Que todos os hábitos de uma pessoa morrem com ela, isso é mais do que óbvio. Mas me refiro a pessoas que continuam vivas, mas que têm certos hábitos que acabam morrendo.
De certo que alguns hábitos já arraigados podem ser mudados, apesar de que o esforço empreendido para tal, costume ser imenso. Mas venho falar de outros velhos hábitos, que parecem existir desde sempre, e que de uma hora para outra, se vão. Assim como as pessoas.
Quando eu estudava em Maringá, morava num pequeno prédio muito bem localizado, de frente pra um supermercado (Condor, que saudades da marmita de lá!) e que tinha na esquina, uma banca de jornal. Essa banca não era grande, mas também não era pequena. Era do tamanho certo para caber nela, tudo o que eu regularmente comprava: aos domingos, às vezes, o jornal da cidade, além de semanalmente ir ver quais revistas (gibis e mangás inclusos), do meu gosto, tinham chegado.
(Imagem meramente ilustrativa)
Eu sempre ia nesta banca. Com o tempo, quase que diariamente eu passava por ela. Tanto pela localização, quanto pelo jornaleiro, um senhor já de idade, cabelos brancos, bem como o bigode crescido e branquinho, muito simpático. Conforme o tempo passou, já sabia de todas as revistas que eu comprava, e sempre que eu passava por lá, me dizia se o exemplar havia chegado ou não.
Era uma banca até bem movimentada. Havia um banco de madeira na frente da banca, e como era embaixo de uma árvore, o clima era sempre muito agradável. Geralmente havia por ali alguns funcionários do supermercado no momento de folga, ou então alguns outros velhinhos, amigos do jornaleiro, batendo um papo. E de vez em quando, quando não havia outras pessoas pela banca, eu também conversava com o senhor jornaleiro. Nada profundo, nada demais, conversinhas corriqueiras, banalidades.
Se tornou um hábito passar pela banca, quase todo dia, já que era praticamente caminho pra chegar em casa.
E um determinado dia, dia de semana, a banca estava fechada. Não dei muita bola, já a havia encontrado fechada antes, devido a uma viagem ou doença do jornaleiro. No dia seguinte, também estava fechada, mas desta vez, havia um papel colado na porta metálica. No papel, apenas a informação que a banca estava fechada por motivo de luto.
Sim, o velho jornaleiro, o senhorzinho simpático e bigodudo havia morrido. Fiquei sabendo disso alguns dias depois, quando a banca reabriu e um jovem, filho ou sobrinho (não lembro bem) do antigo proprietário, estava ali atendendo.
Depois disso, nunca mais frequentei a banca como antes. Sem dúvida passava por lá, mas aquele velho hábito de quase todo dia dar uma olhada nas novidades, se foi. Junto com o velho jornaleiro, cujo nome não lembro (e nem lembro se algum dia eu soube), mas cuja imagem, de vez em quando, me volta como se fosse ontem.
E por que raios eu fui lembrar disso justo hoje? Porque este mês se comemora o dia do jornaleiro (próximo dia 30), e lendo um post sobre isso, me lembrei do velho jornaleiro bigodudo (tenho certas suspeitas de que ele devia ser avô do Mário e do Luigi). =P
12 comentários:
O final tu chuta o balde, rs..
Pois é... essa coisa de banca e habitos, passam com o tempo.
Incrível como a gente cria laços afetivos com coisa tão minimas, detalhes. Simplismente, a banca de jornal não era mais a mesma depois que o velhinho morreu, até porque ele já sabia tudo o que você comprava e até tinha criado um laço de amizade boba (daquelas que a gente faz quando compra pão na mesma padaria com a mesma atendente a vida toda...).
Bjo
o velhinho parece o papai noel, segundo a sua descrição... ou o gepeto..
nao sei se lembro da banca.. ficava na frente do ponto de taxi?? so lembro do ponto de taxi porque a erica dizia que quando ia pro condor comprar seus camarões, ela voltava de taxi pra casa dela pra nao ter que carregar sacolas... XD
Eu me lembro da banca, mas não lembro de parar para olhar as revistas. Pois é, eu não era viciado em mangás e animes ainda!!!
A banca ficava na esquina de cima, os taxis ficavam no meio da avenida, mais pra baixo.
Boa e saudosa av parana
eu tmb tenho umas manias q são automaticamente atribuídas a alguém e já passei por isso de deixar de fazer coisas como antes pq fulano não estava mais lá, é esquisito.
Ahhhhh puxa! só consegui ver agora!!!!
adorei o post. Muitíssimo, no superlativo mesmo.
ahh essas coisas que inspiram escrever e a ler...
muito bom o texto (chega, vixi, já elogiei demais! hahaha)
beijo grande! do tamanho da minha felicidade em ler esse texto.
E a senhorita, arranja cada nick, hein?
=)
é preciso renovar a minha identidade secreta...rs..rs.rs..
muitos beijos
Gostei muito do texto.
Você já observou que as pessoas sempre deixam as suas digitais em tudo o que fazem. São pequeninas coisas que sempre nos fazem lembrar delas, e, no momento que elas partem, levam com elas, ficando somente a lembrança em nossos corações. E ainda dizem que as pessoas são substituíveis...
A Banca ainda existe, no mesmo local mas não sei quem está cuidando dela agora só sei que está lá em frente ao Condor do mesmo jeito que era na época do velhinho, que ano foi isso? digo a morte dele.
Não me lembro, mas foi antes de 2004.
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