Hoje estava ouvindo o podcast do Max na CBN, e reconheci a história que ele contava. Lembrei da época em que ele escrevia pra Você SA, e dando uma googlada, encontrei o texto no site da revista.
Como a história é praticamente a mesma que ele conta no podcast, em vez da transcrição, vou colocar o texto da coluna aqui:
O que é... humildade
É descalçar os preconceitos e não ignorar os avisos de quem tem os pés no chão
Por Max Gehringer
Em 1990, eu viajava pelo mundo implantando sistemas de controle de produção. Um dia, eu e um colega de trabalho, um americano chamado Denis, fomos parar em Bangcoc, na Tailândia, onde nossa empresa havia acabado de adquirir uma fábrica de alimentos. Eficientes como éramos, resolvemos tomar um tuk-tuk -- folclórico táxi tailandês de três rodas -- e ir direto do aeroporto para a fábrica, para um inventário prévio das necessidades. Nenhum de nós dois tinha estado na Tailândia antes e até esperávamos deparar com situações pouco usuais, mas o que vimos superou nossas piores expectativas. Ao entrar na área de fabricação, notamos de imediato que os trabalhadores estavam de bermudas. E, o que era mais chocante, descalços!
Horrorizados com tamanha desconsideração dos ex-gestores, concordamos que a vistoria poderia ficar para depois. Primeiro, era nosso dever resolver o problema daquela gente humilde, trabalhando ali, certamente desmotivada, com os pés no chão. E os funcionários devem ter percebido nossa intenção, porque começaram a olhar insistentemente para nossos sapatos, como se fossem alguma maravilha tecnológica. Finalmente, naquela ânsia de tentar ser entendidos -- ninguém ali na produção falava nossas línguas, e, óbvio, nós não falávamos tailandês --, resolvemos estabelecer um diálogo por meio de gestos. Apontamos para nossos sapatos e para os pés nus dos funcionários, e fomos correspondidos: eles acenaram positivamente com a cabeça enquanto diziam algo em seu idioma -- provavelmente "Nós, os humildes, ficamos gratos por tanta consideração!"
Então, tudo resolvido: no dia seguinte, compraríamos dois pares de sapatos para cada funcionário. Com isso, tínhamos certeza, conquistaríamos a confiança daquela gente. Imaginamos fazer da entrega uma grande festa motivacional e, enquanto discutíamos os detalhes, aconteceu algo que vem ocorrendo em Bangcoc já faz alguns milênios: a maré subiu e uma lâmina de água de 15 centímetros cobriu o chão da fábrica. Tão rapidamente que nem tivemos tempo de correr. Nossos sapatos ficaram arruinados, e os tailandeses, descalços, continuaram a trabalhar. Uma parte de Bangcoc -- eu e o Denis não tivemos humildade para pesquisar -- é entrecortada por canais, cujo nível oscila com as marés. O que os trabalhadores estavam tentando nos dizer era: "Tirem os sapatos depressa, antes que a água suba!" Os deles, aliás, estavam bem protegidos, nos vestiários da fábrica.
A humildade é uma dessas virtudes que as pessoas, na medida em que avançam na carreira, acabam abandonando pelo caminho. E essa foi a nossa lição daquele dia: não se deve ignorar os avisos de quem tem os pés descalços (ou de quem não veste grife, ou de quem não tem um cartão de visita cintilante). No latim, o radical hum significa "da terra". Dele, viria a palavra "humano", já que, como ensina a Bíblia, Adão foi criado do barro. Do hum derivariam ainda "humilhar" -- que, numa luta, era "atirar o oponente ao solo" -- e também a "humildade", que é uma simples atitude: a de manter sempre os pés no chão. Depois de descalçar os preconceitos.
2 comentários:
Cara, muito bom esse texto do Max. Ainda não conhecia este especificamente, mas a coluna dele é sempre muito boa. Eu assinava a Você SA também quando ele escrevia.
Só não gosto dele falando no Fantástico, parece meio humorístico demais, mas tá valendo.
[]s
de onde vem esse max?? ele é brasileiro?? o_o
pensou se aki no brasil fosse assim??
começasse a chover ate a canela durante o trabalho... hahha..
ai os fios entrariam em curto e tudo mais.. e todos levariam um choque...
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