Filme: Meu Malvado Favorito

O humor quase sempre envolve algum tipo de surpresa. Pode reparar, as melhores piadas que você ouviu têm algum tipo de virada, ou "plot twist", que nos traz algo inesperado, e que tornam a piada engraçada. Dito isso, posso dizer que a animação Meu Malvado Favorito (ou Despicable Me, no original), apesar das tentativas, é um tanto sem graça.


Tecnicamente bem feita, Meu Malvado Favorito tem dois grandes problemas, na minha opinião. O primeiro é o seu roteiro (escrito por Cinco Paul e Ken Daurio), fraco, que é muito previsível e recheado de clichês. Entretanto, alguns filmes de comédia conseguem se sobressair mesmo com um roteiro fraco e uma história manjada, graças a piadas e gags pontuais. Este, infelizmente, não é o caso deste filme.


Não que o filme não tenha várias piadas e momentos cômicos, mas infelizmente, a maioria parece "requentada". E uma piada, por melhor que seja, contada a exaustão, perde a graça. Veja, por exemplo, logo no começo, a piada com o carro de Gru, o personagem e "malvado" principal do filme. O seu exagero (tamanho do "carro") e as suas atitudes (empurrando os outros carrinhos pra estacionar) são bastante típicas de vilões em desenhos animados. Então, a não ser que você não tenha perdido algumas manhãs (ou tardes, dependendo do seu horário de escola) assistindo televisão na infância, você com certeza já sabe o final da piada.

O que nos leva à reflexão acerca do público do filme. Com certeza, as crianças mais novas devem adorar o filme, afinal, elas ainda não se deram conta do padrão que as piadas tomam, e por isso, ainda é engraçado para elas. O mesmo vale para os adultos que não tiveram oportunidade de se esbaldarem naqueles desenhos bobos (para nós hoje) da infância.


Meu Malvado Favorito conta a história de Gru, um vilão. Sim, a profissão dele é ser vilão. Ele leva uma vida tranquila cheia de maldades, sendo o maioral, até que Vetor, um novo vilão na área, comete o roubo do século: ele rouba uma das pirâmides do Egito (e onde ele a esconde, eu tenho que admitir, é engraçado). Não querendo ficar atrás, Gru planeja algo ainda mais audacioso: roubar a lua. Mas para isso, ele terá que obter o raio encolhedor, que está em posse do seu agora arqui-inimigo Vetor.


O problema é que a fortaleza de Vetor é muito bem guardada, e o único ponto fraco que Gru identifica é o gosto de Vetor por biscoitos. Biscoitos que as três irmãs órfãs, Edith, Margo e Agnes, vendem para "ajudar" o orfanato. Diante disso, Gru bola o ardiloso plano de adotar as três garotinhas para usá-las a entrar na fortaleza de Vetor. Mas claro, no decorrer da história, as três crianças vão acabar é invadindo o coração do vilão.


Meigo e fofo demais, parecendo uma novela mexicana? Pois é assim mesmo. Até mesmo as personalidades das três órfãs são bem estereotipadas: temos a mais nova e meiga (e que fica impossível não lembrar do Gato de Botas de Shrek), a irmã do meio revoltada e brava, e a mais velha, conciliadora. E mesmo que a meiguice da mais nova das irmãs faça a plateia dizer 'óóóuuunnn', o tempo que as três irmãs aparecem na tela parece ser insuficiente pra convencer uma mudança no temperamento de qualquer vilão que se preze. A não ser que o malvado não seja tão malvado assim... (ó, surpresa!)

O passado de Gru, mostrado por meio de flashbacks e que nos revelam as suas motivações, além de não render um arco dramático suficientemente bom (se chegasse a um décimo dos da Pixar, estaria excelente), também mostram pouca graça. São clássicas cenas em que o personagem pede atenção, mas não a recebe, mesmo realizando alguns feitos extraordinários. Bem, mais uma vez, são cenas que podem sim arrancar risos, se você não estiver ciente do quão clichês elas são.


Mesmo que alguém possa argumentar que tantas semelhanças no aspecto cômico do filme sejam talvez homenagens, não foi a impressão que os diretores Chris Renaud e Pierre Coffin me passaram.

Enfim, Meu Malvado Favorito é um filme mesmo voltado ao público infantil. Com certeza as crianças gostarão. Quanto aos adultos, talvez não agrade a todos, como não me agradou. Não é um filme ruim, mas é bem fraco. Surpresa mesmo, é o sucesso que o filme vem tendo. Prova de que os pais estão levando os filhos ao cinema (o que é ótimo) ou que muita gente não assistiu muitos desenhos durante a infância (o que é triste), ou ainda, que muita gente não notou certos padrões e por isso, a piada se mantém fresca (o que é lamentável).

Trailer:



Para saber mais: crítica no Cinema em Cena e no Omelete.