Ontem fui ver, numa sessão "cult", o filme brasileiro A Erva do Rato. E a palavra que define o filme parece ser mesmo cult: seu ritmo lento e intimista, a predileção dos diálogos dos personagens às imagens (como numa peça de teatro), a história misturando fantástico com o drama, em tudo o filme traz consigo os estereótipos do cult.
No geral, eu achei o filme fraco. Pra mim, o culpado foi a escolha do diretor Júlio Bressane, pelo ritmo demasiado lento, especialmente ao mostrar as facetas dos personagens. Em contraponto o desenvolvimento de cada personagem em cada estágio deles pela história, passa com poucos degraus intermediários. Isso provavelmente foi uma escolha consciente, mas que não me agradou.
Ok, admito que as cenas da Alessandra Negrini se abrindo toda, me agradaram. Mas por motivos puramente estéticos (a.k.a. eróticos). Ou melhor, pelo contexto de submissão que havia nas cenas, quando o lado recatado vai dando lugar ao submisso, porque a nudez em si da artista já é conhecida, graças à Playboy. Incrível como mesmo mostrando menos no filme do que na revista, as cenas do filme são mais excitantes (pelo menos pra mim).
A história, que tem apenas dois personagens sem nome (à la Saramago), mostra "Ele", vivido pelo onipresente no cinema brasileiro Selton Mello, encontrando com "Ela", a já mencionada Alessandra Negrini, num cemitério. Eles dois são os únicos por ali, Ela visitando o túmulo do pai recém-falecido. Ela cai, Ele acude, os dois conversam, e como Ela é sozinha no mundo, Ele promete que vai cuidar dela.
A partir daí, os dois desenvolvem uma estranha relação. Vivendo como marido e mulher, mas sem sexo, a relação entre os dois envolve mais poder, submissão e controle, que inicia como um aspecto de trabalho, com Ele ditando intermináveis assuntos, e que evolui para um aspecto mais erótico, quando Ele começa a tirar fotos eróticas dela. E então entra o rato na história, a princípio apenas roendo as fotos tiradas, mas depois, mais safadinho, partindo para a "carne principal".
Segundo o diretor, A Erva do Rato foi livremente inspirada em dois contos de Machado de Assis, A Causa Secreta e Um Esqueleto. Tendo lido os dois contos depois de ver o filme, admito que algumas cenas do filme são realmente "chupadas" dos contos, mas o enredo do filme em si, praticamente não tem relação com os dois contos.
Concluindo, A Erva do Rato tem uma história com potencial para se tornar um filme realmente muito bom. Do jeito que foi feito, vai agradar apenas a uma pequena porção, na qual eu não me incluo. Mas também não detesto. O filme ficou assim, sem sal. Uma pena.
Para saber mais: A Erva do Rato na Revista Moviola
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