2011-02-16

Filme: O Ritual

Existem filmes que são bons e me instigam a escrever algo sobre eles (veja os casos recentes de Cisne Negro e Como Esquecer, por exemplo). Existem os filmes ruins que também me forçam a escrever sobre eles, até como uma maneira de desabafar a má experiência (como A Suprema Felicidade). E existem filmes como O Ritual (ou The Rite, no original), que são filmes medianos ou fracos, e que me fazem pensar dez vezes se eu deveria escrever ou não algo sobre eles.

filme o ritual poster cartaz anthony hopkins

"Baseado" em "fatos reais", O Ritual acompanha o seminarista Michael Kovak (Colin O'Donoghue). Ele entra para o seminário, que seria equivalente a uma faculdade, não porque quer se tornar padre, mas para fugir da sua vidinha insossa numa cidadezinha do interior americano, trabalhando como funerário no negócio da família. Antes de fazer os votos definitivos e se tornar padre de vez, Michael tenta desistir, mas o padre Matthew (Toby Jones) meio que o chantageia a não desistir, pois vê em Michael uma verdadeira vocação. Então, o padre Matthew faz a coisa mais normal do mundo com um jovem em dúvida sobre a sua fé: manda o rapaz a Roma, fazer um cursinho de formação de exorcistas no Vaticano.

filme o ritual anthony hopkins

No curso, ele conhece a jornalista Angeline (Alice Braga), que assim como Michael, se mostra cética no início, mas faz o curso para tentar chegar à verdade. Vendo em Michael um caso especial, o padre responsável em Roma o encaminha a um padre exorcista "old school", de "métodos não ortodoxos" (como ele mesmo diz), o padre Lucas Trevant (Anthony Hopkins). Lucas é como um médico das antigas (de fato, ele tem formação em medicina), com pacientes que o visitam e de vez em quando, ele os visita. Só que no caso dele, os pacientes sofrem de possessões demoníacas e não resfriados. Ou pelo menos pensam que estão possuídos.

Abro um parêntese no enredo para dizer que, apesar de ser óbvio que a maioria das pessoas ditas possuídas deveria assistir mais House do que Supernatural, o filme, assim foram os jesuítas (que foi a ordem do mentor de Lucas, a propósito), é bastante doutrinador. Ou seja, é tudo coisa do capeta! No filme, no filme.... Fecho o parêntese.

filme o ritual anthony hopkins

A partir daí, O Ritual enreda vários clichês. Primeiro o do destino, do escolhido. No caso, Michael, que é destinado a se tornar um padre exorcista, ou dependendo do ponto de vista (de cima ou debaixo), destinado a se tornar presa do demônio. Mas como é Hollywood, a gente tem uma boa ideia do que vai acontecer. Reparem que logo no início do filme é colocada uma frase (ou citação, não me lembro) de que o arcanjo Miguel ainda hoje estaria brigando com Lúcifer. Miguel, Michael... Você entendeu, né?

O segundo clichê explorado é o do cético que é cético até quando algo se esfrega no seu nariz. A recusa de Michael em ver que algo ali não é natural (ou seja, é sobrenatural), beira a idiotice. Claro, a crença de Michael é algo decisivo no roteiro, e por isso, mesmo que seja difícil de engolir, ele começa a acreditar só no clímax. E não poderia faltar o velho clichê dos problemas pessoais e familiares do protagonista, senão, o que o demônio iria explorar, não é? Problemas estes presentes na relação com o pai, interpretado por Rutger Hauer.

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Se o roteiro tem clichês estruturais, eles não se estendem aos momentos de exorcismo. De fato, é uma grata surpresa os exorcismos tentarem passar um ar de realismo, ou como o personagem de Hopkins brinca num momento, "sem sopa de ervilha e cabeças girando", uma clara alusão ao clássico O Exorcista. Nos filmes de exorcismo, sempre achei mais interessante os diálogos, especialmente os proferidos pelo(s) demônio(s), do que os efeitos especiais ou bonecos maquiados. Neste quesito, O Ritual se destaca, pois os diálogos com o demônio são muito bons, (SPOILER ATÉ O FINAL DO PARÁGRAFO SE VOCÊ NÃO VIU O TRAILER!) especialmente quando o possuído é o Lucas de Hopkins. E já que toquei neste ponto, a atuação de Hopkins é a grande atração do filme. Do lado dele, O'Donoghue e Braga são eclipsados, entregando performances consistentes, mas sem destaque.

Como filme, O Ritual está longe de provocar grandes sustos. A opção por se aproximar da realidade deixa o filme visualmente sem aqueles atrativos típicos esperados por fãs do gênero, e a história fraca acaba não ajudando também. Uma pena, pois até que gostei de um trabalho anterior do diretor Mikael Håfström, o agoniante 1408 (com John Cusack). Bem, não dava mesmo pra esperar muito de um filme cujo demônio é uma mula. Literalmente falando. O demônio entrega de bandeja a própria destruição no clímax. (SPOILER ATÉ O FINAL DO PARÁGRAFO!) Com um Michael já fraco, o demônio o faz repetir que acredita nele, que o demônio existe, o que leva a conclusão lógica - e vemos o filme inteiro que Michael se pauta sempre na lógica - que Deus existe. Owned! E pra terminar, ficamos sabendo quem é o demônio em questão, supostamente um dos mais poderosos (apesar de levar uma surra de qualquer jogador médio de Diablo 2, pelo menos no modo normal).

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Relendo o texto até aqui, acho que ele não ficou lá muito bom. Mas tudo bem, afinal, O Ritual também não é lá essas coisas. Segundo a Vanity Fair, a única coisa boa do filme é conseguir unir as opiniões de ateus e católicos num consenso: a de que o filme é ruim. Eu não iria tão longe, mas também não recomendo.

Trailer:



Para saber mais: crítica no Omelete.

5 comentários:

Ju ♥ disse...

tenho medo...

O Divã Dellas disse...

É engraçado sua maneira de lidar com algo que não te agrada. Vc "perdeu" um tempão desenvolvendo opiniões, sobre algo q vc "não gostou" eu não não gosto de algo, não me prendo refletindo sobre...

Parabéns, descobri que você costuma ser atencioso até com quem não te agrada. (O que me causa um certo medo) hahahaha

Verônica

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Eu vi esse filme em cartz e fiquei imaginando o que ele tinha de diferente dos demais kkkk Ainda bem que li antes teu post. bjs

Unknown disse...

Pelo texto escrito vejo que o autor é medíocre, pois não entende sobre o assunto e não o conhece, fato notável em seus comentários pífios e sem embasamento. Recomendo que quando pensar novamente em criticar algo saiba fazê-lo com conhecimento prévio para não passar vergonha... Mas compreendo, vindo de um simples "Andarilho"!

Andarilho disse...

Começou o ataque dos coroinhas abusados pelos padres. Tsc, tsc.