Um filme de suspense/terror sobrenatural à moda antiga. É esse o sentimento ao assistir
A Mulher de Preto (ou
The Woman in Black no original), um filme que resgata o clima dos bons filmes de fantasma com uma boa dose de suspense. Não é imperdível, mas com certeza, para os fãs do gênero, é uma boa pedida.
A Mulher de Preto traz o eterno "Harry Potter"
Daniel Radcliffe como
Arthur Kripp, um jovem advogado que há quatro anos perdeu a esposa no parto do seu primeiro filho. Abalado emocionalmente (fato que no filme é mais ressaltado pela exposição do desenho que o filho faz do pai, sempre triste, do que pela atuação de Radcliffe), Arthur tem uma última chance no emprego. Ele deve viajar para o interior da Inglaterra para fazer um levantamento dos papéis de uma recém-falecida viúva que era dona de uma mansão e cliente da firma de advogados em que ele trabalha. Chegando no vilarejo onde se encontra a propriedade, que será vendida quando os papéis estiverem todos OK, misteriosamente ele se vê com uma certa falta de hospitalidade dos habitantes locais. Entretanto, no caminho ele conhece um habitante da vila com propensões modernas,
Sam Daily (
Ciarán Hinds, que coincidentemente está em cartaz em outro filme "sobrenatural",
o segundo Motoqueiro Fantasma), que lhe ajuda e se torna seu amigo.
Kripp, sem ter muita escolha (ou perderá o emprego), vai até a velha mansão, que fica numa espécie de península, cerca por um terreno pantanoso e que cuja única estrada tem hora pra sumir e aparecer, devido às marés. Na mansão ele avista uma mulher de preto, e é quando tem início a sua "maldição", por assim dizer. O resto da história, que é desvendada aos poucos, como qualquer bom filme de suspense, você fica sabendo ao assistir o filme.
A Mulher de Preto tem como pontos fortes uma ótima direção de arte (todo o clima soturno da mansão é impecável e funcional com a proposta do filme, desde os candelabros nas paredes com restos de velas, até o mobiliário da mansão) e uma ótima fotografia (que, mesmo num ambiente supostamente iluminado apenas com velas, consegue manter uma excelente proporção entre luz e sombras). Além disso, o diretor
James Watkins consegue extrair alguns excelentes planos, como quando Kripp entra em um quarto pela primeira vez, apenas com uma vela, e o diretor foca os olhos de brinquedos e bonecas, que são iluminadas pela luz da vela e conforme o personagem anda, o efeito da luz é como se os olhos estivessem seguindo o personagem. Um efeito simples, mas que no clima certo de um filme de terror, é genial.
Infelizmente,
A Mulher de Preto sofre com o seu protagonista. Radcliffe, apesar de esforçado, parece muito deslocado no papel do jovem advogado. Com uma aparência jovial demais, não é raro que saiamos do clima do filme para lembrarmos do personagem Harry Potter. Além disso, Radcliffe não consegue passar o peso que o seu personagem carrega, a tristeza por ter perdido a mulher e não ter superado isso.
Outra característica interessante do filme
A Mulher de Preto é não tratar o espectador como uma criança, mostrando tudo explicadinho. Aliás, se há alguns pontos sem explicação, eles não são essenciais à trama. Longe de ser uma falha, o roteiro de
Jane Goldman adaptando um livro de
Susan Hill ganha pontos justamente por não explicar detalhadamente todos os pontos. Afinal, nada é mais assustador do que aquilo que se desconhece, que não se vê (
Fincher e
Se7en estão aí pra comprovar isso).
Aliás, se você está acostumado a pular da cadeira com sustos gratuitos e esse é o seu estilo, esse
não é o seu filme. Sim, esses momentos existem, mas estão longe de serem as principais atrações. Aqui o que impera é a apreensão de não saber, e o suspense por ver o que será descoberto em seguida (exceto o "plot twist" final, um tanto previsível). Esqueça os efeitos especiais mirabolantes, pois em
A Mulher de Preto, o que vale é a sutileza dos "fantasmas de antigamente", aqueles que assustavam com sombras e objetos se mexendo sem explicação.
Enfim,
A Mulher de Preto é um bom filme de terror e suspense sobrenatural. Entretanto, pra geração que já nasceu com um celular na mão e internet na cabeça, pode parecer ultrapassado. Não é. É de certa forma, nostálgico sim. Infelizmente, talvez o maior chamariz do filme (a presença de Daniel "Harry Potter" Radcliffe) seja o seu maior ponto fraco. Ainda assim, pra quem gosta de histórias de fantasmas, é uma boa pedida.
Trailer:
Para saber mais: crítica no
Omelete.