Pode até ser que eu estivesse com o organismo desregulado por algum motivo alheio a minha consciência, mas ao assistir o filme Além da Estrada (no original Por El Camino), quase dormi algumas vezes. Sabe quando você está lá, sentado num carro ou ônibus na estrada e dá aquele sono irresistível? Pois é isso mesmo o que senti.
Além da Estrada nos apresenta Santiago (Esteban Feune de Colombi), jovem argentino que vai ao Uruguai verificar uma propriedade deixada por seus pais, mortos há alguns anos. No caminho para a propriedade, ele oferece carona a Juliette (Jill Mulleady), jovem belga que fora ao Uruguai para reencontrar um homem que conhecera anteriormente. Então os dois partem nessa jornada tão familiar ao gênero de road movies (aqueles em que os personagens passam a maior parte do filme viajando pela estrada), onde o destino não é tão importante assim, mas as transformações que acontecem na jornada. E claro, com um casal como protagonista, um romance é quase certo.
O filme é por natureza multinacional. Dirigido e escrito pelo brasileiro Charly Braun (!?), o filme se passa no Uruguai e é uma produção Brasil/Uruguai. Além de contar com o protagonista argentino (assim como seu ator) e a protagonista belga (atriz de nacionalidade uruguaia/suiça). E não posso esquecer que os protagonistas conversam em inglês!
Além da Estrada assume um ar documental ao ser filmado quase todo com a câmera na mão. Além disso, as figuras que Santiago e Juliette encontram pelo caminho eram pessoas reais (não atores), representando a si mesmas e falando aos protagonistas o que essencialmente diriam a qualquer viajante que por ali caísse. De fato, o ar documental também assume um ar de diário de viagem, ao intercalar imagens mais granuladas que teriam sido filmadas pelo protagonista com os planos em que mostra as paisagens por onde ele passa.
Com tudo isso, Além da Estrada parece que não teve realmente um roteiro, mas sim apenas um esqueleto de história, onde os vãos foram sendo preenchidos com o que se encontrasse pela estrada. Isso até rende algumas boas cenas, como quando um cachorro cai numa piscina que não consegue sair e Santiago o retira dali. Aliás, Braun deve ser fã de cachorros, pois vira e mexe ele enquadra um em sua câmera. Momentos fofo cuti cuti.
O filme tem momentos excelentes e destaco dois: no começo, quando Santiago está procurando pela escritura de seu terreno e ele enfrenta um "mar de Sargaços" de papel para encontrar (tendo o rio da Prata como fundo), o que é um simbolismo interessante - premeditado ou não - para o estado de sem rumo de qualquer protagonista de road movie. E o outro momento, que até aparece no trailer, onde Santiago e Juliette estão numa ponte inacabada e ela pergunta se aquilo é o futuro, ou seja, o futuro ainda está para ser construído.
Apesar disso, no geral, Além da Estrada é um tanto monótono (o que foi a causa provável de eu ter quase dormido). A sensação é de que o diretor está mais preocupado em retratar o país do que a jornada pela qual os protagonistas passam. E isso pode ser notado com intercalação de "imagens de guia turistíco" de Punta del Este, por exemplo, com as imagens de aridez e simplicidade que retratam o interiorzão daquele país. Pode até ser novidade para quem reside em grandes centros, mas pra quem viaja ou já viajou pelo interior do Brasil, a sensação é de que o mundo é muito pequeno e por todo lugar, as pessoas são basicamente iguais.
Em suma, Além da Estrada até tem seus bons momentos. Mas como qualquer viagem de carro que se faça, tem momentos em que a sucessão de paisagens e o papo furado agem como um sonífero.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Cinema em Cena e no Omelete, além do site oficial.
P.S. Parabéns para quem montou o trailer. Quando o vi, pensei comigo mesmo "tenho que ver esse filme". Depois de ter visto o filme, vejo que o trailer já me mostrou tudo de bom do filme...
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