Se você ainda não conhece a história, Dexter Morgan é um psicopata e assassino em série. Como a maioria dos serial killers, Dexter também tem um tipo de perfil de vítima. Entretanto, o perfil que ele aborda é bem inusitado: outros serial killers. Pois é, Dexter segue um código de conduta bem rígido, que faz com que mate apenas aqueles que mereçam (segundo seu código), apenas outros "monstros".
Evidentemente a série não é apenas isso, temos um excelente desenvolvimento do personagem ao longo das (atuais) quatro temporadas, bem como grandes personagens coadjuvantes, que acabam tendo vários arcos interessantes.
Bem, como eu primeiro vi a série, é impossível não tecer comparações e, de certa forma, ter a série como base, apesar dela ter sido baseada no livro.
Pra começar, ao longo de suas 270 páginas, o livro tem como foco o personagem principal, Dexter. Os outros personagens, apesar de aparecerem todos (os da primeira temporada, que corresponde ao primeiro livro), são apenas quase citados. De fato, tirando a irmã de Dexter, Deborah, e talvez um pouco da tenente LaGuerta, os outros personagens quase não aparecem. Os companheiros de delegacia Angel Batista e Vince Masuka, por exemplo, merecem poucas falas no livro. Outra que teve participação pífia no livro é a namorada de Dexter, Rita. Apesar disso, no que foi mostrado, todos esses personagens secundários mantiveram suas características básicas.
A única exceção foi mesmo a tenente LaGuerta, que teve algumas características mantidas, mas a essência da sua personagem foi bastante alterada na série. O que, depois de ler o livro, eu creio que foi uma decisão acertada.
Dexter também está um pouco diferente no livro, do que conhecemos na série. Sua essência continua a mesma, mas no livro ele está muito mais ácido. Todos aqueles pensamentos que "escutamos" na telinha, se tornam muito mais irônicos e sarcásticos no livro. O que é um ponto a favor do livro, pois isso confere um humor maior ao personagem, sem descaracterizar o seu lado sombrio, até o contrário, ressaltando-o.
É claro que, tendo 12 episódios, a série iria mostrar mais coisas do que o livro. Entretanto, a base da história segue a mesma, o que infelizmente acaba sendo um ponto contra para quem vai ler o livro, depois de ter virado fã da série. Pela leitura, vemos que o autor Jeff Lindsay constrói um arco de suspense muito interessante, que vai aumentando e que não temos como saber o que nos espera, frequentemente apontando para uma outra direção, até que no final, a verdade é revelada. Infelizmente, já tendo assistido a série, essas surpresas acabam não existindo, ou sendo muito diluídas.
Mesmo assim, vale a pena ler o livro. Se a história em si acaba não tendo um grande impacto (devido já termos visto na série), o prazer de descobrir as diferenças e constatar um lado mais sarcástico e irônico de Dexter, tornam a leitura do livro muito interessante.
Abaixo, alguns trechos do livro (grifos meus):
O primeiro bote mostrado no livro. E já, algumas frases características que tanto gostamos na série:
Portanto, tomava sempre muito cuidado. Sempre limpo. Sempre prevenido para que a coisa fosse direita. E, quando estava direita, dar um tempo extra para garantir. Era o estilo Harry, que Deus o abençoe, aquele sagaz policial perfeito, meu pai adotivo. Esteja sempre seguro, tenha cuidado, seja correto, ele disse, e há uma semana eu tinha certeza de que tudo estava tão direito à la Harry quanto possível. E, ao sair do trabalho naquela noite, eu sabia que era o dia. Aquela era a Noite. Era uma noite diferente. Nela ia acontecer, tinha de acontecer. Exatamente como tinha acontecido antes. Exatamente como ia acontecer de novo e de novo.
E dessa vez seria o padre.
Ele se chamava padre Donovan. Ensinava música para as crianças do Orfanato Santo Antônio, em Homestead, na Flórida. Os alunos adoravam-no. E, naturalmente, ele adorava os alunos. Dedicou a vida a eles. Aprendeu espanhol e crioulo. Aprendeu a música deles também. Tudo pelas crianças. Tudo o que fazia, era por elas.
Tudo.
E depois da matança:
Lá pelas seis e meia eu estava em casa, no meu apartamento de Coconut Grove. Pequei a lâmina de vidro no bolso, um vidro simples e limpo, com uma só gota de sasngue do padre no meio. Linda e limpa, já seca, pronta para colocar sob o meu microscópio quando eu quisesse lembrar. Deixei a lâmina junto às outras, trinta e seis simples e cuidadosas gotas de sangue bem seco.
Tomei um banho mais que demorado, deixando a água escaldante tirar o resto de tensão, desfazer os nós dos meus músculos e lavar o pouco que sobrva do cheiro pegajoso do padre e da horta da casinha no pântano.
Crianças. Eu devia tê-lo matado duas vezes.
Sejá lá o que me fez ser do jeito que sou, deixou um buraco vazio por dentro incapaz de sentir. Não parece grande coisa. Tenho certeza de que a maioria das pessoas finge bastante no convívio diário com os outros. Eu apenas finjo completamente. Finjo muito bem e jamais sinto nada. Mas gosto de crianças. Jamais poderia ter filhos, pois não posso nem pensar em sexo. Imagine fazer aquelas coisas... como pode? Onde fica a sua dignidade? Mas as crianças são especiais. O padre Donovan merecia morrer. O Código de Harry estava cumprido, junto com o do Passageiro das Trevas.
Sobre a tenente LaGuerta, que no livro é bastante diferente, e tem um caminho bastante diverso também. E claro, sobre as vantagens de ser sociopata:
LaGuerta é uma puxa-saco de padrão internacional. Puxou de todo mundo até o alto escalão de investigadores de Homicídios. Infelizmente, trata-se de um ofício em que sua capacidade de deduzir nunca foi exigida e ela era uma péssima detetive
Isso acontece, a incompetência costuma ser mais recompensada do que se imagina. De todo jeito, sou obrigado a trabalhar com ela. Então, tenho usado meu considerável charme para fazer com que ela fique parecida comigo. É mais fácil do que soa. Qualquer pessoa pode ser atraente, se não se incomoda em fingir e dizer todas as coisas idiotas, óbvias e nauseantes que a coincidência impede que a maioria diga. Felizmente, eu não tenho consciência. Por isso, digo tudo.
Dexter e as mulheres. Coisas interessantes e idiotas:
Fiquei alguns momentos pensando só nas cruéis ironias da sorte. Vivi tantos anos de solitária independência e de repente estava sendo atacado de todos os lados por mulheres ansiosas. Dava a impressão de que Deb, Rita e LaGuerta não conseguiam viver sem mim. Mas a única pessoa com quem eu queria passar um tempo estava quieta, deixando bonecas Barbie na minha geladeira. Isso era justo?
Enfiei a mão no bolso e senti a pequena lâmina de vidro bem guardada no saco plástico. Por um instante, aquilo me deixou melhor. Pelo menos, eu estava fazendo alguma coisa. E a única obrigação da vida, afinal, era ser interessante e sem dúvida minha vida estava sendo, no momento. A palavra “interessante” não descrevia bem a situação. Eu daria um ano de vida para descobrir mais sobre aquele furtivo enganador cujo trabalho tão elegante estava me intrigando cruelmente. Na verdade, quase dei mais de um ano com meu intervalo com o pequeno Jaworski.
É, as coisas estavam sem dúvida interessantes. E será que as pessoas diziam mesmo no departamento que eu tinha um palpite para crimes em série? Isso era bem problemático. Significava que meu cuidadoso disfarce podia estar prestes a ser descoberto. Eu tinha acertado muito, várias vezes. Poderia virar um problema. Mas o que fazer? Passar um tempo sendo idiota? Não sabia de que jeito, mesmo depois de tantos anos observando atentamente.
Dexter sobre repórteres. Gosto dessa passagem porque ilustra a acidez acentuada, nos sarcasmos e ironias, de Dexter no livro:
Quando cheguei lá, tinha uma multidão de pessoas em volta da barreira, a maioria jornalistas. É sempre difícil passar por um monte de repórteres farejando sangue. Você pode não pensar assim, já que na tela da tevê eles parecem sujeitos certinhos, de inteligência restrita e graves distúrbios alimentares. Mas ponha-os dentro de um curral da polícia e ocorre um milagre. Eles ficam fortes, agressivos, enérgicos e capazes de empurrar qualquer um ou qualquer coisa e passar por cima. É meio parecido com as histórias de mães idosas que conseguem levantar um caminhão quando o filho está preso embaixo. A força surge de algum lugar misterioso e, de certa forma, quando há sangue no chão, essas criaturas anoréxicas conseguem empurrar o que for. E sem dessarumar os cabelos.
Dexter, o salvador:
Ele estava com ela.
Pegou-a só para me proteger, disso sabia eu. Ele estava se aproximando cada vez mais de mim, entrando no meu apartamento, mandando pequenos recados através de suas vítimas, me provocando com pistas e sinais do que estava fazendo. E agora estava o mais perto que podia chegar de mim, sem estar no mesmo lugar que eu. Tinha pego Deb e estava esperando com ela. Esperando por mim.
Mas onde? E por quanto tempo ia esperar até se impacientar e começar a brincar sem mim?
Sem Dexter, eu sabia bem quem seria a parceira de jogo: Deborah. Ela tinha vindo para a minha casa com a roupa de prostituta, vestida de presente para ele. Ele deve ter achado que o Natal chegou. Ele estava com ela e naquela noite minha irmã seria sua amiga especial. Eu não queria pensar nela presa com fita adesiva, bem esticada numa mesa e vendo pedaços horrendos de seu corpo sumirem lentamente para sempre. Mas era assim que seria. Em outras circunstâncias, poderia ser uma ótima diversão noturna, mas não com Deborah. Eu tinha certeza de que não queria aquilo, não queria que ele fizesse nada definitivo e maravilhoso nessa noite, não. Mais tarde e com outras pessoas, podia ser. Quando nos conhecêssemos um pouco melhor. Mas não agora. Não com Deborah.
Pensando assim, claro que tudo melhorava. Era ótimo ter tudo acertado. Eu preferia minha irmã viva, em vez de em pequenos pedaços enxangues. Lindo, um sentimento quase humano da minha parte. Agora isso estava acertado; o que fazer a seguir? Eu podia ligar para Rita, talvez ver um filme ou andar no parque. Ou, vejamos... talvez, não sei... salvar Deborah? É, isso soava interessante. Mas...
Como fazer?
4 comentários:
eu assisti alguns episodios só, pq cortaram o sinal da FX .. XD
medooo de dexter.
Não gostei muito do texto em português... sei lá se é porque estou acostumado com a série em inglês. Os textos em inglês devem ser épicos.
Amo Dexter, pra mim é o melhor seriado de todos. Acho incrível como podemos gostar de um serial killer, isso merece muitas reflexões. Como por exemplo: o fim justifica os meios??? E por aí vai!
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