Admito que eu só soube disso há pouco tempo, quando vi os prêmios da promoção do blog 3 x 30 - Solteira, Casada, Divorciada (ainda dá tempo de fazer um texto e participar). Voltando ao livro, eu o comprei mesmo porque:
1. Estava em promoção (meu bolso é fator importantíssimo!)
2. Adorei a capa
3. Li uns trechos e gostei do jeito ágil do livro.
O livro, assinado por duas autoras (Evelyn Holst/Sabine Reichel, provavelmente alemãs), é composto pela troca de emails entre duas amigas: Ana, mais velha, foi casada duas vezes, mas não parece levar muito jeito pra isso; e Sílvia, casada, dois filhos, mas cujo casamento não anda lá essas coisas.
Ao longo do livro, que retrata mais ou menos um ano na vida das duas, elas contam de tudo, de família, amores, relacionamentos, traições, carreira, dinheiro... Imagine que você pudesse ler o email de duas grandes amigas (e de certo modo, bem faladeiras). Pois é, você já sabe como é o livro.
A escrita é leve e rápida, assim como os emails de verdade. Mas nem por isso os assuntos são abordados de maneira leviana. Acontece de tudo, inclusive brigas, é claro.
De modo geral, eu gostei de ler o livro. Não é nada revolucionário, mas é um divertimento leve pra desanuviar a cabeça. Com capítulos curtos (ou seja, cada email), é ideal pra aqueles momentos em que a gente quer dar um temp na realidade, mas sabe que não tem muito tempo.
Abaixo, alguns trechos/citações que eu separei (os grifos são por minha conta):
Como se fosse conversa de banheiro:
Ana,
Sobre a selva Amazônica. Meu ginecologista me contou hoje que reconhece a idade das pacientes pelo formato dos pelos púbicos. Depois dos 40 é um arbusto denso e selvagem, antes dos 40, um triângulo cuidadosamente depilado. Fui correndo pra casa e tentei rejuvenescer através da depilação. Agora lá embaixo ficou com cara de espanador selvagem...
Silvinha.
***
Oi, Sil,
Sei, sei, você andou indo ao médico... Ele pelo menos é atraente? Dizem as más línguas que um ginecologista é como um mecânico que nunca possuiu um carro...
Aliás, aos 30 e poucos anos eu depilei um coração lá embaixo para o Dia dos Namorados. O garoto se empolgou, mas aquilo coçava e me pinicava tanto que precisei deslocar para outras partes do corpo minha capacidade de surpreender o moço. Se levássemos em conta as estatísticas sobre o que os homens preferem, valeria ainda: lost in the jungle...
Beijos, a indiazinha.
***
Olá, Aninha,
Sorte que os meus pelos púbicos ainda não estão grisalhos, rs. Parece que a mulherada tinge tudo, se bobear fica laranja-fosforecente. Será que os homens se estressam tanto com isso? Acho que não, ou você conhece algum com os pentelhos tingidos? Hein?
A pesquisadora.
Reflexões sobre casamentos e relacionamentos:
Ah, Sílvia,
Você acha que um homem em casa dispensa o vibrador? Sempre falo dos sentimentos "clássicos", como saudade de intimidade, uma sensação de pertencimento. Por isso sinto sim, às vezes, falta de um homem em casa, que simplesmente esteja ao meu lado e ali fique. No entanto, tenho um problema com o casamento em si, você sabe. Já passei por isso. E não gostaria de me submeter a essa situação novamente. Não faltaram casinhos, ainda que mais esporádicos nos últimos três anos. Tomar café na cama e transar sobre migalhas de pão, ler jornal ou cozinhar juntos, ganhar massagens e flores, dar amassos no cinema etc., são coisas das quais tenho saudade. Ahhh. Mas tudo isso se consegue também sem casamento, com um amante atencioso, que aparece só uma ou duas vezes por semana. Sinceramente, são os maridos que comparecem raramente. Uma coisa é certa – sabe, algumas verdades são banais –, você se esforça mais quando nem tudo está garantido, e a rotina é o fim da empolgação e do sexo quente. Você conhece tudo isso. E sabe também que há mais divórcio do que nunca... você não fantasia sobre o divórcio, assim como eu fantasio sobre parceiros? Talvez não seja uma pergunta apropriada...
Um grande abraço, Ana.
Reclamando sobre como os homens são eternos meninos crescidos:
Linda Sílvia,
Sério! Só crianças podem comportar-se assim. Isso me espanta. Sempre esquecemos como os homens são frágeis, medrosos e inseguros, como regridem e se reduzem rapidamente a meninos pendurados na barra da saia da mãe (e talvez também nos peitos dela!). É aí que está enterrado o mistério do poder feminino. Acho desonesto e nojento firmar-se na vida por meio da manipulação dos homens, processo que, inconscientemente, nos transforma na figura materna.
(...)
Sobre estética, beleza e força femininas:
Olá, Sílvia,
Essa coisa de fazer lipo é perversa. Pratique esporte, gente! Nos Estados Unidos vi muitos anúncios de jornal sobre rejuvenescimento vaginal, e as pessoas se perguntavam se alguma mulher realmente chegou a ir ao consultório de algum cirurgião plástico e descreveu alegremente a seguinte situação: "Meus grandes lábios estão meio caídos, quero reconquistar aquele biquinho jovial que eu amava e que fazia tanto sucesso". Fico imaginando como seria a conversa de dois homens num bar: "Cara, saí com uma mulher linda, supersexy, ela tinha 40 e poucos, mas a boceta era menor de idade! Uma viagem!" hehe.
As mulheres têm problemas. Essa mutilação precisa acabar. Acho muito mais bacana o jeito como uma amiga está lidando com o câncer de mama. Acabei de visitá-la em Frankfurt. Já faz dois anos que retiraram um de seus seios. Ela me contou que, há três semanas, entrou no mar de topless. "Se eu consigo suportar, os outros também conseguem." Achei superforte, maravilhoso, acho que foi Ingeborg Bachmann, também uma mulher difícil, quem disse: "A verdade é exigente". Aos 55 anos, minha amiga também não está a fim de "reconstruir" o seio, sei lá como se chama isso. Seria, literalmente, um peito falso. O que você faria no lugar dela?
Beijos, Ana.
Sobre segurança e rachaduras na alma:
Sim, Ana,
Sou assim mesmo. Gosto da segurança e aceito seu rótulo de "apressada dona de casa". Não acho tão grave!
Mulher do lar.
***
Oi Sílvia,
É um fato incontestável: não existe segurança. Em lugar nenhum. Particular, global, política ou socialmente. Ponto. Muita gente constrói sua vida com esse fato ilusório na cabeça e acredita estar salvando assim seus ideais. Todos temos rachaduras na alma e manchas no coração, eu, você, seu marido, nossos pais, meus namorados.
(...)
Sobre momentos de separação do casal:
Olá, durona na medida certa,
A vida é trivial como uma revista de fofoca. O homem é expulso de casa, faz a mala e bate na porta da amante. Que famoso já não fez isso? Onde ele se meteu agora?
Hum, queria expulsar um homem uma vez, deve fazer bem, não? É muito perverso da minha parte? Tenho um novo lema para você dizer ao seu próximo namorado: "Se quiser café na cama, durma na cozinha!"
Hehe, Ana. =P
Sobre a morte de um pai:
Oi, Sílvia,
Obrigada pelas lindas flores! Não era mesmo para eu viajar. Não dá pra descrever o que se sente com a morte do pai. Ainda que ele seja velhinho e já "possa" morrer. Quando acontece, você fica sem ar. De repente a pessoa desaparece, simplesmente some, e nunca mais vai voltar. Uma pessoa que estava sempre por perto e que pertencia à sua vida, como um lábio carnudo, um dedinho do pé torto e uma pinta no pescoço, fora todas as outras coisas que você herdou dela. Você percebe que algo insubstituível foi tirado de você, a presença física da pessoa que te concebeu e que te criou. Acho que o próximo passo é conseguir me lembrar dele e imortalizá-lo no nível espiritual. Sempre haverá pessoas com você nesse caminho, suponho. Tive que esvaziar o apartamento dele, e foi uma viagem. Tocante, íntima e um pouco misteriosa, como se você estivesse à procura de algum segredo. Ele gostava de usar gorros, e quando vi sua boina xadrez ali jogada, caí em prantos. Mas aí coloquei-a na cabeça a ataquei o armário e dobrei suas camisas xadrez – outra mania dele, frequentemente combinada com calças listradas – tão minuciosamente quanto uma vendedora da butique Christian Dior. Vesti uma delas. Estranho, tive a necessidade de entornar em mim, de encostar em mim tudo o que ele usou, tocou, vestiu, um comportamento infantil ancestral, acho eu. De repente senti falta de um ritual primitivo e quis incendiar o quarto, ou pintá-lo de verde, ou pintar-me de várias cores, bater uns tambores e fazer uma dança selvagem. Mas essas coisas não são permitidas na nossa sociedade. Em vez disso se diz "meus pêsames". Essa palavra estranha me faz pensar em pêssegos e numa feira colorida. Além das fotos, peguei ainda seu roupão, uma latinha de creme Nívea, sua velha bengala de bambu, um antiquado cachecol de algodão, os suspensórios vermelhos e uma caixa de cartas, entre elas um velho cartão de dia dos pais que eu desenhei aos 6 anos de idade. E me espantei com tamanho apego...
Até logo, graças a Deus.
Ana.
3 comentários:
nossa, deve dar moh trabalho pra fazer um post desses, cheio de detalhes e tudo mais..
aah t.hanks pelos parabens n_n
O problema de quando você escreve sobre livros é que eu estou sem grana nenhuma e eu quero ler todos eles...
=//
Mais um que entra pra lista.
Beijos e boa sorte.
;]
Opa, adorei!
Esse eu ainda não conhecia. Depois da indicação, vou procurar na livraria, e certamente olharei com outros olhos...
Obrigada pela dica!
Beijoca.
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