Antes de mais nada, deixo claro que não li as obras literárias de Érico Veríssimo, tampouco assisti às adaptações televisivas, portanto, este texto se foca apenas no filme O Tempo e o Vento de 2013. E o resultado, adianto, é pouco animador.
Dirigido por Jayme Monjardim, mais acostumado à linguagem televisiva, O Tempo e o Vento nos conta a história da família Terra-Cambará num período que compreende três gerações e que está intimamente ligada a história do Rio Grande do Sul. A narrativa se desenvolve a partir de um grande flashback na qual Bibiana (Fernanda Montenegro) relembra a história de sua família ao conversar com o fantasma de seu marido capitão Rodrigo (Thiago Lacerda). A grandiosidade da história acaba sendo o maior problema do filme, que conta muita coisa de maneira rápida e com a profundidade de um pires. Narrativamente, essa saga gaúcha seria melhor contada numa série ou em uma trilogia de filmes (o que, desconfio pelas notícias de espectadores/arrecadação, não sairia do papel).
Tirando a personagem de Cléo Pires e Thiago Lacerda, os personagens são pouco desenvolvidos. Mesmo Bibiana, que é interpretada magistralmente por Fernanda Montenegro e por Marjorie Estiano (linda como sempre!), se mostra um pouco desinteressante, já que apenas vemos de relance partes de sua história, sem aprofundamentos (nem mesmo a morte da sua filha é bem explorada, focando quase sempre no personagem do Capitão Rodrigo, interpretado por Lacerda). Outro problema é a opção por se usar vários atores diferentes ao retratar os personagens em diferentes épocas de suas vidas: mal há tempo de nos acostumarmos com os rostos dos personagens e eles já mudam, o que em certos momentos me incomodou, devido a confusão que isso gera. Sei que a opção por se usar maquiagem é mais complicada e possivelmente mais onerosa, mas de qualquer maneira, é um ponto negativo do filme.
As próprias interpretações variam bastante. Inquestionavelmente Fernanda Montenegro é a melhor coisa de O Tempo e o Vento, com uma atuação digna de quaisquer prêmios imagináveis. Thiago Lacerda também cumpre bem o seu papel, apesar de ter momentos em que o personagem parece caricato demais. Cléo Pires entrega uma interpretação inconstante: não convence bem como uma mulher que se apaixona, mas a partir do momento em que torna a coisa física, ela se sai melhor. Suas nuances não convencem, mas quando o peso dramático exige ações mais grandiosas, ela se sai muito bem. E não poderia deixar de citar que ela filma uma das cenas mais sexy que já vi em filmes brasileiros, envolvendo um banho ao ar livre (se fosse passada a cena nos tempos atuais, seria um banho de chuveirinho). Já Marjorie Estiano sofre com o roteiro, que não lhe abre muito espaço, a não ser para se mostrar como a heroína bonitinha.
O Tempo e o Vento tem uma fotografia muito bonita, apesar de um certo exagero nos planos abertos, que servem apenas para mostrar a paisagem gaúcha e servir como um "intervalo". Apesar disso, gosto bastante desses planos em contraluz, com as silhuetas dos personagens, apesar de achar que o diretor os use com um pouco de exagero.
Com um caráter episódico, o roteiro, escrito por Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski, até tenta ilustrar o simbolismo de certos elementos que se mantém constantes com o passar do tempo, como a adaga e a tesoura que atravessam gerações. É, entretanto, algo pouco sutil, especialmente na maneira que Monjardim foca essas peças, com closes constantes nelas. Vício de uma narrativa televisiva, certamente.
Pesando seus prós e contras, O Tempo e o Vento não é um filme ruim, mas também não anima muito. Não fosse pela atuação de Fernanda Montenegro, eu diria que é um filme medíocre. A impressão final é a de uma mini-série condensada, no estilo das produção da Globo (algo que começou, se não me engano, com O Auto da Compadecida, de Guel Arraes). O povo gaúcho, tão orgulhoso de sua história e tradições, pode até lotar algumas sessões do filme, mas não verão algo que faça jus a elas. Ou ao orgulho de que sentem delas.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
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