2011-08-16

Filme: Todo mundo tem problemas sexuais

Baseado na peça teatral de mesmo nome, o filme Todo mundo tem problemas sexuais já começa com um aviso (que pode soar até como uma desculpa, dependendo do seu ponto de vista): a de que as suas origens teatrais não seriam esquecidas. Eu acrescentaria que não só não foram esquecidas, mas até mesmo exacerbadas. Porque Todo mundo tem problemas sexuais é quase como uma filmagem de uma montagem da peça, usando no cinema a linguagem do teatro. E isso não é nenhum elogio (e também não é um desmerecimento à linguagem teatral).

filme todo mundo tem problemas sexuais poster cartaz

Todo mundo tem problemas sexuais, a peça (e consequentemente o filme que se seguiu), foi baseada em cartas endereçadas ao terapeuta Alberto Goldin (que as publicara numa coluna de jornal), relatando alguns problemas (ou apenas desabafos) sexuais de seus autores. Deste material, foram feitas cinco pequenas histórias, esquetes, sem interligação entre si, fora o fato de versarem sobre assuntos calientes, claro. Temos a história do rapaz que conhece mulher e que falha na cama e acaba pedindo ajuda à pílula azul (Viagra, não aquela que o Morpheus oferece com a vermelha), a história do casal sexualmente travado que descobre as delícias da perversão depois de certo incidente com o chefe porco, a história de um encontro literalmente às escuras via Internet, a história do atendente de farmácia querendo traçar a colega, e finalmente, a história do rapaz todo travado que vai se descobrindo sexualmente com a ajuda da parceira, (quase) totalmente liberal.

Todo mundo tem problemas sexuais, o filme, é mais uma experiência artística-teatral do que um filme de cinema, propriamente dito. Assim, não basta o diretor Domingos Oliveira ter nos dito, logo no início do filme, que este honraria suas origens teatrais. Durante todo o filme, as cenas do universo do filme propriamente dito são intercaladas com filmagens de algumas montagens da peça em diversos teatros. Assim, além de não se adaptar à linguagem cinematográfica por completo, o filme nos relembra constantemente que é uma experiência teatral. Mesmo nos momentos em que a cena é "do filme", a câmera se comporta como se fosse um espectador de teatro, como por exemplo, no plano externo em que a atriz Priscilla Rozenbaum corre pelas ruas e claramente não há outros atores ali, com transeuntes encarando frequentemente a câmera.

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A ideia é uma faca de dois gumes. Por um lado, não aproveita o que de melhor há no cinema: a imersão. Não bastassem as características inerentes a adaptações teatrais no cinema (tais como a existência de poucos cenários, quase sempre estáticos, ou então a estrutura que privilegia somente os diálogos) que não aproveitam todo o potencial da linguagem cinematográfica, as inserções das filmagens da peça no teatro tiram completamente o espectador dentro do universo que ali se apresenta. Assim, mesmo que alguns personagens sejam fascinantes, a identificação com eles é ínfima.

Por outro lado, talvez esta tenha sido mesmo a intenção, pois é muito mais fácil rir da situação dos outros do que uma situação nossa. E a estrutura de peça teatral facilita isso. E repare ainda que as inserções das filmagens no teatro induzem mais ainda ao riso do que somente o texto do diálogo, devido ao riso da plateia. Sim, é o mesmo velho truque usado por tantos programas e séries humorísticas, a de colocar aquelas risadas de fundo para "motivar" o riso do espectador. Um truque um tanto pedante, pelo menos no cinema, o que irrita um pouco a quem está esperando um filme e não uma encenação teatral ou mesmo uma esquete de Zorra Total ou Praça é Nossa.

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Felizmente, o texto é um pouco melhor do que o desses programas. Claro, não sendo amarrado a restrições de classificação etária e/ou de pudor televisivo, o humor consegue fluir melhor. Mesmo assim, é um humor rasteiro, de papo de bar, mas nem por isso menos engraçado. E quanto à questão sexual, Todo mundo tem problemas sexuais pode ter problemas como filme, mas pudor ou vergonha não estão entre eles. E esse é um aspecto positivo do filme, o de explorar temas possivelmente tabus, sem muitos preconceitos, mas de maneira cômica.

O que mais se sobressai em Todo mundo tem problemas sexuais é a performance de Pedro Cardoso. Protagonizando quase todas as histórias, o talento de comediante do ator é explorada ao máximo, e ele não sei sai mal, mesmo que todos os personagens que interpreta sejam, de certa maneira, facetas da sua imagem criada ao longo da carreira. Entretanto, isso não significa que os outros atores, os mesmos da peça original, não entreguem boas atuações, ao contrário. Pena mesmo que entre eles, somente o nome de Cláudia Abreu se destaque (por causa da sua exposição em trabalhos na rede do seu Marinho), mesmo que o trabalho de Priscilla Rozenbaum, Paloma Riani, Orã Figueiredo e Ricardo Kosovski estejam no mesmo nível.

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Se fosse apenas uma gravação de uma apresentação no teatro, Todo mundo tem problemas sexuais seria OK. Entretanto, ao se pretender fazer cinema, o filme tem vários problemas. Além da montagem intercalando filmagem e teatro prejudicar a imersão no filme, e consequentemente, o ritmo, a fotografia exibe traços confusos, como se fosse uma experimentação sem um objetivo claro. Só assim para explicar porque em determinados momentos, alguns atores surgem em preto e branco enquanto o resto fica colorido (e mesmo tecnicamente, esse efeito falha, ao fazer com que ao se mexer e sair um pouco do lugar, um pedaço do ator fique colorido).

Enfim, Todo mundo tem problemas sexuais é um filme que falha em sua pretensão de fazer cinema. (E não me digam que a pretensão não era fazer cinema, porque se assim o fosse, bastava ter gravado uma apresentação da peça.) Entretanto, graças ao bom texto e interpretações, se salva como comédia. E mesmo que eu seja um grande fã de cinema e nem tanto assim de teatro, neste caso, eu acho que assistir no teatro teria sido melhor. Mas mesmo assim, ri bastante.

Trailer:


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