Assisti ontem o remake do primeiro filme de um dos maiores vilões do cinema de terror, Freddy Krueger, A Hora do Pesadelo (ou no original, A Nightmare on Elm Street). Em uma palavra: ruim.
Eu lembro vagamente dos primeiros A Hora do Pesadelo que assisti, ainda criança em VHS (o primeiro filme foi lançado em 1984), mas me lembro que a sensação dominante era o medo. Bem, não me causou nenhum trauma, mas os primeiros filmes do Freddy davam medo, assisti-los dava uma grande apreensão, especialmente pelo suspense bem elaborado nas cenas em que Freddy "brincava" com suas vítimas. Um dos grandes trunfos do filme era quando descobríamos que o personagem estava na verdade sonhando, em uma transição imperceptível entre o mundo real e o onírico. Essa surpresa, esse não conseguir distinguir entre o real e o sonho, gerava um grande suspense. Aspecto esse, que foi muito mal aproveitado neste novo filme.
Se você ainda não conhece a história: Freddy Krueger (aqui interpretado por Jackie Earle Haley, o Rorschach de Watchmen), morava e trabalhava em um jardim da infância. Acusado de molestar crianças, ele foi perseguido e encurralado em um galpão, onde os pais das crianças o queimaram vivo. Agora, quando as crianças já se tornaram adolescentes, Freddy volta como um ser que vive nos sonhos desses adolescentes, com o rosto queimado, uma camiseta flamenguista (só assim pra explicar aquele preto e vermelho), uma luva com lâminas afiadíssimas nos dedos, e em busca de vingança. E, como uma velha crendice diz, se você morre no sonho, morre na vida real.
Como já mencionei, o grande barato dos filmes da série eram as transições entre o mundo real e o mundo dos sonhos: elas não existiam. Somente quando chegava o momento de algo dar errado, era revelado que o personagem estava sonhando, sempre de maneira criativa, seja pelo absurdo (sonhos sempre são tão doidos, não?) ou por uma transição de planos bem feita, alterando-se drasticamente o cenário. Infelizmente, nesta refilmagem, esse aspecto se perdeu. Na maior parte das vezes, quando o personagem está sonhando, o diretor simplesmente muda a luz do ambiente, quase sempre tornando-a mais azulada. Logo no começo do filme temos um exemplo claro disso, quando um personagem dá uma piscada, a luz se altera. Pronto, já sabemos que ele está sonhando, e perde-se a chance de qualquer suspense ou surpresa mais elaborado. Nos raros casos quando o diretor Samuel Bayer quebra essa regra, consegue uma melhora, mas o filme infelizmente tem outros problemas.
Tentando deixar o filme mais realista (por mais paradoxal que isso possa soar, sendo um filme de terror!), Bayer não investe em maneiras criativas e elaboradas de matar os adolescentes nos sonhos, marca registrada do personagem Freddy Krueger. Ok, está certo que (pelo menos na minha opinião), nos últimos filmes da franquia, esse elemento de fantasia deixava um pouco a desejar, chegando a deixar algumas cenas mais próximas do gênero de terrir (terror que provoca risada, como os Pânico). Mas, na medida certa, essa fantasia do sonhar rende momentos excelentes. Porém, o que acontece neste filme é que Freddy se limita a aparecer de repente por trás dos personagens, depois de um rápido jogo de câmeras, somente pra estraçalhá-los com suas garras. Clichê total de filmes de terror.
E falando em clichês, o filme tem vários deles. Especialmente aquele que eu chamo de "clichê das pessoas burras". O que seria dos assassinos, se não fossem as vítimas fazendo burrice? Em A Hora do Pesadelo, pelo menos em uma ou outra cena, a gente até perdoa, afinal, os personagens estão sem dormir há um bom tempo, temendo os pesadelos. E, gente com sono, é gente idiota.
Mas o grande defeito deste novo A Hora do Pesadelo é a alteração da essência do personagem principal, o próprio Freddy Krueger. De sádico e sarcástico, ele se tornou apenas raivoso. O que o tornou mais sério e mais chato também. A única vez em que Freddy se mostra fazendo jogos é no final, e mesmo assim, mais um jogo psicológico. Aliás, o final também tem a única cena em que o ambiente "moldável" do sonho é bem aproveitado. Infelizmente, tarde demais para o filme. Uma pena a construção deste novo Freddy, pois o ator Jackie Haley parece ter muito potencial (que fica todo escondido por trás da pesada maquiagem).
Pra não dizer que eu não gostei de nada do filme, eu gostei de três coisas. A primeira, de uma pequena (mas pequena mesmo) virada que acontece, com relação aos adolescentes que são supostamente os heróis do filme. A segunda foi da cena que é mostrado o videoblog de outro adolescente atormentado por Freddy. E a terceira coisa foi a escalação da Katie Cassidy como Kris, essa loirinha linda que é um demônio. Quanto a atuação, os atores foram bem, considerando que os papéis não exigiam grande carga dramática. Mesmo assim, vale citar os atores Kyle Gallner e Rooney Mara como os adolescentes Quentin e Nancy, respectivamente.
O novo A Hora do Pesadelo já é um filme meia boca, por si só. Se comparado com o original, então, aí ele é mais queimado que a cara do Freddy. Resumindo: o maior pesadelo que eu tenho, depois de ver o filme, é com o dinheiro do ingresso me dando adeus.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Cinema em Cena e especial no Omelete.
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