais ou menos, na base do atropelo, e mesmo assim ficam se achando o máximo. Meu problema é que meu chefe não percebe ou não valoriza os meus esforços. O que posso fazer a respeito?"
Vamos lá. O perfeccionista tem duas características bem marcantes.
A primeira é a atenção a pequenos detalhes que no fundo não têm qualquer importância para o resultado final. Por exemplo, ao receber um projeto para ler, o perfeccionista imediatamente nota que as margens estão desalinhadas. E isso o incomoda, embora não vá influir em nada no projeto em si.
E a segunda característica é de ter baixíssima resistência à críticas. Isso se explica porque o perfeccionista é o maior crítico de si mesmo. Por melhor que ele faça alguma coisa, ele sempre vai achar que poderia ter feito melhor ainda.
Chefes que não são perfeccionistas, e a maioria não é, não conseguem entender porque um subordinado pode gastar tanto tempo com minúcias. Possivelmente é isso o que o nosso ouvinte quis dizer quando mencionou que o chefe não valoriza os seus esforços. O chefe está mais preocupado em chegar a um objetivo dentro dos prazo estabelecido, do que em apresentar um trabalho perfeito em todos os sentidos, porque ele sabe que isso demandaria mais gente, mais tempo e mais recursos.
Mas respondendo ao nosso ouvinte, o que ele poderia fazer a respeito é tentar entender o que realmente a empresa espera dele, já que ele está destoando do grupo por procurar a perfeição, onde ela não é nem exigida, nem necessária.
Só que não tenho a menor dúvida de que o nosso ouvinte discordará da minha sugestão, porque se ele concordasse com ela, não seria um legítimo perfeccionista.
Max Gehringer, para CBN.
Áudio original disponível no site da CBN (link aqui). E se você quiser ler os comentários anteriores do Max Gehringer, publicados aqui, basta clicar neste link.
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'Sou perfeccionista e meu chefe não valoriza meus esforços'
"Sou perfeccionista", escreve um ouvinte. "Quero que meu trabalho saia perfeito e confesso que não consigo ignorar os colegas que fazem tudo mais ou menos, na base do atropelo, e mesmo assim ficam se achando o máximo. Meu problema é que meu chefe não percebe ou não valoriza os meus esforços. O que posso fazer a respeito?"
Vamos lá. O perfeccionista tem duas características bem marcantes.
A primeira é a atenção a pequenos detalhes que no fundo não têm qualquer importância para o resultado final. Por exemplo, ao receber um projeto para ler, o perfeccionista imediatamente nota que as margens estão desalinhadas. E isso o incomoda, embora não vá influir em nada no projeto em si.
E a segunda característica é de ter baixíssima resistência à críticas. Isso se explica porque o perfeccionista é o maior crítico de si mesmo. Por melhor que ele faça alguma coisa, ele sempre vai achar que poderia ter feito melhor ainda.
Chefes que não são perfeccionistas, e a maioria não é, não conseguem entender porque um subordinado pode gastar tanto tempo com minúcias. Possivelmente é isso o que o nosso ouvinte quis dizer quando mencionou que o chefe não valoriza os seus esforços. O chefe está mais preocupado em chegar a um objetivo dentro dos prazo estabelecido, do que em apresentar um trabalho perfeito em todos os sentidos, porque ele sabe que isso demandaria mais gente, mais tempo e mais recursos.
Mas respondendo ao nosso ouvinte, o que ele poderia fazer a respeito é tentar entender o que realmente a empresa espera dele, já que ele está destoando do grupo por procurar a perfeição, onde ela não é nem exigida, nem necessária.
Só que não tenho a menor dúvida de que o nosso ouvinte discordará da minha sugestão, porque se ele concordasse com ela, não seria um legítimo perfeccionista.
Max Gehringer, para CBN.
2011-12-28
Livro: Sincero
O livro Sincero, de Jürgen Schmieder, tem na capa escrito o que poderia ser uma pequena resenha dele: a história real e bem-humorada de um homem que tentou viver sem mentir. E é exatamente isso o que você encontra no livro, o projeto de Schmieder, que decidiu que durante os 40 dias da quaresma não ia mentir, dizendo o que viesse à sua mente de maneira sincera.
Numa sociedade em que pequenas mentiras não são somente toleradas, mas essenciais (e segundo o House, mentir é uma condição básica humana - everybody lies), você pode imaginar que a tarefa de não mentir por 40 dias é bem ingrata (mas bem divertida para quem observa de fora, como é o nosso caso como leitores). O resultado é frequentemente hilário, com Schmieder se colocando em saias justas por causa do seu projeto, ao falar a verdade para colegas de trabalhos e amigos, a namorada de um amigo, a família, a mulher, a si mesmo e até para o imposto de renda.
O texto de Schmieder, que é um jornalista alemão, é bem fluido e torna a leitura bastante agradável. Cheio de referências pop e modernas, o autor dá um toque às vezes meio nerd ao texto, falando desde os Simpsons até o Facebook, passando por diversos filmes conhecidos. O único problema é que não raramente ele cita figuras desconhecidas para nós, leitores não germânicos, mas nada que dificulte ou tire o prazer da leitura.
Com um humor ácido e sarcástico, e reflexões interessantes, Sincero é um livro bem divertido de se ler, além de relativamente curto (não tem 300 páginas).
Até pra mostrar o quanto gostei do livro, reuni alguns trechos dele, e não são exatamente poucos. Isso acontece quando o texto é tão bom que dá vontade de citá-lo quase que inteiro. Leiam:
O início do projeto, como uma penitência da quaresma:
Reflexões sobre a mentira e o projeto:
Citando cultura pop:
Verdades e mentiras no escritório e no relacionamento interpessoal no trabalho:
E as pequenas mentiras que todos contam no escritório:
Sobre propagandas, marketing, capitalismo desenfreado e o efeito manada:
Recapitulando e desejando terminar o projeto:
Mentiras, mentiras:
Sobre a geração "Dorian Gray" do autor, que se recusa a crescer:
Adorei a metáfora do turista japonês.
Ainda reflexões sobre a geração Dorian Gray e as mentiras que contamos a nós mesmos...
...e o vazio dessa geração, que quer estar sempre presente, mesmo que de forma frívola:
As conseqüências de ser da geração Dorian Gray e as suas mentiras:
Elogios sinceros são uma arte:
Sinceridade, paixão e amor:
Sinceramente revendo conceitos no trabalho:
As mentiras que os homens contam no sexo e no amor:
Casamento, sinceridade e o projeto do livro:
Se você quiser saber as respostas, vai ter que arranjar o livro. :)
Pequenas citações pop:
Um dos meus sonhos é tomar uma Duff no bar do Moe com o Homer.
Sobre auto-imagem, photoshop e a mentira para si mesmo:
Numa sociedade em que pequenas mentiras não são somente toleradas, mas essenciais (e segundo o House, mentir é uma condição básica humana - everybody lies), você pode imaginar que a tarefa de não mentir por 40 dias é bem ingrata (mas bem divertida para quem observa de fora, como é o nosso caso como leitores). O resultado é frequentemente hilário, com Schmieder se colocando em saias justas por causa do seu projeto, ao falar a verdade para colegas de trabalhos e amigos, a namorada de um amigo, a família, a mulher, a si mesmo e até para o imposto de renda.
O texto de Schmieder, que é um jornalista alemão, é bem fluido e torna a leitura bastante agradável. Cheio de referências pop e modernas, o autor dá um toque às vezes meio nerd ao texto, falando desde os Simpsons até o Facebook, passando por diversos filmes conhecidos. O único problema é que não raramente ele cita figuras desconhecidas para nós, leitores não germânicos, mas nada que dificulte ou tire o prazer da leitura.
Com um humor ácido e sarcástico, e reflexões interessantes, Sincero é um livro bem divertido de se ler, além de relativamente curto (não tem 300 páginas).
Até pra mostrar o quanto gostei do livro, reuni alguns trechos dele, e não são exatamente poucos. Isso acontece quando o texto é tão bom que dá vontade de citá-lo quase que inteiro. Leiam:
O início do projeto, como uma penitência da quaresma:
Era a primeira vez, e planejei que seria assim pelo menos mais oito mil vezes. Repetiria aquilo de novo, e tinha grandes planos para a Quaresma. Continuaria bebendo, comendo doces e fumando. Eu tentara parar com tudo isso nos últimos cinco anos com sucesso razoável. Naquele momento tinha início, portanto, um novo projeto:
Ficar quarenta dias sem mentir.
E para deixar bem claro: eu também não diria a verdade. Seria sincero – e entre sinceridade e verdade há uma diferença. Pois é claro que não sei se a mulher atrás do balcão é de fato uma puta sem-vergonha, uma piranha descarada ou uma vaca idiota. Talvez ela seja uma pessoa boa que precisa criar quatro filhos sozinha, faz seu trabalho de forma cuidadosa e ainda prepara sopa para desabrigados – e foi pega desprevenida em um dia ruim, ou mesmo em um momento ruim. Mas naquela hora eu a achei uma piranha descarada e uma vaca idiota – e a informei sobre isso com toda a sinceridade. Existe uma relação complexa entre verdade e sinceridade – e com freqüência confundimos os conceitos. (...)E a afirmação "Você é um bundão" também pode ser sincera, contudo é difícil checar sua veracidade, pois quem pode dizer ao certo que tamanho precisa ter um traseiro para receber o aumentativo?
Reflexões sobre a mentira e o projeto:
Mentir, ao contrário, é punido juridicamente apenas quando se trata de delitos graves, como fraude ou perjúrio. Nenhuma mulher precisa ser responsabilizada em juízo por fingir orgasmo, e ninguém será considerado socialmente proscrito por não ter dito de coração que "O Senhor é um ótimo chefe". Porque essas pequenas mentiras são socialmente aceitas. Em geral, trata-se quem é sincero como alguém rude e malcriado.
E é ainda mais surpreendente o fato de que quase ninguém se descreve como mentiroso. A sinceridade é importante para as pessoas. De acordo com um estudo recente, 80% delas admitem que a sinceridade seria de extrema importância em um relacionamento afetivo – ficando à frente do humor, do sexo de qualidade, de boa situação financeira e posição social.
Claro que – e isso é comprovado também por diversos estudos – as pessoas acham pior ser enganadas do que elas próprias lançarem mão de uma mentirinha inofensiva. Eu queria descobrir, durante esses quarenta dias, algo mais: O que seria pior para as pessoas, ser enganadas ou ter que aguentar uma verdade dura?
Mas existe um problema, porque eu não sou o Jim Carrey – mesmo que a pele do meu rosto seja tão elástica quanto a dele –, muito menos o personagem que ele incorpora no filme O Mentiroso, em que é sincero por 24 horas porque simplesmente não pode mentir. A diferença entre nós é a seguinte: eu posso continuar mentindo sem pestanejar. Não existe uma obrigação, mas uma decisão de livre e espontânea vontade de ser sincero. O personagem de Carrey não entra em conflito consigo mesmo, não lhe resta escolha. Eu tenho. No filme se enfileiram cenas engraçadas, e há obviamente o abominável e inevitável final feliz, que tem apelo fraco por ser infeliz de tão previsível. Veremos como serão as coisas para mim.
De todo modo, eu acharia bem injusto se fosse castigado apenas por ser sincero – como também acharia extremamente injusto morrer há dois anos, quando fui atropelado logo depois de parar de fumar. Por isso voltei a fumar.
Citando cultura pop:
Não gostaria de dizer que tive uma epifania – mas fiquei muito impressionado. E se eu fosse um escritor melhor, me viria à cabeça um ditado mais elaborado do que a frase feita: "Da boca das crianças, apenas a verdade".
Eu estava como Charlie Sheen na brilhante série de TV Two and a Half Men. O pegador hedonista, que deu abrigo ao irmão e ao sobrinho meio lerdo, quer se casar. Charlie pergunta a Jake o que ele acha. "Bom", responde o garoto de 10 anos. Charlie então fica indignado: "Não tem mais nada a dizer?" E o menino: "Bem, o que devo achar?" Charlie pensa um pouco e responde: "Bom". Jake franze a sobrancelha: "Então..."
Verdades e mentiras no escritório e no relacionamento interpessoal no trabalho:
No escritório, ninguém deve expressar abertamente sua opinião, caso contrário se igualará a uma emissão de gás carbônico e será responsabilizado pelas "mudanças climáticas" do departamento. Devemos elogiar os colegas, criticá-los de forma construtiva, acima de tudo de maneira diplomática, e de jeito nenhum expressar abertamente e com todas as nossas forças osso ódio a muitos deles. Não sei exatamente por que as coisas são assim. Só sei que revista femininas, masculinas e treinadores profissionais ganham muita grana explicando aos leitores ou ouvintes como conseguem aplicar essas regras subentendidas e avançar no trabalho por meio de mentiras espertas.
(...) De acordo com estudos, pode-se passar mais tempo com os colegas do que com a própria mulher.
Como eu havia lido algo sobre isso havia poucos dias, perguntei sinceramente a mim mesmo por que as pessoas fazem todo aquele alvoroço com relação ao indivíduo com quem saem, se juntam ou se casam, enquanto na escolha do emprego se atentam apenas ao pagamento, à aparência e ao tamanho da empresa. Os relacionamentos foram transformados em ciência, que, em sua atenção aos detalhes, lembra as preparações para o lançamento de um foguete, enquanto na escolha do emprego, as pessoas conhecem apenas os funcionários do departamento pessoal, com os quais mais tarde vão se relacionar somente se houver erro no cálculo do salário.
Não deveria ser o contrário? Digo, se realmente refletirmos sobre os fatos? Não deveríamos ter o cônjuge escolhido por um assistente de departamento pessoal, enquanto primeiro nos encantaríamos com os colegas em um encontro e decidiríamos sobre sua contratação apenas após falar com seus pais? Será que alguém já pensou nisso?
Acredito que 80% dos meus colegas nem se relacionariam comigo se não tivéssemos de dividir o mesmo andar. Temos interesses distintos e não rimos das mesmas coisas. O escritório é um verdadeiro campo minado verbal sobre o qual temos de correr dia após dia; em todo canto há perigo de explosão. Sinceridade, sinceridade real, no sentido de Honestidade Radical, no ambiente de trabalho é tão adequada quanto uma pulada de cerca no dia do casamento.
E as pequenas mentiras que todos contam no escritório:
Reflita comigo. Uma frase do tipo: "Desculpe, não tenho tempo, estou cheio de coisas para fazer" é uma mentira quando seu e-mail pessoal está aberto na tela do computador. É uma desculpa gentil, mas uma mentira. Uma fala como "Seu texto está perfeito" é uma mentira quando na verdade se pensa que o texto é no máximo mediano. Trata-se de algo agradável, mas é uma mentira. E mesmo o fato de cumprimentar um colega que não lhe agrada apenas para contribuir para a paz geral significa mentir.
Sobre propagandas, marketing, capitalismo desenfreado e o efeito manada:
Ao meu lado, a televisão exibia propagandas. Primeiramente Heidi Klum tenta me convencer de que ela e suas seguidoras magrelas vindas do inferno de algum casting se entopem diariamente de fast-food e ainda assim conseguem entrar em roupas PP. Então um quarentão atraente diz que cerveja sem álcool tem o mesmo gosto de cerveja normal e, para completar, uma mulher, que certamente nunca precisou fazer faxina na vida, me explica que com aquele produto é possível tirar as piores manchas do carpete.
Sinceramente, eles acham que somos idiotas? As pessoas que gravam esses filminhos de merda pensam mesmo que caímos nesse papo? Que acreditamos nessa baboseira toda? Há pouco li em um artigo que os negócios de fast-food, cerveja e produtos de limpeza prosperam também em meio à crise financeira, o que me leva a concluir que as pessoas devem ter perdido toda e qualquer noção. Somos enganados, e apesar de tudo compramos como se não houvesse amanhã. Quem compraria um produto anunciado assim: "Não somos os melhores nem os mais baratos, mas ficaríamos felizes se você ainda assim comprasse essa besteira?" Não sou exceção, também como fast-food e compro coisas no supermercado, embora toda vez minha mulher me explique que o outro produto, que fica vinte centímetros abaixo na prateleira, é mais barato e tão bom quanto o que está ao alcance do braço. E é claro que minha abundante autoconfiança me obriga a me considerar inteligente e a não me deixar influenciar por propagandas – mas definitivamente não rola. Eu me deixo enganar e não luto contra isso – e em algum lugar do mundo um diretor de comerciais está rolando de rir.
Temos ciência de que somos trapaceados o tempo todo, e ainda assim apoiamos isso ao comprar. Deveríamos boicotar esse tipo desonesto de anúncio e ainda reclamar com os fabricantes por meio de cartas, mas aceitamos o fato de que todos agem assim, e por isso está tudo em ordem. Porque todos mentem, achamos que isso é menos pior. A própria burrice não parece tão burra assim quando todos os outros são burros também. Nós certamente também aceitaríamos o estupro e o assassinato se todos agissem assim. Nós, seres humanos, somos engraçados.
Recapitulando e desejando terminar o projeto:
É bem provável que Deus me acusasse de ter feito as pessoas à minha volta sofrer, e teria razão. Ele me lembraria que eu dedurara meu melhor amigo como Judas traíra seu filho, e teria razão. Talvez até dissesse quão idiota eu era por ter deixado 1700 euros para o fiasco, embora não fosse totalmente divino ferrar com a receita federal, que parece muito com o inferno, e ele teria razão.
E certamente diria que nunca fui sincero com essa história de sinceridade, mas só comecei o projeto porque, por um lado, minha vida até aquele momento era muito chata e, por outro, desejava ficar rico e famoso com um livro e fazer com que as pessoas que afirmaram que eu não daria em nada revirassem no túmulo ou, no mínimo, na cama à noite. Nesse caso, ele também teria razão.
Resumindo, eu queria desistir.
Mentiras, mentiras:
O que existe de bom numa mentira? Absolutamente nada. Claro que Steffi e Uwe viveram felizes com a mentira por muito tempo. Ele podia andar de moto sem chateação e ela o considerava seu namorado querido que administrava com parcimônia o próprio dinheiro.
Uma mentira pode ser útil quando não desmascara ninguém.
Nós mentimos porque esperamos nunca ser apanhados. Só que uma mentira leva a outra que leva à próxima, e no fim tudo explode. Bem, pelo menos na maioria das vezes.
Sobre a geração "Dorian Gray" do autor, que se recusa a crescer:
Por isso eu não me descreveria como exemplo para meus sobrinhos e sobrinhas, mas com isso espero ser descrito como sinistro, ou da hora, ou show, ou seja lá o que os jovens de hoje costumam dizer em casos assim – na minha época de adolescente, poderia ser definido como bacana.
Faço jus à geração Dorian Gray. Minha imagem fica cada vez mais velha, enquanto luto desesperadamente para que os 30 anos durem vinte ou mais. Não se trata de modinha – hoje em dia membros da geração são recrutados em todas as faixas etárias. Os de 40 anos atraem mulheres de 22 na academia. Os de 50 festejam o aniversário não com um banquete, mas com uma festa de arromba na boate badalada do momento. Aposentados não saem mais para passear, mas se jogam na balada ou correm maratonas. Eles definitivamente não são molengas. Precisamos experimentar de tudo, mas nada mais certinhos. Somos turistas japoneses de nossa própria vida – procuramos momentos interessantes, tiramos uma fotografia rápida e logo estamos a caminho da próxima atração.
(...)
Tento ser jovial, bacana e descolado – pois ser jovem, bacana e descolado é ainda mais importante do que ser rico. Há pouco tempo, no cabeleireiro, apontei uma foto de um ator de 20 anos quando precisei escolher um corte de cabelo. Sei como se baixa um toque de celular, tenho mais de trezentos amigos no Facebook e há pouco tempo fui a um show das Pussycat Dolls. Sei o que é happy slapping. É muito simples: eu não quero crescer, nunca. Pode me chamar de Peter Pan, Lucien de Rubempré ou Dorian Gray.
Adorei a metáfora do turista japonês.
Ainda reflexões sobre a geração Dorian Gray e as mentiras que contamos a nós mesmos...
É ainda característico da minha geração não viver no presente, mas no passado ou no futuro. Mentimos a nós mesmos o tempo todo, porque nosso presente é determinado por empregos das nove da manhã às seis da tarde e programas de TV enfadonhos. Ou seja, contamos sobre nosso tempo de adolescência e faculdade, que naturalmente era muito mais louco e interessante do que o de todas as outras pessoas. Trata-se de um efeito psicológico simples: o cérebro elimina de nossa lembrança anual 320 dos 365 dias. O restante é editado e recheado de efeitos especiais – e assim um filme caseiro enfadonho vira um megasucesso psicopornô de ação. E de repente mesmo um professor de latim, que na adolescência era tímido demais para peidar na escola, pode contar aos filhos que foi um garanhão selvagem.
...e o vazio dessa geração, que quer estar sempre presente, mesmo que de forma frívola:
E a característica mais importante da geração Dorian Gray: queremos estar presentes. Como a maioria de nós não quebrará nenhum recorde mundial, não salvará vidas nem fará um gol decisivo numa final de Copa do Mundo, é de tremenda importância vivenciar algum acontecimento no mínimo como espectadores. Mario Barth conseguiu entrar para o Guinness com seu show de comédia no Estádio Olímpico de Berlim. As pessoas nas filas do fundo não viram, tampouco entenderam Barth – o que não foi assim tão ruim –, mas estavam lá, no recorde mundial. Um bombeiro resgata um homem de um carro capotado – e nós passamos por eles bem lentamente para poder contar detalhes na mesa do bar, mesmo que nunca salvemos outra pessoa. E claro que assistimos à final do campeonato, de preferência no estádio, mas em caso de necessidade a televisão também serve. Assim, estamos de alguma forma presentes – quando não como protagonistas, ao menos como espectadores. E ninguém se pergunta o que deu errado na vida para nunca ter estado no centro, mas todos nos damos tapinhas nas costas por pelo menos estar lá, à margem. Antigamente havia o ditado alemão: "Quem gosta de fazer da própria vida um show em algum momento vai ter de comprar um ingresso para si mesmo". Hoje poderia ser alguma coisa assim: "Quem não faz o próprio show tem ao menos um ingresso para ver o show alheio".
As conseqüências de ser da geração Dorian Gray e as suas mentiras:
De acordo com um estudo recente, temos uma faixa etária cuja taxa de mortalidade nos países industrializados cresce de maneira desproporcional: pessoas entre 16 e 30 anos. Ninguém quer procurar os reais motivos, então culpam os jogos de computador, o rock ou a internet. Isso também pode se dar pelo fato de que nossa adolescência dura muito, e em algum momento percebemos que a ilusão não pode mais ser sustentada e que mentimos para nós mesmos por quinze anos. Então enlouquecemos. Morremos de overdose. Corremos a 160 por hora numa estrada e socamos a cara num trator. Atiramos em outras pessoas e então cometemos suicídio.
Até aí não importa o fato de que nosso emprego paga mal, moramos em um buraco e não fazemos sexo há um ano. Porque, e isso está no catecismo da geração Dorian Gray: "Na escola e na faculdade eu era descolado, tinha dinheiro suficiente e dormia com pelo menos uma mulher por semana – em dez anos vou ganhar muito dinheiro, viajar pelo mundo e ter uma mulher dez anos mais nova. Isso aqui é só uma fase". O ópio não é a religião, mas o embelezamento do próprio passado e a esperança de um futuro mais interessante.
Mentimos para nós mesmos o tempo o todo, pois não queremos ser tediosos de jeito nenhum. E eu, como um dos membros dessa geração, minto para mim mesmo.
Elogios sinceros são uma arte:
Uma pergunta sincera: Quando foi a última vez que você fez um elogio realmente sincero? Não estou falando da frase feita "Sim, ficou ótimo" quando alguém pergunta, nem do enfadonho "Você fez um bom trabalho hoje", e tampouco estou me referindo ao meloso "Lindos olhos", que não é um elogio de fato, mas apenas um prelúdio do cortejo masculino com o objetivo de induzir ao sexo uma mulher que não quer transar. Estou falando de elogio sincero e bem pensado, que necessita de grande esforço e declara explicitamente ao outro que ele está realmente muito bem, ou o que no trabalho dele foi tão excelente, ou o motivo de seus olhos serem realmente excepcionais. Um elogio em que também se revele um pedaço de sua própria alma e talvez dê até um pouco de vergonha quando enunciado.
Sinceridade, paixão e amor:
Ficou claro também que sinceridade tem muito a ver com paixão e amor. No início do meu projeto, havia aquela emoção, aquela sensação de frio na barriga, coração disparado, arrepio. Era fascinante ser sincero com as pessoas – com a funcionária da estação de trem, com a namorada do meu melhor amigo, com a receita federal. Era empolgante ver a reação no rosto das pessoas e, olhando para trás, tomar uma porrada na costela também foi uma experiência prazerosa. Essa coisa de sinceridade era nova, tinha algo de proibido, era excitante. Era, de fato, um pouco como estar apaixonado.
Depois dos primeiros desesperos, primeiros sucessos e o retorno contínuo do frio na barriga, a rotina se instala, há uma quantidade de experiências engraçadas e algumas dolorosas – mas a empolgação desaparece. Queimei minhas melhores observações, pois tinha mesmo de ser sincero, isso fazia parte do meu projeto. Eu fazia elogios como se lesse as notícias do jornal das oito em um teleprompter. É verdade, nunca mais parei para pensar. Eu me acostumei à sinceridade, não fiz o menor esforço. Minha relação com ela havia esfriado, acabou ficando tão empolgante quanto um filme caseiro. Eu conhecia tão bem as principais reações das pessoas que às vezes nem prestava mais atenção. O sistema era sempre o mesmo: eu criticava alguém rapidamente e ganhava um olhar feio ou uma crítica. Caso fizesse um elogio sem amor, recebia de volta um sorrisinho breve ou uma palavra gentil. Sim, a sinceridade havia se tornado uma namorada com a qual eu estava desde os 13 anos e não fazia sexo havia seis meses.
Sinceramente revendo conceitos no trabalho:
Eu me testei. E o resultado não me agradou em nada.
Eu considerava os caras legais e as meninas bonitas os melhores funcionários da redação, enquanto os esquisitões e as mulheres, de acordo com Charloes Bukowski, integradas à sociedade apenas por emancipação caíam na minha escala de competência.
Meu Deus, eu era fútil. Eu precisava mudar. Urgentemente.
Eu tinha de dizer aos colegas o que achava de seus textos – e tinha de confessar isso com sinceridade: para mim era mais difícil elogiar do que encher alguém de ofensas críticas. Já tinha notado isso no pebolim havia algumas semanas – mas naquele momento calava mais fundo, pois era a segunda vez que acontecia, e se tornara evidente demais que tipo de pessoa eu era: um resmungão mal-humorado que preferia detonar que elogiar.
Meu pai sempre dizia: "Não dizer nada já é elogio suficente". Eu devia repensar a criação de meus pais.
As mentiras que os homens contam no sexo e no amor:
Sejamos sinceros: logo no primeiro encontro, mentimos dizendo que o barão de Münchhausen nos pediu para mudar para o seu castelo. Glamorizamos nosso trabalho, omitimos detalhes sobre o último relacionamento e claro que em algum momento surge a afirmação de que queremos ir devagar e primeiro desejamos conhecer o outro, por isso um beijinho no fim do encontro realmente basta. Não vou fazer como os comediantes costumam fazer por aí, mas preciso dar esta dica para as mulheres: um homem que no primeiro encontro não deseja dormir com a mulher é gay ou liga tanto para mulheres como o torcedor de um time liga para um célebre ex-jogador de outro.
Claro que, no primeiro encontro com minha mulher, eu disse que pegar na mãozinha já estava bom, embora o que quisesse mesmo fosse avançar sobre ela como um tamanduá sobre um formigueiro. Precisei esperar mais de cinco meses – uma espera e tanto, que agora vejo que valeu a pena, mas imagine você se o relacionamento tivesse terminado depois de três meses. Eu realmente teria perdido algo muito bom...
E a mentirada continua comendo solta – e em algum momento, surge a frase inevitável: "Você é a mulher mais bonita do mundo". Não gostaria de dizer nada sobre essa frase, pois vários comediantes e cerca de duzentas autoras de livros femininos já o fizeram. Obviamente podemos dizer que se trata de um belo elogio, mas é sobretudo uma mentira. E bem maldosa.
Pois, por um lado, ninguém pode afirmar que conhece de verdade a mulher mais linda do mundo – exceto se tiver amizade com a atual Miss Universo, além da Miss Mundo, da Miss Intercontinental e da "Mamãe Universo". Assim, deve-se tomar como exemplo Hugh Grant no filme Amor à segunda vista, quando Sandra Bullock o acusa: "Você é a pessoa mais egoísta do mundo". Ao que ele responde: "É ridículo – como se ela conhecesse todas as pessoas do planeta".
Por outro lado, a frase é mesmo uma mentira, porque não foi dita pela primeira vez – a não ser que o jovem esteja no início da puberdade. Acredito que eu – espero que minha mulher não leia isto – já tenha dito isso a umas vinte mulheres diferentes. Claro que é possível dar uma desculpa e explicar que todas as vezes ela foi dita com sinceridade. No entanto, uma mulher que realmente acredita nisso também acredita na frase: "Não, meu amor, eu nunca dormiria com a sua melhor amiga".
Ou seja, a frase, no melhor e mais romântico caso, deveria ser: "Acho você a mulher mais linda que encontrei na vida até agora". Ficaria um pouco desajeitada, mas seria sincera.
Se alguém reclamar perguntando onde fica o romantismo sem adulação, então eu ressalto que este livro se chama Sincero, e não Frases feitas sedutoras para conquistar qualquer mulher. Você vai entender do que estou falando. Eu concordo com a banda Die Ärtze, na música "Männer sind Schweine" (Homens não prestam), quando cantam: "Ele mente como se não houvesse amanhã apenas para levá-la para a cama".
Sim, é verdade, nós homens não prestamos, mas pela onda da metrossexualidade fomos obrigados a omitir esse fato. ...
Casamento, sinceridade e o projeto do livro:
Na cerimônia de casamento, os casais são forçados a fazer promessas de longo prazo, que podem criar uma amarra mais poderosa que qualquer prisão. Deve-se amar e respeitar o cônjuge, e melhor que seja até a morte pôr um fim na relação. Comento aqui, apenas de passagem, que essa regra foi criada numa época em que a expectativa de vida não passava dos 30 anos, por isso ser casado pela vida toda significava apenas quinze anos. Aliás, não são poucos os prisioneiros que, na Alemanha, são condenados ao tempo máximo de prisão e são soltos por boa conduta após os mesmos quinze anos.
Na cerimônia, nada se fala a respeito da verdade e da sinceridade. Quem é que tenha criado os votos matrimoniais não imaginou que a sinceridade anteciparia a morte e a taxa de divórcio alcançaria números inimagináveis no mundo todo.
Geralmente as pessoas acreditam que a sinceridade traz mais problemas ao casamento do que infidelidade, bar com os amigos e mania de comprar sapatos. Eu também acreditava nisso. E foi por isso que quis colocar "a sinceridade no casamento" no fim do livro, sem me dar conta de que um casamento não deve ser mantido só até que a morte os separe, mas todos os dias.
Na preparação do projeto, imaginei que dizer a verdade à minha mulher seria pior do que mais uma continuação de Homem-Aranha. Pensei nas perguntas clássicas que todo homem teme, como sobre impotência e queda de cabelo. Antes do projeto, anotei as cinco perguntas das quais eu tinha mais medo:
- Você acha meu traseiro gordo?
- Você dormiria com a Nicole Scherzinger se ela quisesse?
- Com quantas mulheres você transou antes de mim?
- Se tivesse de escolher entre mim e o futebol, o que escolheria?
- Você se casaria comigo de novo agora?
Sim, eu respondi a essas perguntas, e no fim do capítulo revelarei as respostas.
Se você quiser saber as respostas, vai ter que arranjar o livro. :)
Pequenas citações pop:
De qualquer forma, ao surfar na Wikipédia, cheguei ao artigo sobre Lake Wobegon. Trata-se de uma cidadezinha dos sonhos no estado americano de Minnesota, onde todas as mulheres são lindas, os homens espertos e as crianças melhores que a média. Qualquer criança na cidade tem talentos acima da média.
Lógico que esse lugar não existe. O artigo já poderia ter me chamado atenção quando mencionou que todas as mulheres eram bonitas e todos os homens espertos. Um lugar assim não pode mesmo existir.
Lake Wobegon é a invenção do conhecido entrevistador e radialista americano Garrison Keillor – ele deve ser famoso, pois apareceu em um episódio dos Simpsons, e neste mundo as pessoas são realmente famosas quando alguma vez na vida se tornaram um desenho amarelo.
Um dos meus sonhos é tomar uma Duff no bar do Moe com o Homer.
Sobre auto-imagem, photoshop e a mentira para si mesmo:
A mania do Photoshop fez com que, em 2003, uma bela mulher estampasse a capa de uma revista masculina americana, só que o designer gráfico, zeloso demais, retocou os mamilos da moça e aparentemente não restou mamilo algum. Óbvio que os responsáveis pela revista se comportaram de forma correta na esfera jurídica, pois mamilos expostos nos Estados Unidos ficam em algum lugar entre assassinato e estupro. Contudo, eu me pergunto o que é mais perturbador: uma mulher maravilhosa nua ou uma mulher sem mamilos? De qualquer forma, minha carta de leitor da época ficou sem resposta.
De volta a mim e à sinceridade comigo mesmo: meus dentes estão amarelados por causa do cigarro, os cabelos também costumavam ser mais cheios. As roupas de trabalho são inadequadas, parecem mais as de um adolescente. A casa está como se tivesse sido abandonada por hippies há trinta anos e ninguém mais tivesse entrado nela.
Em suma: este homem aqui, que adora fingir que é autoconfiante e atraente, não tem controle nenhum sobre sua vida. Quero sempre ouvir dos outros que o texto está bom, de outra forma não consigo dormir de tanta insegurança. Não aceito perder. Sou irritado. Arrogante. Poderia continuar por mais duas páginas, mas acho que você já entendeu.
A psicóloga Claudia Mayer escreveu em Lob der Liige (Elogio à mentira) que, em muitos momentos, seria muito melhor e mais fácil não dizer verdade. Em curto prazo, ela até pode ter razão. Mas o que resulta em longo prazo? Nada. Tudo fica cada vez pior. Ela quase não escreve como é mentir para si mesmo – e como as pessoas se sentem quando descobrem a verdade sobre si mesmas.
Dói.
Ao descobrir a mentira, tomamos consciência de que a verdade não é tão legal quanto havíamos pensado até o momento.