Em certa parte de Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança (no original Ghost Rider: Spirit of Vengeance), o personagem de Nicolas Cage descreve o Motoqueiro Fantasma como um alucinado, que busca vingança até pelos mínimos erros que todo mundo comete, como fazer um download ilegal de um filme. Essa espetadinha no pessoal que faz download saiu pela culatra neste filme, já que só o fato de assisti-lo já é uma punição. No cinema, pagando bem mais caro (já que, pelo menos por aqui, só tem em sessões 3D), você se sente ainda mais lesado. Nenhuma boa ação passa impune mesmo.
Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança não é uma continuação do filme anterior do Motoqueiro. É um reboot (pois é, reboot de uma franquia de um filme é f$#@). E se Odin estiver dormindo e permitir outro filme do personagem, não duvido que seja um terceiro reboot. O primeiro filme não era bom, mas este segundo consegue ser pior.
O fiapo de história de Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança é aquele clichê: o menino Danny (Fergus Riordan) destinado por uma profecia a ser o receptáculo do diabo, junto de sua mãe/MILF do filme Nadya (Violante Placido), está sendo perseguido pelos capangas do coisa ruim Roarke (Ciarán Hinds). E então entra Johnny Blaze (Cage) na história, como herói relutante para salvar o garoto, mesmo que a princípio, ele só deseje se livrar da sua maldição de se tornar o Motoqueiro Fantasma, coisa que foi prometida pelo misterioso Moreau (Idris Elba) em troca de sua ajuda. E coloque aí no meio bandidos do leste europeu super armados, ordens religiosas ocultas e você tem a mistura do filme.
Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança acerta em algumas coisas. A primeira é levar a ação ao leste europeu, com cenários desoladores e antigas construções, o que dá um clima interessante. A segunda é na construção visual do Motoqueiro, toda estilosa, num bom trabalho de efeitos especiais (mesmo que o nível de detalhes não se mantenha ao longo do filme, como por exemplo, as bolhas do couro da jaqueta meio derretendo, que infelizmente só dá as caras mesmo na primeira aparição do personagem). Além disso, o visual das correntes e da moto são bem bacanas, assim como a ideia de que as máquinas que ele pilota se transformarem (o que rende a melhor cena do filme, ao colocá-lo pilotando uma escavadeira gigante. E a terceira é recontar rapidamente a nova origem do Motoqueiro, sem enrolação.
Agora, a parte ruim de Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança. O roteiro além de fraco é incoerente. Primeiro o Motoqueiro é apresentado como um descontrolado e faminto por almas, mas mesmo quando tem oportunidade de sobra, ele não consome nenhuma alma dos bandidos. Mas depois vemos que o Motoqueiro age, se não totalmente controlado, pelo menos guiado pela vontade de Johnny Blaze. Além disso, se o visual investe em cenários e locações interessantes, o roteiro vai pelo caminho contrário, oferecendo cenas sem sal, como o ritual no final, ou a própria luta final do Motoqueiro com o diabo Roarke, que não faz sentido algum pra mim (Ah, dane-se o spoiler: se o Motoqueiro acaba com Roarke tão facilmente, por que não fez isso antes? E por que, em primeiro lugar, Roarke iria chamar o Motoqueiro ligando-a ao Blaze, no pacto original? E pior ainda, sabendo que na verdade o Motoqueiro era um Anjo - torturado e corrompido, mas que no final, se mostra ainda vivo em essência?)
A ação é até bacana, mas desperdiça totalmente o 3D. A não ser em uma ou outra cena em que os diretores Mark Neveldine e Brian Taylor esfregam um 3D de fogo ou cinzas na sua cara, a maior parte do filme não aproveita o recurso, nem em cenas que se encaixariam bem. As cenas de ação logo no início do filme são um exemplo disso: com a câmera na mão balançando pra caramba, não há 3D que se sustente, além de usarem cortes rápidos demais (o que não funciona com 3D). E pior ainda, usam planos mais fechados, que também não combinam com o 3D.
Some-se a isso a atuação de Nicolas Cage, que está em apenas dois modos. O frenético, quando parece que tomou um choque no rabo e não economiza nas caretas e nos gritos, e o apático, quando está visivelmente de saco cheio daquilo e só está lá porque precisa da grana. Quando tem que atuar ao lado de outros atores, Cage faz com uma cara de má vontade, especialmente quando está ao lado do jovem Riordan, em cenas que são importantes na história do filme (afinal, estabelece-se um vínculo entre o velho Blaze e o jovem Danny). Outro ponto que é problemático é no estabelecimento do personagem do Motoqueiro. Graças também a atuação de Cage, o Motoqueiro vira um personagem meio palhaço (e nem é pelo mijo-jato-de-fogo), com uma risada que além de não assustar, parece pouco compatível com o personagem. Basta ver uma das melhores cenas do filme, e já citada acima, a da escavadeira infernal. O Motoqueiro ali não está se divertindo comandando a máquina gigante, está dando aquela risada falsa de novela mexicana da tarde. E o pior é que isso se repete, como quando Cage sai correndo com a moto, e luta para se transformar.
Eu particularmente nunca fui fã das histórias do Motoqueiro Fantasma nos quadrinhos (só li alguns arcos do segundo Motoqueiro Fantasma, que se chamava Danny Ketch - uma referência do Danny neste filme, talvez?) e até achei o primeiro filme não tão ruim quanto a maioria diz. Mas este novo Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança, é uma punição, quase um olhar de penitência projetado. Uma pena, o personagem merecia coisa melhor.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
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