Na sessão cult da semana, fui ver o último filme do diretor Ang Lee, Aconteceu em Woodstock (ou Taking Woodstock no original). Fui assistir sem muitas expectativas, até porque não sou grande fã do diretor, mas me surpreendi.
Aconteceu em Woodstock conta a história do famoso festival sob um ponto de vista diferente. O festival, apesar de impulsionar a história, deixa o papel de protagonista para o jovem Elliot Teichberg (muito bem vivido por Demetri Martin), designer e pintor que teve uma passagem mal sucedida na cidade grande, e que volta ao interior para ajudar a cuidar do pequeno hotel de beira de estrada decadente dos pais, judeus e imigrantes russos.
Aliás, a cidade inteira se mostra decadente, já nos primeiros planos do filme. Contrastando com belas paisagens de verão e da natureza verde, vemos uma cidade envelhecida, que o diretor pontua não somente com as construções físicas, mas pela presença predominante de senhores e senhoras de idade, tanto no café/lanchonete da cidade, como na Câmara de Comércio. Câmara esta que é presidida pelo jovem Elliot, que pretendendo realizar um festival cultural local (pequeno e restrito), consegue uma permissão para realizar o seu festival.
Ao mesmo tempo, o festival que reuniria grandes nomes da música, o festival de Woodstock (que já estava previsto pra acontecer longe da cidade de mesmo nome), é "expulso" da cidade em que seria realizado, por medo dos moradores locais da invasão hippie que seria o festival. Nisto, Elliot com a sua permissão em mãos, contata os produtores do festival, e então vemos o velho hotel ser invadido pelos organizadores.
Mas, como já disse, esse filme não é sobre o festival, mas sobre como o festival mudou a vida de Elliot. Apesar de, no fundo ter um espírito livre e artístico (o que é acentuado pela trupe de artistas de teatro que Elliot deu abrigo no seu celeiro), ele é acanhado, de certa forma preso pelo conservadorismo dos pais, especialmente a mãe de Elliot, uma velha turrona e muquirana, que acaba servindo de alívio cômico e que rouba bastante a atenção numa atuação convincente.
Aliás, Ang Lee parece ter um dom para extrair de seus atores, atuações excelentes. O protagonista Martin está muito bem como Elliot, é visível como o personagem é ao mesmo tempo reprimido, mas se solta com alguns trejeitos de vez em quando, como se o que ele realmente é, estivesse querendo sair. E é mais ou menos essa a sua trajetória.
Destaque também para os pais de Elliot, vividos por Imelda Staunton e Henry Goodman. Já falei da mãe de Elliot, mas o pai dele também se mostra um personagem interessante: a princípio parece simplório, mas assim como Elliot ao longo da história, acabamos descobrindo que ele é mais do que aparenta (e mais do que o próprio Elliot pensa). A atuação está ótima, basta um olhar pra gente se dar conta do papel que o personagem do pai tem: a da velha geração, cansada, mas que espera e torce pela nova geração, os filhos.
E claro, não dá pra esquecer de mencionar Liev Schreiber (com um papel pequeno, mas notável) na pele de Vilma, uma mudança bastante radical desde o Dentes-de-Sabre. :)
Dizer que Aconteceu em Woodstock é perfeito é um exagero. Ele tem alguns problemas, alguns mais, outros menos graves. Mesmo que o foco esteja no personagem e não no festival, ainda assim é retratado o "making of" de Woodstock, o que obviamente envolveu muita gente. E, com tantos personagens assim, alguns arcos ficaram rasos e/ou abandonados. A má reação dos habitantes locais a invasão hippie, por exemplo, insinua-se em vários momentos, mas tem um desfecho pífio. A reação boa dos habitantes locais, simbolizado pelas duas velhinhas simpáticas, por exemplo, se resume a apenas isso, duas velhinhas que acabam reforçando o alívio cômico.
Essas pinceladas que o diretor dá em temas ligados a Woodstock, como o momento econômico (simbolizado pela reação dos habitantes locais, para o bem ou para o mal), ou o momento político (o amigo de Elliot, jovem veterano de guerra), poderiam deixar o filme mais profundo, mais reflexivo, mas essa claramente não é a intenção do diretor. O foco está em Elliot e no seu desenvolvimento pessoal. Mesmo quando num mar de gente, a câmera dá um jeito de manter a atenção em Elliot, sendo dividindo a tela, sendo nos mostrando o seu olhar.
Outro ponto negativo é, paradoxalmente, o próprio desenvolvimento do personagem Elliot. Ao gosto de Ang Lee, o seu desenvolvimento é bem lento, e é mais impulsionado pelo próprio Elliot do que por influências externas. Isso deixa a impressão de um desenvolvimento raso, mas prestando-se atenção, vemos que a semente já estava plantada, o que era preciso era de um pouco de água. E, assim como uma planta, o crescimento parece imperceptível, até nos darmos conta do crescimento.
Enfim, assim como o policial com o enfeite no capacete no filme, que depois de ver o que o festival era, mudou de opinião e não quis rachar a cabeça de nenhum hippie XD, eu também mudei a minha em relação a Ang Lee. Aconteceu em Woodstock não é de explodir a cabeça (ou os tímpanos) como a voz rouca de uma Janis Joplin mas sem dúvida, eu me surpreendi.
Trailer:
Para saber mais: Omelete e Cinema em Cena
3 comentários:
é, pelo q disse, acho q vale o ingresso, ainda mais se a grana não sair da minha carteira... :)
falando em woodstock, vai ter o woodstock esse ano aki no brasil... em itu... eu voooou
=oooo
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