"Tenho um chefe que me diz 'se vire'. Ele não deveria treinar os funcionários?" - by Max Gehringer

Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 24/05/2010, sobre quando os chefes dizem 'se vire'.

Áudio original disponível no site da CBN (link aqui). E se você quiser ler os comentários anteriores do Max Gehringer, publicados aqui, basta clicar neste link.

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"Tenho um chefe que me diz 'se vire'. Ele não deveria treinar os funcionários?"


"Tenho um chefe muito mal educado que me diz 'se vire' quando eu levo algum problema a ele. Não faz parte da função do chefe treinar e desenvolver seus subordinados?", pergunta uma ouvinte.

Faz, sem dúvida. Mas isso me lembra de um momento angustiante que eu vivi na carreira. Até então eu só havia trabalhado em empresas nacionais. E de repente surgiu uma oportunidade de entrar numa multinacional. Tudo bem, tudo ótimo, se não fosse por um probleminha. O último estágio do processo seria uma entrevista com o diretor da matriz da empresa, que não falava português. E eu não falava mais que dez palavras em inglês.

Coloquei essa situação para o presidente da empresa no Brasil, imaginando que ele me livraria da entrevista. Ele me ouviu e me recomendou: esforce-se. Como assim?, eu pensei. A entrevista seria na manhã do dia seguinte. Como é que alguém vai aprender inglês, em 12 horas, por mais esforçado que seja? Mas o presidente nem quis ouvir meus argumentos. No dia seguinte, eu levei para a entrevista um bloco de papel e uma caneta. E tentei me comunicar através de desenhos e de mímica. Para minha surpresa, fui aprovado.

Daí em diante, toda vez que um chefe me dizia esforce-se, ou problema seu, ou se vire, eu encarava isso como uma demonstração de confiança, e não como uma maneira do chefe tentar se eximir da responsabilidade.

É claro que eu também teria preferido que meus chefes me explicassem as coisas, bem direitinho. E que não me falassem "se vire", até porque eles deveriam ter aprendido no segundo ano do ensino fundamental, que não se deve iniciar uma frase com um pronome pessoal do caso oblíquo.

Mas como nenhum chefe é perfeito, eu gostava mais daqueles que me passavam confiança para que eu pudesse resolver um problema, do que daqueles que não me davam liberdade para eu me virar.

Dito isso, eu concordo com a nossa ouvinte. Todos os chefes deveriam ser civilizados, educados e educadores. Devemos sempre repetir que esse é o caminho para a humanização do ambiente de trabalho. Mas, enquanto não tivermos todos os chefes assim, o remédio é a gente ir se virando com o que tem.

Max Gehringer, para CBN.