2010-04-29

Filme: As Melhores Coisas do Mundo

Semana passada assisti o filme As Melhores Coisas do Mundo. Filme nacional, da diretora Laís Bodanzky. Excelente!

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O filme trata da adolescência nos dias atuais, e o faz por meio do protagonista Mano (apelido para Hermano), vivido brilhantemente pelo ator iniciante Francisco Miguez. Mano está naquela fase da adolescência, por volta dos 15 anos, em que o mundo adulta já se deslumbra à frente, mas o adolescente ainda não consegue encarar plenamente, iniciando o caminho do amadurecimento (ou não, visto que muito marmanjo por aí ainda é criança, mas estou divagando).

O retrato que o filme traz do típico adolescente classe média urbano, é fantástico. Sem suavizar, nem romantizar demais, o filme retrata muito bem o momento atual e os adolescentes neste período: não faltam cenas em que vemos a multidão de jovens todos com seus celulares, espalhando, de forma como os publicitários diriam, viral, as últimas fofocas da escola. E esse é outro ponto interessante e que ficou muito bem retratado, a escola como um microcosmos dos jovens. Um lugar que é uma mini sociedade quase fechada, sendo que o que importa mesmo, acontece lá dentro. Para os jovens (e muitos "adultos", diga-se de passagem), a vida é como a do sapo dentro do poço.

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Isso claro, pra não mencionar o óbvio que é retratar essa geração que já nasceu com um celular grudado na orelha, com a tecnologia no sangue e com um ritmo alucinado, sem se focar muito em nada, e que considera tudo (tudo mesmo) muito transitório, efêmero e principalmente, descartável. Outra coisa, que tem a ver com esse ritmo acelerado: estariam os adolescentes precoces, ou os adultos infantilizados? Esta é uma pergunta que me veio ao ver a festa de 15 anos de uma das meninas do colégio no filme. Bebida, cigarro, pegação... Mas divago novamente.

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O filme não tem exatamente uma trama amarrando todo o roteiro, a não ser a própria história de amadurecimento de Mano. E essa história, como a de todos nós, é composta por diversos episódios, que formam as várias subtramas no filme, que passam pelo(s) cyberbulling(s), o conflito e as agruras familiares, e claro, o sexo e o amor. Todas as subtramas são bem amarradas e concisas, quero dizer, se resolvem muito bem ao longo do filme, mesmo aquelas com pouco destaque, como por exemplo, a história da mãe de Mano (Denise Fraga, ótima), que é bem curta, mas com poucas cenas e diálogos, conseguem explicar muito a personagem e a situação vivida por ela.

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Outra das virtudes do roteiro de As Melhores Coisas do Mundo, feito pelo Luiz Bolognesi, foi a de não se prender ao material de base, uma série de livros de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto, mas estender o conteúdo com diversas conversas com adolescentes, os retratados na história. Com certeza valeu a pena, pois os diálogos soam totalmente verdadeiros, até mesmo as idiotices típicas adolescentes estão presentes, especialmente na boca de Deco, um dos amigos de Mano, ao passar umas cantadas furadas na Carol, única menina do grupinho deles.

E ainda falando de roteiro, são excelentes os usos que o roteirista deu para os blogs de alguns personagens e o caderninho de anotações (ou mais um diarinho) da Carol. De maneira natural e fluida, esses elementos servem para conhecermos mais os personagens e sabermos o que se passa na cabeça de cada um deles.

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Dentre várias cenas, destaco as que Mano e Carol conversam, dentro de um ônibus, no caminho de volta da escola. O cenário móvel pontua a velocidade dessa geração, enquanto os diálogos entre os dois têm um alto grau de confidencialidade, contrastando com o ambiente (geralmente cheio de gente) dos ônibus. Paradoxos da juventude, diria um senhor mais velho.

Neste contexto, a direção de arte do filme é excelente. Cada cenário é de um esmero gigante. Podemos ver isso no quarto do irmão de Mano, Pedro (interpretado por Fiuk, cuja pessoa, eu admito, ignorava completamente antes desse filme), ou na casa do professor de violão interpretado pelo Paulo Vilhena, em que o jeito despojado do personagem fica mais evidente com a arrumação meio largada de CDs e livros empilhados.

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E aproveitando o gancho, outro ponto forte de As Melhores Coisas do Mundo são as interpretações. Até mesmo o acima mencionado Vilhena ATUA no filme. É um papel pequeno, mas importante, na figura do mestre/guia na jornada do nosso "herói" Mano. A preparação dos atores foi excelente, e não se percebe que a maioria dos adolescentes ali não são atores profissionais. TODAS as interpretações estão excelentes.

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Um último ponto de destaque do filme é a música (e consequentemente, a trilha sonora). Além do comentado licenciamento de uma música dos Beattles, a música em si traz um simbolismo de crescimento para o personagem. É através dela que o mestre o ensina, pois a escolha de qual música tocar, é somente do personagem. E é aí que o caminho pra maturidade se apresenta: em escolhas. Em escolhas e suas consequências.

Enfim, As Melhores Coisas do Mundo é um filme excelente, que não é de gênero, mas sim, de personagens. Verossímeis e humanas (e jovens!). Pra mim, além de sexo e uma boa comida (e bebida!), bons filmes estão entre as melhores coisas do mundo. E este filme, com certeza, é um dos bons.

Trailer:



Para saber mais: Omelete, Cinema em Cena e site oficial.

3 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Andarilho você me deixou morta de curiosidade!

Sardinha Mestre disse...

é bom ver que o cinema nacional tbm produz filmes de qualidade... sei lá. Pow... cansado das mesmas coisas de sempre voltadas pra comédia ou pra favela.. as vezes um pouco de "modinha" assim posso dizer é bom pra alavancar o cine.

Ju ♥ disse...

gostei da história.