Filme: Namorados Para Sempre

Um casal apaixonado (e desavisado) que vai assistir o filme Namorados Para Sempre pode sair do cinema com várias lições aprendidas. A primeira é que nunca se deve deixar levar apenas pelo título nacional do filme para escolher o que assistir. Sim, porque o nome "Namorados Para Sempre" está muito longe do original Blue Valentine (que seria algo como namoro ou namorado(a) depressivo/triste). O título brasileiro dá a impressão de se tratar de um filme leve, um romance, até mesmo, talvez, uma comédia romântica. Ledo engano, como o título em inglês denota. E a segunda lição que o casal pode aprender é que toda a fantasia e o encanto de um começo de relação pode acabar (o que é mais a regra geral do que a exceção). E acabar algo assim nunca é fácil.

Em Namorados Para Sempre conhecemos Dean (interpretado por Ryan Gosling, mais conhecido pelo seu papel em A Garota Ideal), um sujeito brincalhão que não leva a vida totalmente a sério, se contentando com trabalhos braçais não tão bem remunerados assim. Ele é pai da jovem Frankie (Faith Wladyka), uma garotinha de cinco anos que é a coisa mais fofa do filme. Completa a família Cindy (Michelle Williams), enfermeira que sempre sonhou com uma vida melhor, mas que pelas circunstâncias, não conseguiu.

Esse resumo dos personagens, principalmente do casal principal, Dean e Cindy, não é revelado logo de cara no filme. Vamos conhecendo os personagens aos poucos, intercalando o momento presente, em que o casal vive uma crise, com o passado em que se conheceram e que se apaixonaram. Desse modo, descrever os personagens profundamente é quase como dar um spoiler, uma vez que uma das graças do filme é justamente ir descobrindo aos poucos o casal, assim como perceber qual é a história por trás das reações presentes (como o porquê da reação extremada de Dean e Cindy depois que ela esbarra casualmente numa loja, com um ex-namorado). Nesse aspecto, o filme se mostra muito bom, a alternância entre passado e presente (que vai aumentando de frequência em direção ao final do filme), mostrando que a montagem do filme foi muito bem executada, culminando na excelente montagem das cenas em que é mostrado no passado o beijo do casamento dos dois, e no presente, praticamente o ato contrário. Sem duvida, deve figurar entre as minhas sequências preferidas nos filmes.

Derek Cianfrance, o diretor de Namorados Para Sempre, usa uma estratégia visual bem interessante no filme. Com uma predominância de planos fechados, o tempo presente se apresenta com constantes closes nos personagens principais, enfatizando assim as emoções do casal e também a atuação de Gosling e Williams, que estão brilhantes no filme (e não foi à toa que Michele Williams foi indicada ao Oscar por este papel). Nas cenas do passado, o diretor além de usar uma fotografia um pouco mais granulada, opta por menos closes nos rostos dos personagens e planos predominantemente mais abertos. Interessante notar também que ao nos encaminharmos para o final do filme, os planos no presente se abrem um pouco mais, e os do passado parecem se fechar, como se convergissem (e realmente convergem de certa maneira, na cena citada no parágrafo acima).

Outro aspecto visual em Namorados Para Sempre é a presença do azul (blue, que em inglês quase sempre querer dizer a cor azul, também pode querer dizer tristeza, depressão) em cena. Mais escancarada na cena do motel que o casal vai para tentar ter uma noite de reconciliação, com as luzes do quarto temático futurista predominantemente azuis, mas também presente, por exemplo, nas manchas de tinta na mão de Dean, no plano em que Cindy vai segurar a mão dele, mas Dean a afasta.

Talvez essa profusão do azul nas cenas do presente seja uma estratégia do diretor para reforçar visualmente o caminho que o casal toma, mas que é um tanto desnecessário. A atuação dos atores não só se sobrepõe a qualquer metáfora visual, como é muito mais forte, presente. Enquanto Williams faz a sua Cindy visivelmente mais incomodada no presente e totalmente apaixonada no passado (e também por vezes triste, devido a fatos que não mencionarei aqui), Gosling faz o seu Dean de maneira que, apesar do texto deixar claro que ele ainda acredita no casal, solte pequenas atitudes que denotam o enfraquecimento da relação.

E apesar de Namorados Para Sempre ser um tanto depressivo, fazendo jus ao título original, ele tem seus momentos fofos e românticos. Bem, a fofura da filha do casal já citei, mas todo o processo que levou o casal a ficar junto já daria um filme (desta vez, quase uma comédia romântica). Estão ali, nas cenas no passado, Dean se apaixonando a primeira vista (e num momento quase meta-linguístico, dizendo que talvez ele tenha visto muitos filmes), ou quando o casal se encontra pela segunda vez, em um ônibus, quando o diretor Cianfrance mostra por poucos instantes um plano aberto com o ônibus um arco-íris ao fundo.

Enfim, a chamada de Namorados Para Sempre, "Uma Verdadeira História de Amor", seria um título menos enganador para este filme. Namorados Para Sempre é um ótimo filme e eu adorei. Triste? Sim, mas excelente. No começo, até pensei e concordei quando ouvi dizer que ele não era um filme para casais apaixonados. Mas pensando melhor, talvez seja. Talvez (e provavelmente) não agrade àqueles casaizinhos em começo de romance, quando tudo são flores. Mas não deixa de ser uma boa lição, para aqueles que tenham um bom discernimento (e por que não, sabedoria?), de saberem que tudo o que tem um início, tem um fim. E que quase sempre o fim vem carregado de drama. (Pode ser da morte de alguém, ou do próprio relacionamento.) E se isso não for suficiente para gostarem do filme, pelo menos fica outra lição. A de não confiarem tanto em títulos nacionais.

Trailer:



Para saber mais: crítica no Omelete.