O busão infernal
(Esse ainda tá bom)
Ontem pra voltar pra casa do curso de japonês, como de costume peguei o ônibus da linha X do horário Y. Geralmente, o ônibus desse horário não é dos melhores, sendo um dos veículos velhos da frota. Explico: basicamente, a Transol (uma das empresas de transporte coletivo de Floripa) tem dois tipos de veículos: uns mais novos, com bancos estofados (e alguns até com ar condicionado), e outros mais velhões, com bancos de plástico injetado ou coisa parecida.
Eu não me importo muito de pegar um desses ônibus mais velhos, e tirando o aspecto (de veículo caindo aos pedaços) e o fato de terem menos bancos pra sentar, não é ruim ter que andar num desses.
Mas ontem foi diferente... (Bem, se fosse igual, não estaria escrevendo nada aqui =P)
No ponto, com o ônibus vindo, vi que não tinha muita gente. Uma felicidade efêmera... Fiz o sinal, o ônibus parou e abriu a porta, mais parecido com os portões do inferno. Sério, não é brincadeira. A temperatura estava mais alta dentro do ônibus, com o ar abafado, e ao abrir a porta, aquela diferença entre o ar da rua e o ar dentro se tornou quase palpável. Como já disse, nesse horário o ônibus é velho, e ar condicionado passa longe...
Mesmo assim, subi no ônibus. Nem o motorista ou o cobrador eram os de geralmente. O motorista mais parecia um ogro corcunda, olhos atentos (ou não, não deu pra ver bem) a sua frente, e com o pé pesado, muito pesado, doido pra baixar no acelerador. O cobrador também parecia um ogro ou um oni, baixinho e carrancudo, e com a calça do uniforme puxada pra cima, fazendo um "bermudão", mostrava a perna peluda... Argh, se isso não for muito parecido com o inferno, não sei como deve ser...
Enfim, passei pela catraca e vi que tinha me enganado, que apesar do ônibus não estar lotado de gente, tb não estava com assentos sobrando. Em parte porque aquele veículo era na verdade, da linha do "ônibus do surf". Explico: aqui em Floripa tem uma linha que sai do terminal do centro e vai direto pra umas praias, estas muito frequentadas pelos surfistas. A companhia de ônibus pegou um (ou sei lá qtos) veículo(s), e tirou os bancos traseiros, colocando um treco pra apoiar/encaixar as pranchas dos "brou".
Pois bem, a linha que eu pego passa muuuuito longe das praias, mas mesmo assim, era um desses ônibus adaptados.
Olhei pros bancos livres, e só tinha um que eu não precisaria sentar ao lado de ninguém. Dei uma olhada nos outros, e vi que se tivesse que sentar ao lado de alguém, eu acabaria vomitando. Por uma macabra coincidência, não tinha uma alma normal naquele ônibus. Daria pra categorizar o pessoal ali em dois grupos: a dos condenados, sujos, cabisbaixos, maltrapilhos, com o olhar perdido; e o grupo dos pequenos demônios escoltando o outro grupo, gente mal encarada, igualmente com aspecto infernal. (nem pra ter uma diabinha gostosa ali, hehehe... u_u)
Sentei no banco, meio aliviado, quando percebi que não era "por hoje é só pessoal", e que aquilo iria virar um post.
Pra começar, o carinha da frente mascava um chiclete ou bala, sei lá, e era um negócio com o cheiro tão forte, que até eu, que estava no banco de trás, sentia. Imaginem o cheiro de um chiclete, misturado com o mormaço do abafado que estava dentro do ônibus, tudo isso misturado com cheiro do suór dos trabalhadores retornando para casa... Graças ao meu árduo treinamento ninja, não sucumbi àquele veneno das profundezas abissais que pairava no ar, mas foi por pouco.
E não bastasse isso, dos passageiros do banco atrás de mim, vinha outro golpe maligno, tentando confundir outro sentido. Um papo muuuuito cabeça rolava entre um carinha e uma garota. Nem vou descrever os dois em detalhes, mas eles me lembravam duas almôndegas peludas e suadas... Misturando assuntos tão diversos quanto a última do Casseta e Planeta e do Pânico, com fofocas sobre pessoas que eu nem quero conhecer, tudo com uma pitada de tecnologia, pois depois ela ia ver alguma coisa no 'iutubi' e no 'yakult', os dois mais pareciam estar numa mesa de bar, pelo tom alto de voz. Acho que queriam que o ônibus inteiro escutasse... E conseguiram...
E enquanto os altos papos rolavam, e o ar se impregnava de veneno, o motorista ia correndo como se o próprio capeta estivesse atrás dele, ou como se estivesse com dor de barriga e quisesse terminar logo a corrida pra ir pro banheiro. Já peguei uns ônibus com uns motoristas apressados e meio doidos, mas esse foi 'o cara'.
Imaginem o cara correndo feito doido, com aquele ônibus velho trepidando (e parecendo que uma hora ia desmontar)... Pra falar que eu não tô exagerando, esse cara não parou certo em NENHUM ponto, sempre parava um ou dois metros a frente. E não é porque ele tinha esse vício não, é porque ele freava em cima. Tanto que um dos pontos ele passou reto, e o pessoal que ia descer gritou, fazendo com que ele parasse no meio do caminho entre dois pontos.
(O motorista iria adorar esse jogo)
O ônibus que eu pego, vai pela Costeira, que como o nome indica, fica numa encosta. De um lado, o morro. De outro, um barranco que dá lá embaixo no mar. É uma via de mão dupla, relativamente estreita e com algumas curvas. Sinceramente não sei como não morre mais gente por ali, porque os motoristas de ônibus geralmente exageram por ali. E esse, em especial, estava inspirado. Sério, achei que aquele ônibus fosse da linha Centro-Beleléu, porque eu achava que a gente ia pro beleléu mesmo, última estação antes do inferno ou do céu, sei lá.
(Olha aqui um mapa da Costeira)
Teve uma hora que o ônibus parou, e eu só ouvia uma sirene de ambulância, cada vez mais chegando perto. Aí pensei: 'ah, fodeu, morri e não tô sabendo ainda'. Mas não, como não estou postando do céu nem do inferno, não pereci ainda. Era só o ônibus encostando um pouco, pra ambulância passar (ruas estreitas, eu já disse...)
E apesar de tudo, consegui chegar em casa. Desci do ônibus meio zonzo, é verdade, mas vivo.
Fim.
Este relato contém algumas doses de exagero, mas são poucas. n_n
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