Mais um exemplo de filme que estreou há meses no Brasil, mas só agora chegou no cinema por aqui (e mesmo assim, só na sessão "cult"), o filme Nova York, Eu te Amo (ou no original, New York, I Love You). Assisti ele ontem e sai da sessão encantado.
Nova York, Eu te Amo reúne uma série de histórias curtas, cada uma dirigida por um diretor (são 11 diretores que assinam o filme). Como toda coletânea, algumas histórias são melhores que as outras, e os estilos de como contá-las também difere. Mas no geral, se há algumas apenas um pouco acima da média, há outras absolutamente geniais, especialmente se contarmos com as limitações impostas pelo tempo que cada história tem.
Essa estrutura de curtas me lembra muito as coletâneas de contos, em que alguns são um pouco mais longos, e outros curtíssimos. Entretanto, o que poderia parecer apenas uma coletânea de curtas com algumas características em comum (no caso, a cidade de Nova York e o amor), se transforma em um filme único, ao costurar várias dessas histórias com personagens em comum. Outra coisa genial foram os pequenos interlúdios entre as histórias maiores, como se fossem micro histórias entre elas, várias vezes mostrando personagens de histórias anteriores, o que dá a Nova York, Eu te Amo um ar daqueles filmes com vários arcos e histórias que constantemente se cruzam, como nas comédias românticas Ele não está tão a fim de você e Idas e Vindas do Amor.
Mas não se engane, porque Nova York, Eu te Amo não é uma comédia romântica. Existem sim, histórias mais cômicas, mas como a cada diretor foi dada a liberdade para escolher seu gênero, existe uma grande diversidade. Como por exemplo, o curta dirigido por Shekhar Kapur, que é bem melancólico, mostrando uma velha cantora e o carregador de malas do hotel, vivido brilhantemente por Shia LaBeouf, provando não ser apenas o moleque do fogo cruzado dos Transformers. Neste curta também é interessante notar o posicionamento da câmera, captando muito do que passa, por imagens no espelho.
O segmento dirigido por Brett Ratner, mais conhecido por seus filmes de ação (como a série A Hora do Rush), também destoa dos demais no quesito gênero (mas não na qualidade do curta). Assim como o personagem do curta, um jovem que perde a namorada e par da noite de formatura, e acaba tendo que ir com uma outra garota (numa cadeira de rodas), o curta é marcado pela correria e novas descobertas. E, apesar de alguns clichês visuais (como a reação de todos na formatura ao verem a garota cadeirante), o resultado é muito divertido.
Como o amor tem várias facetas, cada curta escolhe qual faceta explorar. Por exemplo, o segmento dirigido por Allen Hughes, que mostra duas pessoas se dirigindo a um bar para um segundo encontro. Ao mesmo tempo em que, com as narrações dos pensamentos dos personagens, ele explora as dúvidas relativas a onde o relacionamento deles se dirige, com imagens em flashback ele explora a sensualidade e a sexualidade do relacionamento. Visualmente e plasticamente, o resultado é muito bom, embora a história em si seja bastante trivial. Destaque para a tomada final do táxi, com a câmera por trás dele.
E, assim como o amor tem muitos aspectos, a cidade de Nova York também. E esse aspecto multi-cultural, multi-religioso e multi-étnico é bastante explorado em vários dos curtas. Um dos primeiros a ser mostrado, o dirigido por Mira Nair, é bem explícito nesse sentido. Nele, vemos dois comerciantes de diamantes, um indiano e uma judia ortodoxa, negociando. E, o que é uma transação puramente comercial, se desenvolve num jogo quase como um flerte. Mas tanto o indiano interpretado Irfan Khan (mais conhecido pelo papel de inspetor em Quem Quer Ser Um Milionário?), quanto a judia interpretada por Natalie Portman (que também dirige outro curta deste filme), têm seus cônjuges, da mesma religião/raça/cultura. E o curta termina com uma clara homenagem/referência a um clichê de comédias românticas.
E aproveitando que falei da Natalie Portman, o trecho que ela dirige também traduz essa diversidade que Nova York respira. Mas, desta vez, o amor retratado é um amor mais familiar. Apesar da história em si ser apenas mediana, o como ela foi contada a tornou genial. Logo no começo, uma pequena menina, deitada num parque, olha para os arranha-céus da cidade, fechando um olho e depois o outro, alternadamente. Assim, com duas perspectivas, ela diz que a cidade está dançando. E, no final do curta, o simbolismo associado a isso se revela, num tom muito bonito.
Entretanto, se diversidade dá o tom a uma cidade cosmopolita como Nova York, existem também elementos constantes nela. A solidão na multidão, o encontro casual entre duas pessoas que poderão nunca mais se ver, por exemplo, são alguns destes elementos. E isso é explorado pelo diretor Yvan Attal em dois segmentos. O primeiro, sem dúvida o melhor do filme, mostra Ethan Hawke acendendo o cigarro de Maggie Q na rua (afinal, dentro dos estabelecimentos fechados, fumar não pode!). E, a partir daí, temos Hawke cantando ela, usando desde argumentos como aproveitar o encontro que poderá nunca mais se repetir (lembrando muito Antes do Amanhecer), até argumentos sensuais, como o conhecimento dele sobre a anatomia feminina. Mas o toque genial é a virada final. O outro segmento de Attal também envolve rua e cigarros. Mas, desta vez, o final é mais previsível, mas não deixa de ser bacana.
Mas o meu curta preferido foi o do compositor com problemas, vivido pelo elfo e pirata do Caribe, Orlando Bloom. Dirigido por Shunji Iwai, este segmento tem alguns defeitos, como as passagens de anime, que servem mais para marcar o diretor do que desenvolver o personagem. Mas o modo como as elipses de tempo são mostradas, usando para tal, apenas os diálogos entre Bloom (que mostra que sabe atuar sem uma espada ou arco na mão) e seu contato, Camille (que é na maior parte, apenas voz, sendo revelada apenas no final), é lindo.
Outra característica de Nova York bastante presente é o táxi. Desde a cena inicial, em que dois personagens (que aparecerão mais adiante, em outras histórias) não se entendem ao entrar no mesmo táxi, mesmo indo para lugares pertos, até os vários interlúdios, o táxi, depois dos pés, é a maneira primária como os personagens de Nova York se locomovem.
Mesmo com esse texto enorme, ainda deixei algumas das histórias de fora, como a dos vigaristas, a do casal de velhinhos, a do casal que nunca viaja e a da video-artista que vai filmando a cidade e suas histórias (e que, com isso, se revela uma espécie de condutora velada do filme). Não que elas sejam menores ou piores, apenas acho que: primeiro, todo esse texto já deve estar cansativo pra quem lê; segundo, eu também cansei de escrever; terceiro, eu espero que você fique com curiosidade e vá ver o filme com seus próprios olhos.
Portanto, apenas as considerações finais. Nova York, Eu te Amo vale muito a pena ser visto. Recomendadíssimo! O time de estrelas que atuam no filme está excelente e o roteiro de cada curta está muito bom. Tem um ou outro acidente de percalço, mas assim como a Big Apple, o filme ainda tem aquele poder de encanto.
Trailer:
Para saber mais: Site oficial (em inglês), e críticas no Cinema em Cena e no Omelete.
Como faz mto tempo que eu não vou ao cinema, fico só anotando essas dicas. O dia que eu resolver assistir provavelmente já vai estar passando na sessão da tarde.
ResponderExcluirPreguiça de viver.
Ótima dica, vou assistir kkk bjs
ResponderExcluiresse com certeza eu vou assistir, gosto de histórias assim...
ResponderExcluir