Talvez tenha sido o calor, mas em certo momento da projeção de
Besouro Verde (ou
The Green Hornet, no original), eu comecei a pensar como seria bom se estivesse com uma cerveja bem gelada na minha mão. Tirando esse momento de inspiração Homer Simpson, até que não seria má ideia ter entrado na sessão já "calibrado", pois assim o filme teria ficado muito mais divertido. Não que
Besouro Verde seja um filme ruim, mas também não é um filme bom. Apenas médio, tendendo um pouco para o medíocre, o que não quer dizer que não dê para soltar umas risadas com ele (ou dele).
Seth Rogen é
Britt Reid, filho do dono do jornal mais respeitado de Los Angeles, o jornalista
Tom Reid (
Tom Wilkinson). Quando este morre e deixa a sua empresa de notícias para Britt, o herdeiro boa vida tem que decidir o rumo da sua vida, se continua a viver apenas com festas, mulheres e bebida, ou fazer algo mais. É quando ele também conhece
Kato, ex-mecânico e barista de seu pai, que além de ser ótimo em montar máquinas é também especialista em artes marciais. Depois de acidentalmente salvarem um casal de um assalto, decidem se tornar heróis. Mas heróis diferentes, fingindo-se de bandidos para conseguir chegar perto e pegar os verdadeiros bandidos. (Bem, se soa estúpido, é porque é meio estúpido mesmo.)
E eles encontram o verdadeiro bandido no chefão do crime de LA,
Chudnofsky (
Christoph Waltz), um gângster com uma certa crise de identidade, cuja maior motivação é meter medo nas pessoas. Mas do lado dos heróis também está
Lenore Case (
Cameron Diaz), secretária de Britt e especialista em jornalismo e criminologia, que como interesse romântico dos dois protagonistas, será motivo de briga entre os dois, mas no final você sabe que tudo volta ao normal.
Besouro Verde é um filme muito caricato. O desenvolvimento de personagens é precário, e quando existe, é pra encaixar um clichê, como quando os dois heróis se desentendem por causa da mocinha de Diaz. Quem melhor se sai nesse clima de caricatura é Christoph Waltz, que parece fazer um Coronel Hans Landa mais suave, mais adequado para o filme, sem se esforçar muito. Seth Rogen se sai bem nas diversas cenas cômicas, mas quando o roteiro exige algo mais (em termos de ação ou de drama), não convence. Cameron Diaz faz mais uma vez o papel de mocinha, num papel que não exige muito. Aliás, em matéria de pontas/participações, o filme é pródigo. Temos desde
James Franco como um dono de boate/clube, até o eterno capitão da Galactica
Edward James Olmos como editor do jornal de Britt, passando por um quase irreconhecível
Edward Furlong (o moleque de Terminator 2), como dono de um laboratório de anfetaminas.
Jay Chou até se mostra convincente como Kato, mas no geral, as cenas de ação que ele protagoniza, não empolgam. Os efeitos especiais nessas cenas mais atrapalham do que ajudam a coreografia das lutas de Chou, fazendo com que as lutas pareçam engessadas demais. Fora a desnecessária e esquisita cena em que os carros se multiplicam pra dar um efeito de "esticamento" de tempo/espaço.
E não são apenas nas cenas de lutas que a ação é meio capenga. A sequência em que a dupla de heróis se encontra pela primeira vez com o vilão é terrível. Ela até começa bem, mas quando os heróis começam a fugir, mais parece um filme estilo Trapalhões. O corte entre as cenas é mal feito, dando a impressão de que não se trata de uma sequência de eventos, mas várias cenas jogadas com os dois heróis em fuga.
Assisti a versão 3D de
Besouro Verde, e posso dizer com toda convicção que o 3D não faz a mínima diferença. Não que ele seja inexistente como em
O Último Mestre do Ar, mas o 3D é tão pouco usado como recurso narrativo que não faz muita diferença, sendo evidente apenas em momentos já clichês do 3D, como cinzas caindo ou alguma outra explosão. Aliás, em determinadas cenas, o 3D até causa certa confusão, como em algumas cenas que se passam no escritório de Britt. Nessas cenas, o sofá sobressai do resto do cenário, sem nenhuma razão aparente, desviando a atenção do que realmente importante se passa na cena, que são apenas os diálogos entre os personagens ali presentes.
O diretor
Michel Gondry, que dirigiu um de meus filmes favoritos,
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, não conseguiu repetir aqui o mesmo êxito.
Besouro Verde até consegue arrancar algumas boas risadas, mas não é nada memorável. Aliás, se escrevo esse texto no mesmo dia em que vi o filme, é porque daqui a alguns dias as memórias dele já devem ter desaparecido. Exatamente o oposto de Brilho Eterno, e muito mais parecido com os efeitos de alguma(s) cervejinha(s).
Trailer:
Para saber mais: crítica no
Omelete.
P.S. Sim, escrevi esse texto depois de beber uma cerveja.