2010-05-02

Filme: A Estrada

É muito bom quando a gente vai ao cinema, e acaba sendo surpreendido pelo filme, que a gente achava que não ia ser muita coisa pelo trailer. Esse foi o meu caso com o filme A Estrada (The Road, no original), que assisti semana passada.

filme a estrada poster cartaz
A sinopse, bem curta, do filme (que é baseado em um livro do Cormac McCarthy), pode enganar o espectador, pois deixa de lado os detalhes, e são eles que fazem toda a diferença no filme. Resumidamente: num mundo pós-apocalíptico, pai e filho empreendem uma jornada em direção ao litoral e ao sul, onde esperam sobreviver ao próximo inverno.

Ao contrário do último filme pós-apocalíptico recente, o também ótimo O Livro de Eli, o mundo de A Estrada é predominantemente azul acinzentado, com cores desbotadas. Nada melhor na fotografia para demonstrar um dos principais inimigos neste novo mundo: o frio. Entretanto, uma coisa é comum aos universos dos dois filmes: a falta de comida. E, com essa falta, surge uma ameaça em ambos os mundos: as pessoas sobreviventes, com muitas passando a praticar o canibalismo.

filme a estrada pai e filho empurrando carrinho
Mas, apesar do que possa soar o parágrafo anterior, A Estrada não é um filme de ação, mas um pesado drama, em que os personagens são o mais importante, apesar de no melhor estilo Ensaio Sobre a Cegueira (livro de Saramago), os personagens aqui também não são identificados pelos nomes, mas pelos papéis que desempenham. Viggo Mortensen, por exemplo, é apenas o Homem, ou o Pai. Mortensen, aliás, está excelente no filme. Depois de nos acostumarmos a ver o personagem sempre coberto com várias camadas de roupas, é um tanto chocante vê-lo despido numa cena em que toma banho, pois ali mostra-se toda a miséria de sua condição.

Condição que também é pontuada em outra cena, em que o Filho, olhando-se num espelho depois de muito tempo, se dá conta de quanto está magro e debilitado. E a atuação do jovem Kodi Smit-McPhee como o Menino é espetacular. Parecendo bem mais novo no filme, do que é na vida real (o ator nasceu em 1996), Smit-McPhee divide a tela com Mortensen de igual para igual.

filme a estrada pai e filho
Destaque também para "as pontas" de luxo no filme, como Robert Duvall (que admito, só reconheci depois que subiram os letreiros), Guy Pearce (que faz uma passagem tão rápida quanto em Guerra ao Terror), e especialmente, Charlize Theron, como a Mãe. Que não está na estrada com os dois, mas que aparece em vários flashbacks.

filme a estrada charlize theron
Aliás, os flashbacks são importantíssimos para o filme. Eles servem para contar um pouco da história do Pai e Filho, mostrando um pouco da época pré-apocalipse, como foi o nascimento do Filho, ocorrido pouco tempo depois do apocalipse (mas sem nunca explicar o que foi o apocalipse), e o destino da Mãe. Mas os flashbacks também têm outra serventia, dessa vez, como recurso narrativo/estrutural: eles pontuam intervalos de tempo no presente dos personagens, servindo como uma espécie de elipse temporal, diminuindo o ritmo com que os eventos no presente, são mostrados. Afinal, para cada evento significativo, como o encontro com canibais ou com outros sobreviventes, passa-se um tempo significativo (como era de se esperar num mundo quase deserto). O efeito final não é o ideal, mas acaba sendo uma boa ideia para um filme de mais ou menos duas horas.

filme a estrada pai arma
A Estrada nunca explica exatamente o que aconteceu para o mundo ficar do jeito que é mostrado. E isso não importa mesmo para a história, já que, como já citei, ela é centrada nos personagens do Homem e do Menino. Os temas abordados são geralmente pesados, como o já citado canibalismo, e também com discussões sobre vida, morte, esperança (ou melhor, a falta dela) e suicídio. Entretanto, a presença do Menino, com sua ainda ingenuidade/inocência, ao mesmo tempo que não deixa esses temas ficarem tão sombrios, dá um ar bastante triste à situação dos dois personagens.

filme a estrada chuva
Enfim, A Estrada é um filme ótimo, interessante, mas que não vai ser palatável pra você, se tudo o que estiver querendo for uma diversão leve. A estrada, como toda jornada, como dizem, pode sempre surpreender você. Basta deixar.

Trailer:



Para saber mais: Críticas no Omelete e Cinema em Cena.

2 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

hummmm depois desse post fiquei super tentada a ver! bjs

Anônimo disse...

Quando assisto um filme sempre tento prestar muita atenção nele e tirar algum proveito. No entanto, afirmo que foi um dos piores filmes que ja assisti. Um menino chorão, uma história enigmática, tenso, sonbrio, sem musica. Enfim, um filme pra sugar sua energia.