Ano passado, fui numa exposição (bem pequena) aqui em Floripa, de alguns instrumentos de tortura medievais. Dentre vários instrumentos, estavam lá dois cintos de castidade, um masculino e um feminino.
Inspirado numa ideia em que cinto de castidade e strap-on se misturam, comecei a escrever um pequeno texto nas horas de folgas. Bem, o texto cresceu e cresceu, e hoje eu resolvi terminá-lo. Eis ele abaixo, em duas partes. (As fotos são da exposição, não posto todas aqui porque não era pra divulgar online, mas acho que só um pouquinho não faz mal.)
Cinto de castidade
I.
Era à primeira vista, apenas mais um cinto,
Como tantos outros naqueles dias obscuros.
Escondia a castidade para os outros do recinto,
Todo fechado, só com alguns pequenos furos.
Por eles, a pele respirava e os líquidos escorriam,
E esse era todo o contato com o exterior.
Os maridos, confiantes, ao longe se dirigiam,
Achando que preservavam o tesouro interior.
Era feito de ferro e couro, escuro e sombrio,
Enferrujado pelos sucos de suas donas passadas.
O ferro, ao contato com a pele feminina, era frio,
E não raro as deixavam todas arranhadas.
Mas aquele cinto, tendo sido de quem fora,
Carregava consigo uma talvez terrível maldição.
Quem o usava perdia a coordenação motora,
E ganhava um semblante feliz como uma benção.
Pois a mulher ou donzela que aquele cinto, vestia,
Se acabava em intermináveis gozos e orgasmos.
Os olhos reviravam, a pele suava e ela gemia,
Seu ventre parecia explodir entre os espasmos.
Toda noite, na hora em que a fêmea ia se deitar,
O cinto acordava e sua maldição era desperta.
Do cinto, um falo surgia a sua vagina esfregar,
Deixando-a molhada, sedenta e toda aberta.
Primeiro, parecia uma hábil língua, aquele falo,
Lambendo e chupando, em volta e no botão.
Depois do primeiro gozo, penetrava até o talo,
E até sentia-se em suas veias, sua pulsação.
Donzelas perdiam seu título, mas extasiadas,
Suadas e ofegantes, pediam por mais e mais.
Damas da sociedade se deleitavam saciadas,
Depois da explosão de gozo, dormiam em paz.
II.
A história deste amaldiçoado cinto de castidade
Se perdera há muito, entre lendas e superstições.
Conta-se que nasceu numa pequena cidade,
De um ferreiro manco e ciumento que tinha visões.
Em suas visões, via sua bela esposa formosa,
Entre braços e em outros membros alheios.
Não importava se ela era, com ele, amorosa,
As visões sempre acertavam o ciúme em cheio.
Um dia, já desequilibrado e totalmente em fúria,
Trabalhou dias e dias para construir o tal cinto.
Espancando a mulher, a colocou em tal penúria,
Enquanto ria num tom demoníaco muito distinto.
A esposa, que na verdade era uma mulher pura,
Diante de tantos maltratos, morreu em agonia.
Dizem que o ferreiro louco nem viu sua sepultura,
Apenas segurava o cinto demoníaco, e ria e ria.
O ferreiro louco logo depois acabou morrendo,
Em circunstâncias nada naturais e medonhas.
Mas antes de partir, disse, podre e gemendo,
Que seu trabalho não deixaria caras tristonhas.
O trabalho amaldiçoado teria um fim certo,
Jogado no fogo purificador de algum sacerdote,
Se não fosse por um ganancioso ou esperto,
Que roubou o cinto, perdido entre vários pacotes.
Por quem o cinto de castidade andou desde então,
Permanece entre lendas, superstições e fofocas.
Passado por amigos-inimigos, de mão em mão,
Como um presente gentil para os maridos bobocas.
Hoje em dia, este cinto de castidade se perdeu,
Até as lembranças de gozos há muito se esvaíram.
O seu prazer era de nobres, ricos e plebeus,
E de mulheres castas que gozavam, mas não traíram.
(Só de olhar, dói.)
3 comentários:
Andarilho muiiiiiiiiiiiito legal!
Já tinha ouvido falar, nunca estudei muito sobre o assunto, mas, a forma que você abordou ficou muito legal. E cá entre nós, esse cinto feminino tinha que ter alguma recompensa né?kkkk tinha que ter alguns prazeres tendo em vista o sacrifício! kkkk
Parabéns!
bjs
dói meeeeeesmo.
Muito bom o texto... mas vamos combinar q realmente, esses cintos só de olhar já doem... rsss
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