'Tenho horário de entrada, mas não de saída' - by Max Gehringer

Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 14/05/2010, sobre horas extras.

Áudio original disponível no site da CBN (link aqui). E se você quiser ler os comentários anteriores do Max Gehringer, publicados aqui, basta clicar neste link.

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'Tenho horário de entrada, mas não de saída'


Uma consulta sobre horas extras. Escreve um ouvinte: "A empresa em que trabalho controla o horário de entrada, mas não o de saída. E ninguém sai no horário. O expediente continua por mais uma ou duas horas, todos os dias. Já virou tradição. Esclareço que esse prolongamento do horário me foi comunicado quando fiz a entrevista de emprego. Meu chefe realmente me disse que não havia o costume de sair na hora, mas que ficar ou não, era decisão de cada um. E ele disse também que quem ficasse não receberia hora extra, porque a permanência depois do horário não era uma imposição da empresa.

Apesar de eu ter concordado na entrevista, eu não esperava que a coisa fosse assim, tão constante. Imaginei que seria apenas quando o trabalho exigisse, e não uma cultura de simplesmente esticar o expediente, mesmo quando não há necessidade. Como tudo isso está influindo em minha vida pessoal, pergunto se existe algo que eu possa fazer a respeito."

Sem dúvida, existe. Você pode sair na hora. Comunique a seu chefe que você assumiu algum tipo de compromisso posterior ao fim do expediente normal, e que não poderá mais acompanhar o horário prolongado dos demais colegas.

Seu chefe certamente lhe dirá que tudo bem, sem problema. O que provavelmente deixará você surpreso com a facilidade com que ele concordou. Mesmo porque, o seu chefe sabe que legalmente, na situação atual, você e seus colegas têm direito a receber horas extras. A legislação trabalhista não prevê, e nem aceita, a hora extra espontânea.

A questão é que apesar da aparente compreensão do seu chefe, a sua situação irá mudar imediatamente. Ao sair todo dia no horário, embora você não esteja fazendo nada ilegal, anormal ou desonesto, você começará a ser encarado como um separatista. Não só por seu chefe, como também por seus colegas.

A decisão é sua. Se você não for se sentir incomodado com o distanciamento das pessoas que trabalham com você, seja normal e saia na hora certa. Caso você se sinta incomodado, lembre-se do que dizia o poeta baiano Gregório de Matos. Há quase 400 anos, ele já alertava que, no lugar em que todos andam tortos, o único que andar direito é o que vai parecer torto.

Max Gehringer, para CBN.